SOMOS CAMINHANTES
A vida é uma via. É um peregrinar, um fazer caminho. Alegrias e tristezas, sucessos e fracassos, êxitos e quedas, paz e guerra, serenidade e angústia povoam o nosso caminhar neste mundo. Temos em nós o divino, mas estamos ainda sujeitos à dor, ao sofrimento, à morte. Possuímos o gérmen da glória, mas ainda temos em nós o homem velho. Acreditamos, temos fé, mas esta é semeada de trevas, de incredulidade.
Hoje, como há dois mil anos, Jesus está connosco a caminho do nosso Emaús. Cléofas e o outro discípulo, seu companheiro de viagem, iam tristes, cabisbaixos. Os seus sonhos caíram por terra. O seu ideal foi destruído. Acreditaram em Jesus, pensavam encontrar n’Ele o libertador, o restaurador do Reino de Israel, e afinal tudo acabou tristemente. Mataram-No. Morreu como um maldito. Desapareceu da vista deles. Esperanças falhadas. Agora, caminhantes da tristeza, sentem-se mais sós, desiludidos. Amargor de alma, de coração.
No nosso caminhar sucedem coisas parecidas. Acontecimentos dolorosos, imprevistos, duros pela sua crueldade, colocam-nos em tristeza, em desilusão, por vezes até em angústia. Perdemos até o gosto de viver. Tudo se torna trevas. Nem sequer nos outros encontramos ajuda, alento, força de lutar, de viver, de esperança.
Em muitas destas situações a oração torna-se difícil. Tudo é escuro. Jesus fica distante, o Espírito não se faz sentir, o Pai, não nos ouve. O nosso caminhar torna-se mais cansativo, mais negro, mais doloroso. E lá nos vamos lamentando, carpindo nossas desgraças.
JESUS COMPANHEIRO DE VIAGEM
Apesar de não O vermos, Ele está. Vive em nós, no nosso meio. Presente nos outros, na Eucaristia. Fala-nos através da Palavra, dos acontecimentos, da Igreja. Mas somos tantas vezes insensíveis à sua divina presença, sempre atuante, pacificadora, reconfortante, alentadora. Fé fraca, pouco permeável ao divino.
Jesus, no episódio de Emaús, ficou mais presente depois de ter desaparecido após a fração do pão, do que quando ia conversando pelo caminho. Esta era uma presença física, no meio da tristeza pagã. A outra era presença de fé, na alegria da vida nova do ressuscitado. Passagem do sensível à fé. Esta vê mais longe, penetra mais o mistério, comunga mais profundamente a intimidade.
Jesus é para nós um caminhante, companheiro de jornada. Ele caminha connosco. Ele é o caminho. Não exijamos que se faça presente ao nosso gosto. Vivamos na fé a sua presença.