Mais do que sentir um vazio que está à nossa frente e dentro de nós, a saudade é um desejo tão profundo de voltar a viver o que já não é, acompanhado da certeza clara de que tal aspiração jamais se concretizará.
Mais do que um passado que ainda não passou, é um amor que nunca passará.
Mais do que uma tristeza, a saudade tem a sua raiz na alegria de se ter vivido algo de grandioso.
Talvez possamos compreender melhor a saudade se nos colocarmos diante do dilema seguinte: Desejarias conhecer e viver um grande amor com alguém que morreria cinco anos depois?
A saudade é uma fratura irreparável da alma. Um hoje imperfeito porque há nele uma falta que faz a diferença entre o tudo e o quase nada. Por vezes, junta-se a ela o arrependimento de não ter vivido tudo de uma forma diferente, tantas vezes, por não ter sabido que o tempo, como o vento, tanto nos pode embalar como destruir o que julgamos ter de mais sólido.
Mas há na saudade muita fé, porque o amor é mais forte do que o tempo, a ponto de lhe conseguir superar a lógica, ainda que sem que se compreenda como, e, assim, nos ser dado viver de novo e para sempre aquilo pelo qual hoje esperamos e desesperamos.
Quem compreende e sente comigo o meu cansaço senão aqueles que me amam? Eis a razão pela qual, no cansaço, nos sentimos muito mais sozinhos e a saudade do amor concreto, quente e vivo de outros que já não estão com a sua mão na nossa vida.
Se a memória é essencial à identidade, então a saudade é uma garantia de que não deixámos de ser quem somos. Perdê-la é perdermo-nos.
À incerteza da vida nos mares do tempo, opõe-se a saudade como uma âncora no sentido mais profundo da existência: o amor.
Fonte:https://www.facebook.com/jlnmartins