“Veio…e os seus não o receberam” (Jo.1,11)
Três palavras, apenas; e um desígnio que falhou.
João escreve já a mais de meio século do acontecimento, mas a memória da rejeição permanece viva.
E dos que o receberam já muitos teriam então deixado o primitivo enlevo.
Veio. Não foi chamado. Ele mesmo tomou a iniciativa do encontro, face à situação de desencontro a que os homens tinham chegado.
Não precisou de fazer grande viagem. Necessitou, sim, de muito tempo para que se preparassem e, quando entendeu, veio, apareceu, incarnou, manifestou-se. A quem?
Aos seus. Os seus eram aqueles que sempre foram objeto da sua maior predileção. Pelos seus, viria para todos. Os seus seriam os anunciadores, mensageiros, testemunhas, continuadores da sua vinda.
Não o receberam. Estranho! Tanto tempo de anúncio e preparação, tão grande espetativa de vinda e, por fim, não o receberam! Era demasiado dos nossos. Preferia-se um que fizesse estrondo, impusesse o reino, surpreendesse pela novidade. E, afinal, ele era em tudo igual, sendo o todo diferente. Só viram a igualdade e não descortinaram a singularidade. Então, não o receberam.
Os séculos passaram e os milénios dobraram. Então, de novo vem. Agora porque o chamamos, com todos os sinais, celebrações, tradições, invenções Ele nunca cessou de vir. Desde que veio, ficou. Mas, “no meio de vós está alguém que não conheceis “. Então, de novo o “provocamos”, e Ele volta, tal como da primeira vez, mas no silêncio, no despojamento, na noite, na solidão, no desconforto, aí onde estão os seus. Vem para os seus.
Será que o vamos receber, ou repetir o que lhe aconteceu na primeira vinda? Estava tudo cheio. Não havia lugar para Ele.
“Aos que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”(Jo 1,12). Sim. E somo-lo, de fato, diz João.
Então, há que o viver e testemunhar: na união com a família onde o acolhemos na Palavra e o recebemos em comunhão e no serviço à comunidade humana e cristã, fazendo assim que o nosso Natal se transforme num “veio e recebêmo-Lo”.
Este, o desafio que lanço à nossa comunidade paroquial de S. Luis.
O Pároco