Instituição da sagrada Eucaristia:
“Todas as vezes que beberdes este cálice, fazei-o em memória de Mim. 1 Cor 11, 23-26
O Profeta Isaías tinha anunciado a missão do Messias: «O Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres e a levar-lhes o óleo da alegria.» Jesus de Nazaré é chamado Cristo, nome que significa Ungido, isto é, marcado pelo Espírito Santo, como nos revela o evangelista São Mateus, descrevendo o Baptismo do Senhor: “O Espírito Santo desceu visivelmente sobre Jesus, em forma corporal de pomba.” (Mat 3,16) Os membros do seu Corpo Místico chamam-se “cristãos”, porque participam da unção de Cristo. Para o significar somos ungidos com o Óleo do Santo Crisma. Sabemos que todo o povo de Deus participa do sacerdócio real de Cristo. Mas Deus escolheu alguns para participarem do Seu sacerdócio ministerial: “Senhor, Pai Santo. Pela Unção do Espírito Santo constituístes o Vosso Filho Unigénito Pontífice da Nova e eterna Aliança e no Vosso amor infinito quisestes perpetuar na Igreja o seu único sacerdócio. Ele não só revestiu do sacerdócio real todo o povo santo, mas também, de entre os seus irmãos, escolheu homens que, mediante a imposição das mãos, participam do seu ministério sagrado. Eles renovam em Seu nome o sacrifício da redenção humana, preparando os vossos filhos para o Banquete pascal.” Prefácio da Missa Crismal.
A Quinta-feira Santa recorda-nos a instituição do sacerdócio. Na Missa Crismal, celebrada durante a manhã deste dia, o Povo de Deus, reunido na Sé Catedral, alegra-se ao ver os presbíteros unidos ao seu Bispo. Toda a assembleia escuta a oração de Bênção dos santos óleos e dá graças pelo dom do sacerdócio. Quem dera que nos nossos dias todos pudéssemos repetir os elogios aos levitas do seu tempo, feitos pelo profeta Isaías: “Serão chamados Sacerdotes do Senhor, Ministros do nosso Deus”. Rezemos para que a sua “linhagem seja conhecida entre os povos e a sua descendência seja conhecida no meio das nações.” Rezemos para que “quantos os virem, reconheçam que são uma linhagem que o Senhor abençoou.” (Is 61, 1-3a.6a.8b-9)
“Os Anciãos estavam prostrados diante do Cordeiro e cantavam um cântico novo: Vós nos resgatastes, Senhor, com o Vosso Sangue. Homens de toda a tribo, língua, povo e nação e fizestes de nós um reino de sacerdotes para o nosso Deus. Eles reinarão sobre a terra.” (Cf Apocalipse 5 8-10)
Instituição da sagrada Eucaristia:
Isto é o meu Corpo, entregue por vós; este é o cálice da nova aliança no meu Sangue.
“Todas as vezes que beberdes este cálice, fazei-o em memória de Mim. “1 Cor 11, 23-26)
Acabámos de ler o relato da Última Ceia escrito pelo Apóstolo S. Paulo. Ele transmite o que recebeu da tradição. Os Apóstolos foram testemunhas do Amor infinito de Jesus, que se entregou às mãos dos seus inimigos, para morrer por nós. Jesus entregou-nos o seu Corpo, como alimento que permanece para a vida eterna. “Para o seu amor infinito é pouco dar-se todo, uma só vez, por todos. Ele quer dar-se todo a cada um de nós, todas as vezes que nos disponhamos a recebê-Lo.” (Celebração Litúrgica, Quinta-feira Santa 2017, p. 523)
Fazei isto em memória de Mim.
Estas palavras de Jesus foram conservadas na Bíblia por S. Lucas (22, 19) e também por S. Paulo (1 Cor 11, 24). O contexto em que foram pronunciadas remete-nos para a ceia pascal israelita. Para os Hebreus, era um memorial: reviviam a saída do Egipto, terra da escravidão, para a terra prometida. Para nós cristãos, a Eucaristia é o Sacramento que recorda e actualiza a morte e ressurreição do Senhor. Na Eucaristia o sacerdote repete, cada dia, in persona Christi, as palavras de Jesus: “Isto é o meu Corpo, tomai e comei. Este é o cálice do meu Sangue. Tomai e bebei. Fazei isto em memória de Mim.”
Faz-nos bem recordar o grande Amor de São João Paulo II, que irradiava nas suas Mensagens dirigidas aos presbíteros, todos os anos, na Quinta-Feira-Santa. Já estava doente, internado na Clínica Gemelli, quando escreveu esta Última Carta aos Sacerdotes, por ocasião da Quinta-Feira Santa de 2005.
“Nós, sacerdotes, somos os celebrantes, mas também os guardiões deste sacrossanto Mistério. Da nossa relação com a Eucaristia deriva também a exigência da condição «sagrada» da nossa vida, que deve transparecer em todo o nosso modo de ser e no modo de celebrar. Para isso, vamos à escola dos Santos! Muitos se distinguiram por uma prolongada adoração eucarística.
Permanecer diante de Jesus e encher o dia com a sua Presença, significa conferir à nossa consagração todo o calor da intimidade com Cristo. Sempre que celebramos a Eucaristia, a memória do mistério pascal de Jesus, torna-se anseio do encontro pleno e definitivo com Ele. O segredo do sacerdote está na «paixão» que sente por Jesus. São Paulo dizia: «Para mim, o viver é Cristo.» (Fil 1, 21)
As pessoas têm direito de dirigir-se aos sacerdotes com a esperança de «ver» a Cristo neles. (cf. Jo 12, 21) Sentem necessidade disso os jovens, que Cristo continua a chamar a Si para fazer deles seus amigos e propor a alguns a doação total à causa do Reino. Não hão-de certamente faltar as vocações, se subirmos de tom a nossa vida sacerdotal, se formos mais santos, mais alegres, se nos mostrarmos mais apaixonados no exercício do nosso ministério. Um sacerdote «conquistado» por Cristo (cf. Fil 3, 12) pode mais facilmente «conquistar» outros para a opção de fazerem a mesma aventura. (Policlínica Gemelli em Roma, 13 de Março – V Domingo da Quaresma – do ano 2005, vigésimo sétimo de Pontificado.)
São João Paulo II disse que a Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade contém o núcleo fundamental do mistério da nossa fé. Na sagrada Eucaristia, pela conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor, acreditamos na presença real de Jesus e isto é para nós motivo de uma alegria inefável. Os nossos olhos estão postos no Senhor Jesus, presente no Santíssimo Sacramento. Na Hóstia consagrada encontramos a plena manifestação do infinito amor de Jesus. “A Igreja vive de Jesus eucarístico, por Ele é nutrida, por Ele é iluminada. Por isso a Eucaristia é mistério de fé e, ao mesmo tempo, mistério de luz. (Rosarium Virginis Mariæ,19)
O Concílio Vaticano II afirma que a Eucaristia é «a fonte e o centro de toda a vida cristã.» (Lumen gentium, 11) Na Eucaristia, está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Jesus Cristo, a nossa Páscoa. Jesus é o Pão vivo que “dá aos homens a vida nova, mediante a sua carne vivificadora e pela presença do Espírito Santo.” (Presbyterorum ordinis, 5).