O dia de Fiéis Defuntos é acima de tudo uma celebração da nossa fé e da fé dos irmãos que nos precederam;

O dia de Fiéis Defuntos é acima de tudo uma celebração da nossa fé e da fé dos irmãos que nos precederam; uma celebração da fé recebida, vivida em comum e transmitida de geração em geração. Fé feita dom que nos levou a Jesus, à sua Igreja e aos sacramentos, os quais que alimentaram e alimentam a nossa vida pessoal e comunitária, que nos uniram na vivência dos mesmos valores e critérios, pondo-nos no mesmo sentido da vida e da morte. Celebração de fé e da fé em que não olhamos a morte mas o que está para além dela; celebração de fé, vivida em memória coletiva, numa atitude de ação de graças: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos».

Deus é misericordioso e compassivo em extremo e nunca não poupou esforços para nos salvar; nem mesmo o pecado persistente consegue fazê-lo desistir do seu desejo de nos redimir. Na verdade, até o fim da vida, quando expirarmos no último minuto, Deus continuará a oferecer-nos a opção de decidirmo-nos pela vida e de nos libertar da morte eterna.

Ao comemorar a memória de todos os fiéis defuntos, refletimos sobre o purgatório, a “purificação final dos eleitos” (Catecismo da Igreja Católica, 1031), na qual a misericórdia de Deus alcança a sua expressão suprema na forma oculta. O purgatório, às vezes descrito como fogo purificador (cf. 1 Cor 3, 15, 1 Pedro 1, 7), põe fim aos efeitos do pecado na nossa vida.

Mas, é claro, a existência do purgatório não nos isenta de lutar contra o pecado aqui nesta vida. Como disse São Paulo: “Pelo batismo fomos sepultados com Cristo e morremos para ressuscitar e viver uma nova vida” (Rom 6, 4).

Que aplicação tem para nós essa união com a morte de Cristo no nosso dia-a-dia? É importante porque somos nós que devemos atualizá-la, reafirmando diariamente a nossa união com Jesus e deixando que a sua cruz no separe do pecado e da morte. De facto, ficamos livres do pecado pela confissão sacramental, recebendo a absolvição de todos os pecados e reafirmando a convicção de que fomos crucificados com Cristo e agora estamos mortos para o pecado. Se nos lembrarmos de aplicar a cruz de Cristo a todos os aspetos da vida, podemos purificar-nos cada vez mais, vencendo a nossa natureza decaída.

O purgatório não é mais do que uma extensão da obra da cruz, uma continuação do desejo de Deus de nos levar para o seu Reino. Mas não devemos esquecer que Deus quer que nos purifiquemos e nos santifiquemos dia após dia, sem esperar pelo purgatório.

Se hoje pedirmos ao Senhor que encha a nossa vida com o seu amor, então teremos um duplo benefício: daremos um passo menos doloroso e mais confiante para a vida eterna e receberemos uma vida mais alegre e frutífera aqui na Terra.

Uma ação muito digna e nobre

Uma das leituras deste dia, do livro dos Macabeus, fala-nos do costume das pessoas piedosas de Israel de rezar pelos mortos e louva a sua ação. É uma afirmação da fé na realidade desse lugar de purificação e da possibilidade de ajudarmos os que morreram na graça de Deus.

Apoiados na união de todos em Cristo, através do Seu Corpo Místico de que todos fazemos parte, podem passar as ajudas para os nossos irmãos que sofrem as penas do Purgatório.

“ Em virtude da Comunhão dos santos -diz também o Compêndio – os fiéis ainda peregrinos na terra podem ajudar as almas do Purgatório oferecendo as suas orações de sufrágio, em particular o Sacrifício eucarístico, mas também esmolas, indulgências e obras de penitência “ (211).

Vivamos esta caridade para com todas as almas, em especial com as das nossas famílias.

O Vaticano II lembrou: ”Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo Místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam, cultivou com muita piedade, desde os primeiros tempos do Cristianismo, a memória dos defuntos e, ”porque é coisa santa e salutar rezar pelos mortos, para que sejam absolvidos de seus pecados”(2 Mac.12,46),por eles ofereceu também sufrágios “ (LG 50 ).

Santo Agostinho conta no livro das Confissões que a mãe, Santa Mónica, lhes pedia a ele e seu irmão para não fazerem grandes despesas com o seu funeral, levando o seu corpo para a sua terra, no norte de África, mas para a lembrarem junto do altar de Deus. É uma lição bem actual. Hoje gasta-se muito dinheiro em flores nos funerais. Nada podem ajudar os defuntos. Esquecem-se que poderiam sufragar os seus mortos mandando celebrar missas, dando esmolas e rezando mais por eles.

Eu o ressuscitarei no último dia

Ao rezar pelos que morreram avivamos a certeza de que havemos de ressuscitar, como lembra o texto de Macabeus. Avivamos também o desejo de nos encontrarmos com eles no céu.

Alguns cristãos caminham para o espiritismo, que é uma fraude e que leva algumas pessoas à loucura. As almas do outro mundo não vêm cá, como Jesus lembra na parábola do rico avarento e do pobre Lázaro e muito menos a bel prazer de algum curioso ou de algum médium. Não nos deixemos enganar.

Aparecem outros a falar da reencarnação, como se os mortos pudessem reaparecer cá na terra com outra vida. Só se vive uma vez. Diz a Bíblia: ”Está decretado que os homens morram uma só vez e que, depois disso, se siga o juízo” (Heb.9,27). Temos, por isso, de aproveitar muito bem esta vida.

Temos de guiar-nos pelos ensinamentos de Jesus e da Sua Igreja. São muito consoladoras as verdades da fé e, em concreto, as que se referem à vida eterna e à nossa comunhão em Cristo com os que morreram.

Podemos ajudá-los e também recorrer à sua intercessão. Podem pedir por nós, porque são almas santas amigas de Deus. Não podem ver-nos como os santos do céu, mas podem conhecer os nossos pedidos. Esta devoção às almas do Purgatório, enraizada em muitos cristãos, é uma forma muito bonita de viver a comunicação dos santos, a entreajuda entre todos membros do Corpo Místico de Cristo.

Podemos lembrar também que o Purgatório não é apenas lugar de sofrimento. As almas sofrem antes de mais pela privação da visão de Deus. É o sofrimento maior para elas. Sofrem também um fogo purificador. É através do sofrimento que se purificam.

Mas gozam também duma alegria muito grande: saberem-se amadas por Deus e terem já a certeza de ir para o céu.

Pedimos à Virgem que nos ajude a passar já na terra o nosso purgatório, aproveitando os nossos sofrimentos e as nossas boas obras, renovando a nossa dor de amor pelos pecados passados.

Que nos ajude a viver melhor a nossa fé nas verdades que hoje recordamos e a caridade para com os irmãos que partiram.

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