1. Amor de Deus e amor humano
Deus criou-nos por amor e vocacionou-nos para vivermos numa comunhão de Verdade e de Amor — com a Santíssima Trindade e com toda a Corte Celeste — para sempre, no Paraíso.
Planeou que a nossa felicidade eterna começasse já na terra: comungando a Verdade que é Deus, pela fé; a vida divina, pela Graça santificante recebida no Baptismo; e o amor, com todas as limitações que encontramos na vida presente.
Moisés fala ao Povo de Deus desta vocação sublime que são chamadas todas as pessoas.
Amor perene. «Moisés dirigiu-se ao povo, dizendo: «Temerás o Senhor, teu Deus, todos os dias da tua vida, cumprindo todas as suas leis e preceitos que hoje te ordeno.»
O amor de que fala o Senhor, por Moisés, não é um episódio fugidio que experimentamos uma vez na vida. É um amor perene, para todos os dias e, o que é mais para toda a eternidade.
Afinal, também o amor humano exige esta perenidade. O coração humano não tolera limites quando se trata de amar alguém. Não faz sentido dizer: “amo-te até que encontre uma pessoa mais bela e atraente do que tu”; ou “amo-te por seis meses, por seis anos!”
Junto da palavra amor só outra é digna de estar: “para sempre”.
Por outro lado, Deus quis que tivéssemos um só coração para O amar e onde coubessem também as pessoas que partilham a vida connosco na terra.
Além disso, as mesmas indústrias que temos de usar para crescer no amor humano, são as mesmas de que lançamos mão para crescer no amor divino: encontros repetidos, sacrifício, partilha de vida.
Por isso mesmo, não há oposição entre o amor ao Senhor e o das criaturas, fases na nossa vida em que nos dedicamos ao amor do nosso Deus e outras em que abandonamos este para nos dedicarmos ao amor das pessoas da terra. Se ordenarmos bem as coisas, estes dois amores serão inseparáveis na nossa vida.
O amor às pessoas passa pelo Coração Divino, antes de chegar aos irmãos, e nós vemo-l’O presente em cada rosto humano. Ele oculta-Se misteriosamente em cada pessoa, seja qual for o seu aspecto para, de algum modo, Se deter a contemplar a nossa generosidade.
A mãe de Jacob — Rebeca — foi cúmplice num engano de seu esposo Isaac, quando o filho foi servir uma refeição ao velho Patriarca e receber a bênção que o tornava seu sucessor. Para o engodo ser mais perfeito, revestiu as mãos e o pescoço de Jacob com peles de cabrito. Deste modo apareceriam peludas como as do irmão. «A voz é a voz de Jacob, mas as mãos são as mãos de Isaú.» (Gen 27, 1-25). Assim nos acolhe Deus, quando a Ele nos dirigimos, acolhendo no nosso amor o Amor de Seu Filho Unigénito.
2. Cristianismo, vocação de amor
Amar a Deus. «O primeiro é este: ‘Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças’.»
As palavras que Jesus dirige ao escriba englobam uma profundidade que nunca poderemos alcançar plenamente.
• Com todo o coração. Nenhum afecto se pode sobrepor ao amor de Amor de Deus em nós.
Por vezes, há nas pessoas uma certa angústia porque — dizem — ao ama Deus nada sentem; ao passo que sentem afecto pelos que lhes são mais queridos: pelo noivo, pelos filhos, pelos pais…
O amor de Deus deve ser apreciativamente sumo, mas não necessariamente afectivamente sumo. Ainda que não sintamos nada ao pensar n’Ele, o importante é que sejamos capazes de colocar, de facto, este amor acima de tos e de tudo.
• Com toda a tua alma […] e com todas as tuas forças. Sem se poupar a esforços. O amor de Deus há-de levar-nos a um esforço constante e generoso para progredirmos neste Amor e a procurar ajudar os outros a seguirem este caminho, pois Deus quer todos os Seus filhos sentados à Sua mesa para sempre no Céu. Quem não vê aqui a recomendação de um esforço para levar avante a Evangelização do mundo?
• Com todo o entendimento. Havemos de caminhar para Deus com todo o nosso ser. Os homens cativam-se pela cabeça. Quando uma pessoa se contenta com um cristianismo sentimental, facilmente se desviará do caminho, porque o sentimento é o que há de mais inconstante no homem.
Parece que o senhor está a recomendar-nos que nos devemos procurar em conhecê-l’O cada vez melhor, para O amarmos cada vez mais.
Daí que nos havemos de preocupar com a formação doutrinal, frequentando meios de formação. Lendo bons livros e aproveitando cuidadosamente a formação doutrinal que nos é dada na Missa de cada Domingo.
A ignorância religiosa — di-lo um santo dos nossos dias — é o maior inimigo de Deus no mundo de hoje. Ninguém ama quem não conhece. A família já não transmite os conhecimentos doutrinais de outrora. Por outro lado, as pessoas são “bombardeadas” com erros pelos meios de comunicação social. O único modo de ser um bom cristão é procurar uma formação constante, como condição indispensável para perseverar no amor de Deus.
Caminhamos para Deus com tudo o que somos: inteligência, vontade. liberdade e sensibilidade.