Missa: encontro pessoal com Cristo. Como explicar?

É frequente ouvir queixas dos adolescentes acerca da Missa. Não a entendem. E não entendem por que razão devem assistir a uma coisa que não conseguem seguir, nem decifrar. E as razões que, muitas vezes, os adultos lhes dão, as explicações, não vão muito para além de algo como: «Deus gosta que vás à Missa», «Se Jesus morreu por nós na Cruz não devias tu também assistir à Missa?». O que leva a que esses adolescentes fiquem com a ideia de que Deus gosta do nosso sofrimento e que o objetivo da celebração eucarística é, precisamente, oferecer esse sacrifício: assistir à Missa. Como contava aquele sacerdote da menina que escutava as palavras finais do sacerdote:

– Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe!

E, ela responde, com a resposta habitual, litúrgica, mas com uma sublinhada ênfase de alívio:

– Graças a Deus!!!!

Mais frustrante é dizer aos adolescentes que a Missa é uma festa. E digo frustrante porque para eles, habitualmente, não o é. Porque as suas festas não têm nada a ver com o que eles vivem na Missa. Não se dança, não se salta, não se ri… E para que a Missa se torne uma festa com a qual um adolescente disfrute teríamos de a desvirtuar. Já não seria a Missa. Porque, na verdade, ela não é uma festa no sentido em que eles entendem festa.

Que fazer?

Na tentativa de cativar esse público tão exigente (e tão importante!), e de o cativar com a verdade, procurei explicar-lhes a Missa como os primeiros cristãos a viam e a descreviam: como um encontro com o Senhor como aconteceu com os discípulos de Emaús.[1] O que não esperava era encontrar tantas semelhanças entre a estrutura da Missa e o encontro com um amigo tal como o fazemos no dia-a-dia. Do início ao fim, a Eucaristia pode ser descrita como um encontro com um amigo ou com uma amiga. Fiquei surpreendido. Depois de tantos anos, primeiro a assistir, depois, a celebrar a Missa e procurando encontrar-me pessoalmente aí com o Senhor, nunca me tinha dado conta desse paralelismo que pode ajudar tanto na catequese e no apostolado!

No final da Pandemia, quando voltámos à normalidade das Missas, apresentei estas ideias a um conjunto de jovens. E o efeito foi mesmo surpreendente:

«Eu queria, especialmente, agradecer esta aula que nos deu do reencontro com Jesus, porque na verdade sempre fui à missa, mas nunca a pensar que quem está ali presente é O meu melhor amigo e que tenho de o tratar como tal, até porque quando vou sair com amigas ou quando elas vêm a minha casa eu faço uma festa na minha cabeça, e tenho um grande sorriso, porque sei que são aquelas pessoas que me fazem feliz e que posso contar tudo o que sinto, e Jesus é isso e muito mais. Obrigada por me ter mostrado, quem é que é o meu Melhor amigo.»

Se olharmos para o rito de entrada que vemos? Assoma uma cruz na porta da igreja e todos se levantam e começam a cantar. E cantam um cântico alegre, festivo. Para onde olham? Na direção da cruz e da procissão que se encaminha para o altar. Agora, pensemos, por exemplo, num encontro com um grande amigo. Estamos à sua espera sentados. Quando o vemos, que fazemos? Levantamo-nos, acenamos, sorrimos, saudamos. Na Missa é Jesus que vem ao nosso encontro na pessoa do sacerdote que, para isso, está devidamente revestido. O beijo ao altar e as palavras e gestos de saudação à assembleia lembram, claramente, esse encontro.

E, que costumamos fazer quando encontramos um amigo logo que acabamos de o cumprimentar? Muitas vezes sai um: «desculpa, tenho andado um pouco desaparecido!» ou «desculpa, ligaste-me e nunca mais te respondi», ou «desculpa, eu sei que me pediste para ajudar aquele meu vizinho… Olha, nunca mais me lembrei!»… Pois, e na Missa, que fazemos nós, logo depois das saudações iniciais? O ato penitencial. Pedimos desculpa ao Senhor pelas nossas faltas.[2] E Nosso Senhor perdoa-nos! A introdução geral ao Missal romano fala mesmo de uma absolvição dessas pequenas faltas. Como acontece com os amigos. Perdoam-se!

E, logo depois, que fazem? «Então, conta lá!», «Lembras-te do que meu Pai vos tinha dito?», ou «lembras-te daquilo que vos disse através de São Paulo?». É a primeira leitura. E nós escutamos e, depois, respondemos com o Salmo. «É verdade! Claro! Vou fazer como nos disse!…». É a resposta orante da assembleia. Resposta inspirada por Deus. E, quando estamos atentos, fazemo-la realmente nossa. E, então, Nosso Senhor, o Amigo, diz: «Pois, agora, queria dizer-te…». É o Evangelho (e a homilia ajudando a perceber essas palavras e a levá-las ao nosso coração e à nossa vida).

Aquecidos com esse diálogo, conscientes de estar diante de Deus que nos fala e nos escuta, fazemos os nossos pedidos para todo o mundo, para a Igreja Universal, por todos os que sofrem, pelos defuntos, etc. É a Oração Universal.

Mas, nesta altura o encontro já vai avançado. Está a chegar o momento da intimidade. Chegou o momento de oferecer as prendas que tínhamos preparadas. E, tal como num aniversário, ou numa festa, ou num encontro especial com um amigo, na Missa, nós também somos chamados a oferecer. É o ofertório. Sobre o altar deixamos, espiritualmente, junto com o pão e o vinho, a nossa vida, os nossos sonhos, os nossos trabalhos… aquilo que, na nossa limitação, podemos oferecer ao Senhor. Damo-nos conta de que vale pouco, mas é dado com amor e é oferecido a Alguém que nos ama.

E que acontece, então?

Na tal sessão que dei aos jovens e, depois, num vídeo que gravei, resumia o que se passava a seguir na Oração Eucarística, dizendo que o Amigo recebe essas ofertas e fá-las suas e vai levá-las ao Pai. E oferece-se Ele próprio a cada um de nós! Torna-se Ele próprio alimento, dom para nós. Podemos recebê-lo!

Sabia que estava a dizer pouco. Que estava a ficar aquém. E logo na parte mais importante da Missa! Foi o que me disse um padre amigo. Felicitou-me pelas ideias anteriores, mas lamentou que tivesse sido tão omisso em algo tão essencial. Concordei com ele, mas não sabia como seguir com o paralelismo numa parte tão sublime e inefável. Até que, dando voltas à Eucaristia, a essa participação na liturgia celeste, ao carácter anamnético da Missa em que o Mistério Pascal é tornado presente, pensei que o Senhor, no momento auge deste encontro pessoal connosco, nos convida a entrar na intimidade do Seu coração. Tal como um amigo, que, no clímax de um encontro íntimo com os seus amigos os convida a acompanharem-no, abre-lhes uma porta e… mostra-lhes os seus segredos! Que faz o Senhor connosco? Leva-nos ao Céu! «Corações ao alto»! Mostra-nos o Seu Amor. O seu plano de Salvação para a Humanidade. Faz-nos ver, viver esse plano! Faz-nos viajar no tempo. Torna-nos presentes em todo o Mistério Pascal. Vamos até à última Ceia e daí ao Calvário e ao momento em que morre por nós e é sepultado… e ressuscita! Está vivo! E faz-se pão! E entrega-se por nós! E nós recebemo-lo no nosso coração para que Ele ressuscite nas nossas vidas! É como um intenso abraço na intimidade das nossas almas.

E que acontece, por fim, depois de algo assim tão sublime, tão íntimo?

Um tempo de ação de graças, de saborear o que aconteceu, o que acabámos de experienciar. Precisamos de parar. Cantar suavemente. Fazer silêncio. Refletir.

E depois? Depois, são as despedidas. Com pedidos específicos: «Dá cumprimentos aos teus pais!», «Dá um abraço àquele teu amigo!», etc. É o envio final. «Ide em paz»! Somos enviados. Cheio do amor de Deus, da experiência de um encontro tão íntimo com o seu Deus, o cristão é chamado a partilhá-lo com todos os que com ele convivem.

A Missa vista desta forma exige o esforço de ver com os olhos da alma, com fé. Exige participação. Não basta assistir, com o risco de ficar à margem e não viver nada daquilo que, realmente, acontece.

«Achei que esta forma de ver a missa é bastante mais interessante, pois leva-me a ter uma maior intimidade com Jesus quando lá vou! Não há nada melhor do que ver Jesus como um amigo, falar com ele como um amigo, ir a casa dele como se fosse a casa de um amigo! Com certeza de que me irei lembrar de todas as partes da missa, como se fosse um reencontro com um amigo!»

Haverá, certamente, muitas formas boas e válidas de explicar a celebração eucarística e, claro, mais académicas. Quis apenas partilhar esta pelos bons efeitos que teve com alguns adolescentes.

 

 

Fonte: www.celebraçãoliturgica.org | Edição nº 6 | Tempo Comum | Outubro/Novembro 2024

Autor: Pedro Boléo Tomé

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