8 de abril de 2023 – Sábado Santo – Solene Vigília Pascal

  1. A Luz no meio da noite!

Nesta grande noite de Luz, à volta do fogo que nos aquece, recordamos todas as noites de dor e pecado, de alegria e libertação, as noites do povo de Deus que são também as nossas noites.

Foi primeiro a Luz da Criação a abrir o princípio do Universo, primeiro gesto de amor. Foi depois a noite de Abraão, em que provado na sua fidelidade, este velho patriarca, superou a prova e na sua fé deu início a um povo e a uma Pátria. Era então Deus a chamar-nos da noite da solidão, para a luz da comunhão. E já na Terra prometida, fugimos de noite, com fome para o Egipto, onde uma noite de escravidão duraria uma vida. E o Senhor veio, pela mão de Moisés libertar-nos, deixando atulhar-se nas águas do Mar Vermelho os que nos queriam mergulhados na noite da angústia. E fez-se luz no regresso à Pátria, guiados pela coluna de fogo e alimentados pelo maná do deserto. E as trevas dominavam quando o homem, infiel à aliança, esquecia o amor de Deus.

Mas Deus não desistiu de nos chamar à comunhão com Ele. Enviou profetas, sentinelas no meio da noite. E, de ouvidos fechados, mergulhamos em nova noite, deportados para a Babilónia onde chorávamos com saudades de Sião. Mas nova noite de Luz surge quando o Senhor declarava de novo o seu amor por nós e nos fazia regressar à Terra da Promessa. E nesta longa história, fomos aprendendo a conhecer o coração de Deus, um Deus a querer abrir à sua Luz o coração de seus filhos. Dominados por povos estrangeiros e fora da Terra, aprenderíamos a acolher a luz no meio da noite guardando vigilantes a Luz da Palavra e da sabedoria de Deus.

 

  1. A noite brilha como o dia!

E a Luz veio até que diante da Luz, alguns cegos no seu pecado, conduziram à morte o Filho de Deus. E naquela que parecia ser a maior noite da humanidade, levantou-se vitorioso do túmulo, Cristo Ressuscitado. Como ouvimos há pouco no Precónio: «Esta é a noite em que Cristo, quebrando as cadeias da morte se levanta vitorioso do túmulo. Esta é a noite da qual está escrito: a noite brilha como o dia e a escuridão é clara como a Luz».

 

  1. Vitória da Luz na grande noite

Cristo Ressuscitou. Deus interveio na nossa história como nunca. Foi a mais espetacular vitória de Deus na nossa Vida, quando anulou a força do pecado e removeu para sempre a pedra do sepulcro. «Não está aqui. Ressuscitou». Eis a grande notícia, o foco imenso de luz. É que Deus sempre rasga no meio da noite um clarão de luz. Deus sempre rompe os nossos limites e nos abre à plenitude. Deus sempre semeia no fundo da nossa angústia uma porção de alegria inefável, de vida, de vida em plenitude e em abundância. A Ressurreição de Cristo é, pois, um protesto vitorioso sobre esta cultura da morte, da angústia e do vazio. É a proclamação dos valores mais altos da conduta do Homem, porque vitória do valor primeiro: a Vida.

Por isso, hoje somos criaturas novas. Somos gente ressuscitada desde o dia em que mergulhamos na morte de Cristo e ressurgimos para uma Vida nova, no dia do nosso Batismo. Somos gente ressuscitada. E por isso afeiçoados às coisas do Alto, aos valores mais belos da alegria, do perdão, da festa, do convívio e da família. Não somos máquinas de morrer, nem escravos do trabalho. Somos gente que precisa de alegria, de vida, de descanso e dos outros como do ar que respira.

 

  1. Gente Ressuscitada, desde a Ressurreição, num domingo

Porque somos gente ressuscitada, então não deixemos que esta Páscoa seja apenas mais uma celebração solene, pomposa e rotineira. Afinal foi-me dada uma vida nova! Fui salvo em esperança. Mas não uma esperança qualquer. Fui salvo por uma esperança que me compromete a trabalhar por um mundo novo, dado por Deus, fundado sobre a paz, sobre a justiça e sobre o amor, sempre maior forte do que o ódio ou a morte. Sabemos agora que a força do amor leva qualquer cruz à vitória.

Porque somos gente ressuscitada, então não deve existir em nós a desconfiança, a tristeza, o desencorajamento. Seja banida, entre nós, toda a espécie de maldade, de crítica destrutiva, de juízo precipitado, de individualismo e de espírito de capelinha.

Porque somos gente ressuscitada reine em nós a atitude de serviço e de atenção, de desprendimento dos nossos lugares e posições conquistadas e exibidas na comunidade.

Porque somos gente ressuscitada, então sejamos conhecidos pela caridade e pela disponibilidade, de vida e de coração, para dar espaço a esta incrível, mas verdadeira esperança, que nasce da Ressurreição de Jesus.

Vivamos estes cinquenta dias de Páscoa, para reanimar em todos essa grande esperança da vida nova da Ressurreição! Desejo verdadeiramente que o primeiro fruto desta Páscoa seja, para todos, a plenitude da alegria e da esperança, em Cristo ressuscitado!

 

  1. A alegria de Maria é a alegria da Igreja

Todavia, não podemos terminar, sem mencionar aquela que melhor testemunho dá na esperança em Cristo Ressuscitado. Como nos lembrava João Paulo II, «depois da deposição de Jesus no sepulcro, Maria “é a única que permanece a ter viva a chama da fé, preparando-se para acolher o anúncio jubiloso e surpreendente da ressurreição”. A espera vivida no Sábado Santo constitui um dos momentos mais altos da fé da Mãe do Senhor: na obscuridade que envolve o universo, Ela entrega-se plenamente ao Deus da vida e, recordando as palavras do Filho, espera a realização plena das promessas divinas» (Alocução, Maio 1997).

Por isso, no tempo pascal a comunidade cristã, ao dirigir-se à Mãe do Senhor, convida-a a alegrar-se: “Rainha do céu, alegrai-vos. Aleluia!”.

A alegria da Virgem Maria na Páscoa, é a alegria da Igreja que exulta pelo triunfo de Cristo e encontra a cada ano, no mistério pascal, a fonte da sua alegria, da sua esperança e do seu empenho.

Por isso, também hoje apetece-nos cantar: «Rainha do Céu, alegrai-vos, porque Aquele que merecestes trazer em Vosso ventre, ressuscitou como disse, Aleluia!»

Também hoje, irmãos e irmãs, brota ardente o convite às vossas vidas: “Alegrai-vos e exultai, porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, Aleluia!”

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