«Eu não conheço a Amazónia, mas…»

A frase que dá título a este texto poderia ser repetido por muitos dos críticos do Papa Francisco, no que diz respeito ao Sínodo especial para a Amazónia que chegou ao fim. E terá sido dita por vários, naturalmente. Louve-se a honestidade. Provavelmente, quem chama “comunista” aos que defendem a Doutrina Social da Igreja (ou ao próprio Papa, basta uma pesquisa no YouTube, por exemplo) nunca vai admitir que não conhece a vida de um operário ou que nunca teve de chegar a casa sem saber o que dar de comer aos filhos, no dia seguinte.

Quando o Papa Francisco critica a transformação da religião em ideologia, é disto que fala: do destacamento da realidade, da ausência de concretude, transformando abstrações em valores absolutos, alimentados por sentimentos de falsas seguranças.

O Sínodo especial foi mais do que um debate sobre a ordenação de homens casados ou de “diaconisas”. Obviamente, há um forte impacto mediático nestas questões, sobretudo quando se abandona qualquer noção de bom senso e todas as mudanças são apresentadas como “revoluções”.

Estas mudanças, ainda assim, geram um profundo desconforto em todos aqueles para quem a evangelização é sinónimo de ensinar latim aos “selvagens” da Amazónia.

Foi, por isso, particularmente dura a posição do Papa, no final deste Sínodo, ainda que citando uma frase do escritor francês Charles Péguy: “Porque não têm a coragem de estar com o mundo, acreditam estar com Deus. Porque não têm a coragem de comprometer-se nas opções de vida do homem, creem lutar por Deus. Porque não amam ninguém, julgam amar Deus”.

Se há coisa que esta assembleia deixou clara, é que há uma guerra aberta contra o pontífice, orientada desde o outro lado do oceano. ‘Make no mistake’: qualquer instituição precisa de dinheiro. E quem se opõe ao atual pontificado vai usar essa arma para minar a credibilidade de Francisco.

Não é por acaso que aparecem as recentes notícias sobre uma possível insolvência do Vaticano – onde é cada vez mais claro que ninguém pode ser parceiro do Monopólio global, enquanto milhares de membros do clero e institutos religiosos sujam as mãos, ao serviço dos mais pobres, nos cinco continentes.

A opção tomada no Sínodo é clara: a Igreja Católica quer ser uma “aliada” dos povos da Amazónia, um laboratório de Teologia e ecologia. Não há lugar para os cristãos no lado de quem oprime os mais desprotegidos.

 

Fonte: https://agencia.ecclesia.pt

Autor: Octávio Carmo

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