Quantas expectativas para uma festa. Meses de trabalho para preparar um divertimento fugaz, que muitas vezes desilude as expectativas e deixa para tras rostos tristes e melancólicos.
Acontece também com a vida: fazem-se muitos esforços para preparar um futuro que depois se revela uma miragem inatingível. O agricultor insensato da parábola de domingo passado é disso mesmo um exemplo; empenhou-se, teve sorte, mas no fim viu escapar-lhe das mãos o fruto do seu trabalho. Quantas canseiras para nada!
Os bens oferecem uma sensação de segurança, prometem satisfazer cada necessidade e cada desejo, e daí desencadeia-se o mecanismo psicológico que leva a acumular e a idolatrar. As riquezas dão a ideia de serem coisas sólidas, firmes, duradouras: sobrevivem a quem as possuiu. Na realidade engam-no, privam-no de tudo e deixam-no de mãos vazias. O sábio Coélet advertia: «Aquele que ama o dinheiro nunca se saciará do dinheiro, e aquele que ama a riqueza, a riqueza não virá ao seu encontro. Também isto é ilusão. Onde abundam os bens, abundam os que os devoram. E que vantagem tem o dono dos bens além de vê-los com os seus olhos?»
Como evitar encontrar-se nesta situação no final da própria vida? Jesus repete várias vezes a sua proposta desconcertante: Vende tudo, dá o dinheiro aos pobres. Como interpretar estas suas palavras? Dar-se-á conta que está a pedir que renunciemos àquilo que constitui a alegria do nosso coração? Vem Ele abalar todas as nossas seguranças? Sim, e fá-lo para nos tornar felizes.
O Evangelho deste domingo começa com uma exortação: «Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino». Os discípulos têm medo: sabem que são poucos e fracos perante um mundo hostil. Assustam-se porque o mal é forte, triunfa em todo o lado, parece irresistível e sentem-se fracos e incapazes de lhe opor resistência. O reino de Deus – garante Jesus – virá porque não é obra do homem, é dom do Pai.
Depois o tema entra na questão principal. Do Evangelho do domingo passado podia-se deduzir que o agricultor insensato tinha cometido dois erros: não se tinha enriquecido diante de Deus e tinha-se deixado apanhar de surpresa pela morte.
O que deveria ter feito? Como é que se enriquece diante de Deus? É simples – responde hoje Jesus – vendam aquilo que têm e dêem-no como esmola.
O rico acumulou muitos bens teve que os deixar neste mundo, não encontrou o modo de os levar consigo. Atormentado com as preocupações deste mundo – os campos, as colheitas, os armazéns – não teve tempo para escutar aquela Palavra que lhe teria revelado o segredo para não perder os seus capitais, para «os transferir para o céu». Isto é o que ele teria ouvido como sugestão de um sábio do Antigo Testamento: «Dá esmolas, conforme as tuas posses. Nunca afastes de algum pobre o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus. Filho, procede conforme as tuas posses: se possuíres muita riqueza, dá esmola em proporção da mesma; se, porém, dispuseres de pouco, dá em proporção desse pouco. Nunca tenhas receio de dar esmola. Assim, acumularás em teu favor, um bom depósito para o dia da necessidade. De facto, a esmola liberta da morte e não permite que a alma desça para as trevas. A esmola é, aos olhos do Altíssimo, uma dádiva sagrada de grande valor, que aproveita a todos os que a oferecem».
