Pão e água. Dois alimentos tão simples, os mais normais da nossa vida do dia a dia. Aparecem várias vezes nos textos evangélicos. São símbolos, sinal de algo mais elevado, sobrenatural, divino. Duas preces do evangelho podem ajudar-nos a colocar-nos na perspetiva que nos interessa, a saber: rezar as palavras, penetrar-lhes o sentido, torna-las vida nas nossas vidas.
DÁ-NOS DESSE PÃO
A multidão seguia Jesus, vinda de todas as regiões, desejosa de O ouvir, trazendo doentes para que os curasse. E assim andava despreocupada do repouso, da alimentação. Os discípulos pensam nisso e dizem ao Senhor que mande embora a multidão para que nas aldeias da vizinhança encontre alimento. O Mestre, contudo, tem outro plano: arranjar alimento para todos. Multiplica os cinco pães e os dois peixes. As pessoas saciam-se e deliram. Agora, com a fome saciada, querem segui-Lo ainda mais. Jesus, que conhece os corações, pronuncia um discurso longo e maravilhoso sobre o verdadeiro pão, o alimento celeste.
Ele é o verdadeiro pão descido do céu. Sua carne, seu sangue, sua vida são alimento divino para saciar os homens. Não da fome física, carnal, mas da fome de felicidade, de amor, de vida, de alegria, de paz, de verdadeira realização. Só Ele, feito Palavra e Alimento, pode saciar esta fome já nesta vida, neste mundo. Mas alimentar-se do Pão do céu, do próprio Jesus, é ter em si o penhor da vida eterna, é ser possuído pelo gérmen da imortalidade: «Quem come deste pão viverá eternamente». Mais ainda, quem d’Ele se alimenta vai-se transformando e divinizando, vai sendo mais e mais, presença do sobrenatural: «Quem come a Minha carne e bebe o meu sangue, fica em Mim e eu nele». E n’Ele temos tudo, pois é o próprio Deus que nos invade e possui, nos penetra e sacia, nos enche de si próprio. Ele que é Vida e Amor.
SENHOR, DÁ-ME DESSA ÁGUA
O diálogo de Jesus com a Samaritana, uma das peças literárias mais eloquentes de São João, coloca-nos perante uma sede e uma água. Jesus, que chega cansado e sequioso, pede água do poço. Daí a pouco, é a Samaritana que lhe pede de beber, pois o diálogo com Jesus, o divino pedagogo, abre-lhe o coração, toca-lhe a alma, ilumina-lhe a inteligência. É verdade que a boa mulher, pensa só na água como elemento natural. Mas Jesus há-de levá-la a compreender que se trata de outra água. Uma «água» divina, sobrenatural.
A água através da Sagrada Escritura, é símbolo de vida, de fertilidade, de abundância de graça, de renascer interior. Símbolo também de purificação, de cura profunda de alma.
No capítulo VII do seu evangelho, São João comentando uma palavra de Jesus afirma mesmo, que os rios de água viva a que o Senhor se refere, dizem respeito ao Espírito Santo. Mas este ressume em si todos os simbolismos, quer o da vida, quer o de purificação ou de fertilidade. Foi no último dia da festa, o mais solene, que Jesus afirmou: «Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Do seio daquele que acredita em Mim, correrão rios de água viva».