5 de agosto de 2018 – 18º Domingo do Tempo Comum – Ano B

No seguimento do trecho do domingo passado, o Evangelho conduz-nos a Cafarnaum, acompanhando a multidão que corre atrás de Jesus. Certamente esta multidão, reunida pela multiplicação dos pães, seguia Jesus por interesse, esperançada, talvez, numa outra refeição. Portanto, quando Jesus lhes diz «Não trabalheis pelo alimento que desaparece mas pelo alimento que fica até à vida eterna» estes pobres trabalhadores não deixaram cair o conselho do Senhor e pediram-lhe explicações « o que é preciso fazer para alcançar a vida eterna?»
Eis irmãos uma pergunta que se nos põe, também. Seremos capazes de a fazer, de esperar receber a resposta de Deus, uma resposta capaz de modificar a nossa maneira de viver? Para sabermos deixemo-nos interrogar perante Deus sobre um único ponto «De que temos nós fome e sede?»
Como tantos outros que não são cristãos, não teremos fome e sede de dinheiro, de consideração, de segurança, de conforto, de prazeres?
Em muitas famílias cristãs o que se propõe aos jovens em questões de futuro? Profissões que deem dinheiro, que façam subir na vida, que proporcionem bens materiais…
Todos os dias na nossa sociedade moderna não dizemos ou ouvimos dizer que teremos a felicidade, a verdadeira vida, quando tivermos comprado um automóvel, um aparelho doméstico, uma casa de férias? Quantas vezes nos deixamos entusiasmar pela publicidade na rádio, televisão e internet, que nos leva a considerar certos objetos dispensáveis como necessários à vida? Não os ter cria, por vezes, um sentimento de falta tão forte como o sofrimento da fome. Julgamos que seremos mais homens se tivermos mais coisas, confundimos o ter mais com o ser melhor. E se a morte vem, brutal, encontramo-nos de mãos vazias diante de Deus…
No fundo parece-nos um pouco com os Hebreus de que nos fala a primeira leitura. Tinham deixado o Egipto seguindo Moisés mas, na travessia do deserto, tiveram fome e sede. Moisés fez jorrar sobre eles a água do rochedo e um alimento misterioso, o maná, desceu sobre a terra.
Mas este maná não era um alimento que saciasse, não convidava os Judeus a instalarem-se, para sempre, no deserto. Era apenas um meio de retemperar as forças para continuarem o seu caminho em direção à Terra Prometida, a única que os poderia saciar.
Para nós cristãos, presentes no mundo, não se trata de nos sentarmos e cruzarmos os braços em face dos nossos problemas e dos problemas dos outros.
É evidente que temos de trabalhar para alimentar o corpo, de cuidar da terra… continuando assim a Criação de Deus. Para isso temos de ter um mínimo de bens materiais. Serão muitas vezes utensílios indispensáveis.
Mas, como o maná no deserto, como o pão multiplicado por Jesus, as nossas riquezas ou apenas os nossos bens materiais não deverão satisfazer-nos, saciar-nos. É preciso continuar com fome.
O coração do homem, o nosso coração, tem fome de coisas mais importantes. O nosso coração é tão grande que nada o pode satisfazer senão o próprio Deus.
Santo Agostinho dizia «O meu coração está sem descanso, Senhor, enquanto não descansar em Vós»
Talvez não acreditemos mas é de Deus que, no fundo, nós temos fome e sede, através das nossas sedes de vida, de amizade, de amor, de paz, até mesmo quando o não sabemos ou preferimos esquecê-lo!
O Senhor lembra-nos isso mesmo. Diz-nos para não pormos o nosso esforço e a nossa ambição naquilo que é passageiro, mas naquilo que permanece para a vida eterna. Para o cristão a vida tem um Nome, é uma pessoa, chama-se Jesus Cristo. Se os nossos desejos e as nossas energias estão apenas orientadas para as coisas da terra parecemo-nos àqueles homens de que nos fala S. Paulo, na epístola, «que se deixam conduzir pelo espírito fútil», pois, acrescenta ele, «o homem velho que está em vós está corrompido por desejos enganadores:
Ao contrário, na medida em que a fome de Deus e dos Seus valores se torna mais forte, nós somos cada vez mais, ainda segundo S. Paulo, « guiados por um espírito renovado» que nos faz aos poucos adoptar «o comportamento do homem novo».
Que o Senhor nos dê fome do Pão da vida afim de sermos fortes para testemunhar a nossa fé e generosos para espalhar o Seu amor.

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