30 de agosto de 2020 -22º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Ser cristão exige seguir Cristo em cada momento da sua vida. Não basta sermos batizados. Temos de ter muita fé e amor a Deus e viver em união com Ele no sofrimento e na alegria.

Hoje a linguagem moderna fala-nos do plano desenvolvimento da personalidade, da liberdade, da criatividade, do dinamismo e do progresso, mas Cristo – com a mesma atualidade de há dois mil anos – é da renúncia que nos fala. Custa-nos ouvir e aceitar esta palavra. Daí a reação de Pedro que desejava «proteger» o Senhor e a quem este repreende com certa vibração porque é no abandono de nós mesmos à vontade de Deus e na renúncia consciente e responsavelmente querida que encontramos o caminho do amor desinteressado que conduzirá à salvação.

Não é fácil seguir Cristo porque supõe obediência, fidelidade, perseverança e adesão total, numa comunhão voluntária com Ele como modelo que nos esforçamos imitar.

O cristão realiza-se oferecendo-se à ação de Cristo, mas sem se destruir. Pelo contrário, o seu apagamento por aderir ao que Deus manda, faz realçar as suas qualidades humanas, vivificadas pela graça operante. O cristão não deve, por isso, ser um passivo, um resignado (no mau sentido), um triste… mas um combatente ativo na luta contra o pecado, começando por dominar dentro de si próprio as suas más tendências, a sua inclinação para o mal. É nesse esforço de auto-domínio que está o seu mérito. É aí que irá buscar o dinamismo necessário para extravasar o seu amor pelo próximo. O seu desejo de que todos os homens se salvem e atinjam a felicidade plena.

Se Jesus Cristo é «o Caminho a Verdade e a Vida», trata-se de seguir uma Pessoa e não uma coisa. E essa Pessoa é Deus que, se é o Amor, a Verdade e a Vida absolutos, é também o nosso Criador, o nosso Pai e, como tal, desejando o ótimo para os Seus filhos a quem deu o que tinha de melhor: o Seu Filho exclusivamente único no plano divino. Portanto, como filhos de Deus somos considerados herdeiros e estimulados a querer o que Deus quer. Isto significa que Deus nos fez livres, pois «não poderíamos querer se não fossemos livres». Esta liberdade de filhos de Deus leva-nos à renúncia voluntária para, esquecendo-nos de nós próprios, termos mais possibilidade de servir os outros «filhos de Deus», nossos irmãos. Cristo traz assim uma proposta de vida completamente oposta aos critérios mundanos, que procuram a alegria fácil do prazer fugaz. É por isso que São Paulo se refere à cruz como loucura que escandaliza os increús. De facto, a inteligência só por si não entende o mistério da cruz que terá de ser encaro pelo ângulo do amor e da esperança, na certeza de que do sofrimento bem aceite e amado renasce a vida, a felicidade plena. Todavia, sabemos que o valor da cruz está no não gosto do sofrimento em si mesmo, como acontece no masoquismo, mas no seu valor altamente como meio de santificação própria e de apostolado.

Pela lei natural o cristão, como outra criatura humana, deseja viver plenamente a vida, só que aceita perdê-la com Cristo, se for necessário, porque sabe que a recuperará com Ele. Acreditando na Ressurreição sabe que esta aberta a porta da vida.

De tudo isto se deduz que renunciar não é uma atitude negativa, mas antes uma escolha livre que visa a identificação com Cristo, que realizou a Sua missão redentora através da cruz. Como alguém disse, esta, «levada com amor, contém uma misteriosa paz interior que só Deus pode dar».

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