JUSTIÇA

Na continuidade da reflexão sobre as virtudes cardeais, hoje concentramo-nos na justiça. A justiça é a inclinação constante e perene da vontade em dar a cada um o que lhe pertence. As nossas relações com os outros têm de ser vividas na fraternidade. Ninguém pode passar à vida cristã se não passar pelas virtudes cardeais ou naturais. A justiça põe em ordem a vida. Não se trata de um presente ou oferta, mas do que devo fazer em relação ao outro. A justiça torna-se autenticidade. Temos de ser justos para sermos felizes. A Bíblia canta a justiça e mostra-a aliada da paz: «A justiça caminhará à sua frente (…) abraçam-se a paz e a justiça» (Sl 84). No Catecismo da Igreja Católica, encontramos a compreensão inteira da virtude da justiça, nestes termos: «A justiça é a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se “virtude da religião”. Para com os homens, a justiça leva a respeitar os direitos de cada qual e a estabelecer, nas relações humanas, a harmonia que promove a equidade em relação às pessoas e ao bem comum. O homem justo, tantas vezes evocado nos livros santos, distingue-se pela rectidão habitual dos seus pensamentos e da sua conduta para com o próximo. “Não cometerás injustiças nos julgamentos. Não favorecerás o pobre, nem serás complacente para com os poderosos. Julgarás o teu próximo com imparcialidade” (Lv 19,15). “Senhores, dai aos vossos escravos o que é justo e equitativo, considerando que também vós tendes um Senhor no céu” (Cl 4,1)». Numa Oração Eucarística a V/D, a liturgia da Igreja intercede a Deus co estas palavras justas:

«Fazei que a vossa Igreja seja o testemunho vivo da verdade e da liberdade, da justiça e da paz, para que em todos os homens se renove a esperança do mundo novo». Recordemos sempre que «a caridade supera a justiça, porque amar é dar, oferecer ao outro do que é “meu”; mas nunca existe sem a justiça, que induz a dar ao próximo o que é “dele”, o que lhe pertence em razão do seu ser e do seu agir. Não posso  “dar” ao outro do que é meu, sem antes lhe ter dado aquilo que lhe compete por justiça. Quem ama os outros com caridade é, antes de mais nada, justo para com eles, a justiça não só não é alheia à caridade, não só não é um caminho alternativo ou paralelo à caridade, mas é “inseparável da caridade”, é lhe intrínseca. A justiça é o primeiro caminho da caridade ou, como chegou a  dizer Paulo VI, “a medida mínima” dela, parte integrante daquele amor “por acções e em verdade” (1 Jo 3,18) a que nos exorta o apóstolo João» (Bento XVI, Caritas in Veritate 6). A Igreja criou um Pontifício Conselho Justiça e Paz e em cada Diocese existe uma Comissão Diocesana Justiça e Paz, que em articulação com a Comissão Nacional Justiça e Paz, privilegia na sua intervenção e programa de ação os seguintes domínios: o aprofundamento e a difusão da doutrina social da Igreja nas suas múltiplas vertentes; a defesa e promoção dos direitos humanos, incluindo a sua componente economia e social; a problemática contemporânea do emprego, desemprego e dos direitos laborais; a ética empresarial e a responsabilidade social das empresas; a denúncia das grandes desigualdades sociais, na Diocese e no Mundo; o empenhamento na luta contra a pobreza e a exclusão social; a atenção devida à prossecução de uma globalização mais justa e um desenvolvimento sustentável para todos os povos; a denúncia das guerras e a promoção de uma cultura que privilegie as vias pacíficas de resolução de conflitos; a defesa e a promoção da dignidade da vida humana; a educação para o desenvolvimento; a sensibilização das gerações mais novas para o seu empenhamento na construção da justiça e da paz.

 

  1. José Cordeiro

Bispo de Bragança – Miranda

Semanário Ecclesia nº 1482

 

 

Fonte: Revista Rosário de Maria

Ano 71| nº 751| outubro de 2015

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