4 de agosto de 2024 – 18º Domingo do Tempo Comum – Ano B [Há um Pão que Dá a Vida Eterna]

Na primeira parte do trecho (vv.24-27), Jesus começa por dissipar a confusão que se estabeleceu. Ele não veio para transformar, com uma varinha mágica, as pedras em pão, mas para ensinar que o amor e a partilha produzem pão, em abundância; depois conduz os seus ouvintes do primeiro degrau da fé, o da admiração e gratidão pelo pão recebido, ao degrau da compreensão da mensagem contida no dom que fez.

Na incompreensão das pessoas de Cafarnaum o evangelista quer que cada cristão veja a própria incompreensão. Ele dirige ao discípulo o convite a verificar, a perguntar-se por que motivo procura o Senhor, recorre a Ele, reza, pratica uma religião. Muitos, como aqueles que assistiam ao episódio dos pães, deverão admitir que os move a secreta esperança de obterem de Jesus a comida que se perde:  graças especiais, milagres, saúde, sucesso, bem-estar, proteção contra as desventuras. O proliferar, em certos sectores eclesiais, das práticas afins à magia para se conseguirem curas e garantir o favor do Senhor, prova que o equívoco sobre o pão que Jesus oferece é sempre atual. Também a samaritana não entendera que o Mestre lhe dava uma água diferente da do poço.

Qual é então o alimento «que dura até à vida eterna»?

Talvez no Evangelho de domingo passado nos tenha escapado um pormenor: no início do relato tínhamos os pães e os peixes, depois estes últimos estranhamente, foram esquecidos e a atenção concentrou-se exclusivamente nos pães. E também no final, depois de terem sido recolhidos os doze cestos de pão que sobrou, seria de esperar uma referência aos peixes; mas não, não apareceram e não são sequer lembrados agora no longo discurso de Jesus.

O simbolismo dos cinco pães e dos dois peixes é imediato para quem conhece a linguagem bíblica e recorda as palavras de Moisés: «Nem só de pão vive o homem; de tudo o que sai da boca do Senhor é que o homem viverá». Assim como o convite dirigido a quem é inexperiente na Sabedoria de Deus: «Vinde e comei o meu pão»; «Porque gastais o vosso dinheiro naquilo que não alimenta e o vosso salário naquilo que não pode saciar-vos»?

Este é o pão do Senhor: a sua palavra, o seu ensinamento; pão de vida são os cinco livros do Pentateuco, a Torá.

E os dois peixes? São o presigo do pão: representam as outras duas séries de livros sagrados de Israel, os Profetas e as outras Escrituras, que serviam de complemento à Torá, ajudavam a compreendê-la e a assimilá-la melhor.

Agora resta só o pão. No barco – nota Marcos – os discípulos «Só traziam um pão», Jesus, em cuja palavra está presente todo o alimento que Deus deu ao seu povo. Quem o tem não precisa de outro pão, não precisa de outras revelações.

É neste simbolismo que Jesus quer introduzir os seus ouvintes, mas estes continuam obstinadamente a pensar apenas no alimento material.

Como nos alimentamos com este pão? Que devemos nós fazer? – perguntam a Jesus as multidões de Cafarnaum. A resposta é dada na segunda parte do techo (vv.28-33).

Não são precisas muitas obras, mas uma só, acreditar naquele que o Pai mandou. Nada mais é pedido.

No Evangelho de João nunca se encontra a palavra fé, de que Paulo tanto gosta; é utilizado sempre o verbo crer que indica o ato vital de quem confia, incondicionalmente, na palavra de Jesus, de quem acolhe o seu Evangelho e o assimila da mesma forma que se faz com a comida. O Evangelho foi escrito «para crerdes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus e, crendo, tenhais a vida eterna». Quem crê deste modo tem a vida eterna.

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