São Paulo na passagem aos cristãos de Tessalónica (1(Tes 4,1-8) dirige-se a todos e não apenas a uns tantos selecionados, isto é, a pessoas que passaram por um tempo de catequese, ou seja de “aprendizagem” de comportamentos que “agradam a Deus” e que já dão testemunho deles nas suas vidas. Pelos seus comportamentos mostram-se irmãos, isto é, irmanados no mesmo estilo de vida. É o que lemos no v.1. Paulo está pois, perante uma verdadeira comunidade de pessoas que vivem da fé e não uns indivíduos que apenas aproveitam da fé aquilo que mais lhe agrada ou que apenas consomem os artigos consoante a necessidade do momento. Não lhes chamaria certamente irmãos, se não os conhecesse e os não visse profundamente ligados ao anúncio da Boa Nova e às implicações no quotidiano da vida por ele mesmo proclamadas, como se vê no v.2. e exemplificadas nos v. 4 e seguintes.
Mas há um outro aspecto que Paulo lembra a esta comunidade, a estes “irmãos” que tentam viver à maneira de Cristo. Ele sabe bem que a rotina, a instalação é um virús que ataca a vida de todos. Quantos deles terão talvez começado muito bem, embalaram na simpatia das palavras dos outros irmãos, mas quando viram que era preciso fazer certos cortes nas relações com as pessoas e com os bens, encolheram-se ou fizeram vista grossa, como se isso não tivesse a ver com eles. É por isso que ele levanta a voz para os exortar, para os chamar à verdade deste modo: “Rogamo-vos e exortamo-nos no Senhor Jesus que progridais sempre mais”.
Ser cristão é, pois, não só começar a entusiasmar-se pelo modo de viver de Jesus, mas é entrar num processo que não cessa mais. Cristo é o modelo acabado, que em cada dia traz novas propostas para chegarmos a uma identificação com Ele, a uma conformidade com o seu viver e o seu pensar. Há um texto do Evangelho de São Mateus que diz de maneira diferente esta mesma necessidade de não parar na vida. Estais a ver como o modelo proposto puxa mesmo pela nossa vida? Não se trata de imitar um artista de cinema ou de televisão, todos eles com pé de barro, mas o próprio Pai do Céu. Ele é perfeito no seu amor: tanto ama uns como outros. Não contam as feições do rosto, os bons serviços prestados ou quaisquer títulos de virtude ou de simpatia para o fazer pender para um lado mais que para o outro. É esta a medida proposta para os cristãos, é este o desafio que permanentemente faz os cristãos olhar para a frente, para o mais, sem nunca poder cruzar os braços ou satisfazer-se com os níveis de boas obras que possam considerar excelentes quando se comparam com outros que rastejam na lama da mediocridade humana ou se envolvem na luta fratricida sobre a conquista do poder e do prestígio que leva à destruição dos mais débeis.
Ser santo é, como diz Paulo, a vocação dos cristãos. “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação”. E a santificação consiste em agir, comportar-se segundo o modelo que é Deus: “sede perfeitos como o Pai do Céu é perfeito”. Trata-se, portanto, de uma vocação e de uma proposta que só serve para dignificar a qualidade da vida das pessoas, na medida em que é uma vocação e uma proposta para o amor.