8 de junho de 2025 – Domingo de Pentecostes -Ano C

Para os primeiros cristãos, o primeiro dia da semana é o dia importante porque é o dia do Senhor, é aquele em que a comunidade costuma reunir-se para o pão eucarístico.
Na tarde. A indicação temporal com que começa o trecho evangélico é preciosa: indica talvez a hora tardia a que os cristãos costumavam encontrar-se para a sua celebração.
As portas estão fechadas por medo dos Judeus. Jesus certamente não tinha anunciado triunfos e vida fácil aos seus discípulos; «Têm muito que sofrer no mundo» dissera. Todavia, a razão principal pela qual se insiste nas portas fechadas é teológica: João quer que se entenda que o Ressuscitado é o mesmo Jesus que os apóstolos viram, conheceram, ouviram, tocaram, mas encontra-se numa condição diferente. Não voltou à vida de antes (como aconteceu com Lázaro), entrou numa existência completamente nova.
O seu corpo já não é feito de átomos materiais, é impercetível à verificação dos sentidos.
A ressurreição da carne não equivale à reanimação de um caser que acaba. Paulo explica este facto pela imagem da semente. Diz que «semeado corruptível, o corpo é ressuscitado incorruptível; semeado na desonra, é ressuscitado na glória; semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força; semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual. Se há um corpo terreno, também há um corpo espiritual»
Quando Jesus mostrou as mãos e o lado, os discípulos ficaram cheios de alegria. Uma reação surpreendente: deveriam entristecer-se vendo os sinais da paixão e morte. Pelo contrário, alegram-se, não porque encontraram pela frente o Jesus que acompanharam ao longo das estradas da Palestina, mas porque vêm o Senhor, dão-se conta de que o Ressuscitado que se lhes revela é o mesmo Jesus, aquele que deu a vida.
Colocando as manifestações do Ressuscitado no contexto da tarde do primeiro dia da semana, João pretende dizer aos cristãos das suas comunidades que também eles podem encontrar o Senhor – não Jesus de Nazaré, com o corpo material que tinha neste mundo – mas o Ressuscitado, sempre que se encontrarem juntos «no dia do Senhor».
Depois de ter saudado os discípulos pela segunda vez: A paz esteja convosco! Jesus dá-lhes o seu Espírito e confere-lhes o poder de perdoarem os pecados.
Os discípulos são enviados a cumprir uma missão: «Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós».
Quando estava no mundo, Jesus mostrava o rosto e o amor do Pai, agora, tendo deixado este mundo, Ele continua a sua obra a através dos discípulos a quem entrega o seu Espírito.
Acolhê-lo era colher o Pai que o tinha enviado, agora acolher os seus discípulos é acolhê-lo a Ele.
Para compreender a missão confiada aos apóstolos, o perdão dos pecados mediante a efusão do Espírito Santo, temos que nos refazer às conceções religiosas do povo de Israel e às palavras dos profetas.
No tempo de Jesus, encontrava-se difundida a ideia de que as pessoas agiam mal, contaminavam-se com os ídolos, eram impuras porque movidas por um espírito mau. E esperava-se que Deus quem sabe quando, interviesse para as libertar e infundir nelas um espírito bom.
Na carta aos Romanos, Paulo faz uma descrição dramática da condição infeliz do homem que se encontra à mercê do espírito do mal: «Assim, o que realizo, não o entendo; pois não é o que quero que pratico, mas o que eu odeio é o que faço. Ora, se o que eu não quero é que faço, estou de acordo com a Lei, reconheço que ela é boa. Mas então já não sou eu que o realizo, mas o pecado que habita em mim. Sim, eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita coisa boa; pois o querer está ao meu alcance, mas realizar o bem, isso não. É que não é bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico».
Pela boca dos profetas Deus prometeu o dom de um espírito novo, do seu Espírito: «Derramarei sobre vós água pura e sereis purificados; Eu vos purificarei de todas as manchas e de todos os pecados. Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um espírito novo: arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Dentro de vós porei o meu espírito, fazendo com que sigais as minhas leis e obedeçais e pratiqueis os meus preceitos».
Esta efusão do Espírito do Senhor iria renovar o mundo. Inundá-lo-á disse o profeta Ezequiel – como uma torrente de água impetuosa que, quando entra no deserto, o fecunda e o transforma em jardim. «Ao longo da torrente, nas suas margens, crescerá toda a sorte de árvores frutíferas, cuja folhagem não murchará e cujos frutos nunca cessam: produzirão todos os meses frutos novos, porque esta água vem do santuário. Os frutos servirão de alimento e as folhas, de remédio». São imagens deliciosas que descrevem de modo admirável a obra vivificante do Espírito Santo.
No dia de Páscoa realizaram-se estas promessas. Com um gesto simbólico – Jesus soprou sobre eles – é dado o Espírito. Este sopro evoca o momento da criação, quando «o Senhor Deus formou o homem do pó da terra. Insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida». O sopro de Jesus cria o homem novo, o homem que já não é vítima das forças que o levam ao mal, mas é animado por uma energia nova que o leva ao bem.
Onde chega este espírito, o mal está vencido, o pecado perdoado – cancelado, destruído – e nasce o homem novo modelado pela pessoa de Cristo.
A missão que o Ressuscitado confia aos seus discípulos é a de perdoar os pecados, continuando assim a sua obra de «Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo».
Que significa perdoar os pecados? Estas palavras foram interpretadas – de modo justo, mas redutivo – como a atribuição aos apóstolos do poder de absolver os pecados. Não é este, porém, o único modo de perdoar, isto é, de neutralizar, de derrotar o pecado. O poder conferido por Jesus é muito mais amplo e diz respeito a todos os discípulos que são animados pelo seu Espírito: é o poder de purificar o mundo de todo o tipo de mal.
Os poderes não são dois – perdoar ou reter – à discrição do confessor que avalia caso a caso. O poder é um só, o de aniquilar, de todas as formas, o pecado. Mas este pode também não ser perdoado: se o discípulo não se empenha a criar as condições para que todos abram o coração à ação do Espírito, o pecado não é perdoado.
Por este insucesso da missão, é responsável o discípulo.

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