Credulidade e mediação

A conversa surgiu a respeito de um ‘post’ no Facebook e teve confirmação na vida “real” (uma distinção de quem cresceu noutra era, admito): por algum motivo estranho, parece que o nosso cérebro se desliga diante de algumas “notícias” que são partilhadas, sendo levados imediatamente a comentar e a reagir, sem questionarmos nada do que vemos ou sem sequer nos lembramos, às vezes, de que estamos a ver o anúncio da morte de alguém que faleceu há anos, por exemplo.

Partilhei então uma preocupação que me tem acompanhado: perante uma sociedade cada vez mais descrente, cética em relação às formas de mediação tradicionais, às instituições, a credulidade com que as pessoas validam informações de origem (no mínimo) duvidosa deixa-me espantado. É verdade que muitos são naturalmente levados a alinhar com teorias da conspiração que colocam os “media” do lado dos maus e que olham para todas as instituições sociais, políticas, desportivas ou religiosas como espaços em que há “algo a esconder”. Tudo o que sair desta chave de leitura é mentira e não pode ser de outra forma.

Curiosamente, há já quem diga que o homem da era do Facebook é aquele que “acredita em tudo”. Não em profundidade, claro está, mas sem filtro, sem necessidade de mediação e inclusive acolhendo a informação que chega como um ato de insubordinação e libertação do que eram as mediações mais tradicionais na Comunicação Social.

Isto significa que os jornalistas vão deixar de existir? Pelo contrário. Julgo que esta avalanche de dados, sem qualquer tratamento, muitas vezes carecida de qualquer veracidade, vai sublinhar, a médio prazo, a necessidade de um mediador, de alguém que valide e transforme esses dados em verdadeira informação. É preciso, no entanto, que os media façam o seu trabalho e não abdiquem de ser o que têm de ser.

Na celebração de São Francisco de Sales, nosso padroeiro, é bom recordar o que os últimos Papas têm ensinado: Bento XVI assinalou a importância do silêncio, Francisco sublinhou a necessidade de reflexão e discernimento. Para que o nosso excesso de credulidade não seja um campo aberto à manipulação, de que tantas vezes nos queixamos.

Octávio Carmo,

Agência ECCLESIA

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