3 de novembro de 2024 – 31º Domingo do Tempo Comum – Ano B [Pode-se mandar no coração?]

É um pouco enigmática, a conclusão deste trecho. Por que motivo Jesus não convida o escriba a segui-lo? Por que não lhe sugere o passo seguinte para entrar no reino de Deus? Ao homem rico tinha imediatamente indicado o que ainda lhe faltava: «Vai dissera-lhe -, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-me». Deixemos por um momento estas perguntas de lado e comecemos a enquadrar o episódio de modo a podermos compreender a sua mensagem.

Há três dias que Jesus está em Jerusalém. Expulsou os vendedores do lugar santo, gesto este que comprometeu definitivamente o seu relacionamento com a autoridade religiosa. Os sumos sacerdotes, os escribas e os anciãos estudam o modo de o apanhar em falso: fazem-lhe perguntas manhosas e pesam cada uma das suas palavras, com a intenção de encontrar um pretexto para o poderem acusar e condenar. Enquanto Ele circula pelo templo aproxima-se opõem-lhe uma série de questões de caráter religioso e político. Jesus responde a todas, pacatamente e com muita habilidade, de modo que até os seus adversários ficam surpreendidos e admirados.

O Evangelho de hoje coloca-se neste contexto polémico. Um escriba que assistiu às suas controvérsias precedentes aproxima-se e também ele lhe faz uma pergunta: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» Ao contrário dos colegas que o procederam, ele não o faz por rancor a Jesus, não pretende pô-lo à prova; ouviu falar dele e quer verificar a sua preparação bíblica.

Se queremos que a adesão a Deus seja sólida e inabalável não a podemos basear em emoções religiosas fugazes, ou fazê-la depender de uma qualquer devoção piedosa. Deve envolver o entendimento, deve ser fruto de uma escolha consciente e bem ponderada, que também satisfaça plenamente a razão.

Quem não dedica tempo ao estudo da palavra de Deus, quem se desinteressa dos temas teológicos e dos problemas eclesiais, quem não é capaz de dar as razões da sua fé, também não pode afirmar que ama Deus com todo o entendimento.

Depois o amor a Deus é associado ao amor ao ser humano, a ponto de tornar inseparáveis os dois mandamentos. Mesmo se nem sempre é fácil estabelecer aquilo que concretamente é conveniente fazer, é bastante claro em que consiste o amor ao próximo: é a disponibilidade a fazer sempre o que é bem para o outro. Pelo contrário, não é absolutamente evidente o que signifique amar a Deus, e qual é a relação entre os dois mandamentos.

O amor ao próximo exige empenhamento, para fazer de modo que a ninguém faltem alimentos, roupa, assistência, instrução e tudo aquilo que é necessário à vida. No entanto, este empenho não deve fazer passar para segundo plano os deveres para com Deus: a oração, a missa dominical e as práticas religiosas. Uma parte do tempo deve ser dedicado ao trabalho, à família, aos amigos, mas não se pode roubar a Deus a parte que lhe diz respeito.

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