3 de dezembro de 2023 – 1º Domingo do Advento – Ano B

“Para vós, Senhor, elevo a minha alma.”

No ciclo do ano, a Igreja comemora todo o mistério da vida humana de Jesus Cristo, desde o Nascimento, à Ressurreição, Ascensão e Pentecostes à expectativa da feliz esperança da Sua vinda. Na Liturgia celebramos os mistérios que aconteceram no passado, mas que se tornam presentes em todo o tempo, para que os fiéis se encham de graça.  O Advento é um tempo de preparação para a vinda do Senhor Jesus, num tríplice plano: passado, presente e futuro. Jesus veio a primeira vez na pobreza e na alegria do presépio. Os Profetas anunciaram ao Povo de Israel a vinda do Messias, cujo nascimento, segundo a carne, ocorreu em Belém, no tempo do Imperador César Augusto. A Igreja celebra, todos os anos, jubilosamente, este aniversário natalício de Jesus, que veio habitar no meio do seu povo. Quem, entre os homens, poderá ficar indiferente a esta vinda se ela provoca tanto júbilo entre os Anjos do Céu? O Advento celebra também a presença misteriosa, viva e actuante de Jesus Cristo na Sua Igreja, de modo especial nos Sacramentos e nas assembleias cristã: “Onde se reúnem dois ou três em meu nome, Eu estou no meio deles.”[2] O Advento apresenta-se-nos como um tempo de piedosa e alegre expectativa. (Cf Missal Romano, Normas Gerais, nº17. Tempo do Advento, nº 39).

 

  1. Bernardo escreveu: Conhecemos uma tríplice vinda do Senhor. Entre a primeira e a última há uma vinda intermédia. Aquelas duas são visíveis, mas esta, não. Na primeira, o Senhor apareceu na terra e conviveu com os homens. “Veio para os seus, mas não O quiseram receber.”[3] Na última, todos verão a salvação de Deus e “hão-de contemplar Aquele que foi trespassado.” A vinda intermédia é oculta e só os eleitos a vêem e por ela se salvam as suas almas. Na primeira, o Senhor veio revestido da nossa fraqueza humana; na intermédia vem espiritualmente, manifestando o poder da Sua graça. Na última, virá com todo o esplendor da Sua glória. A vinda intermédia é como que uma estrada que nos leva da primeira à última: no seu nascimento, Jesus foi o nosso Redentor. No fim dos tempos, aparecerá como nossa vida; agora é nosso descanso e consolação. Desta vinda intermédia fala­‑nos o próprio Jesus: Se alguém Me ama, guardará a minha palavra, meu Pai amá­‑lo­‑á, Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada.[4]

 

A Igreja escolheu para Antífona de Entrada da Eucaristia esta passagem do Salmo 24: “Para Vós, Senhor, elevo a minha alma.” Com o salmista também a nossa alma se eleva para Deus, aceitando o convite de Jesus: “O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai.” O Evangelho de hoje está marcado pelo verbo «vigiar», quatro vezes repetido, de diferentes maneiras e de modo imperativo: Vigiai. Compreenderemos melhor o que o que Jesus nos pede, quando meditarmos na Sua Paixão. Em São Marcos, imediatamente a seguir ao Evangelho de hoje, começa o capítulo seguinte, onde encontramos Jesus em oração, no horto das oliveiras, também conhecido como Getsémani. Aqui, Jesus clarifica em que consiste esta vigilância, pois aí dirá aos discípulos: “Ficai aqui enquanto eu orar. Depois tomando consigo Pedro, Tiago e João, começou a sentir pavor e a angustiar-se. Disse-lhes: a minha alma está numa tristeza mortal. Ficai aqui e vigiai…Vigiai e orai para não cederdes à tentação.” Portanto, é preciso manter o nosso coração sintonizado com o coração de Deus. Daí as vigílias enunciadas por Jesus. [5]

 

Vigília é uma palavra derivada do Latim e significa estar acordado. A vigília cristã realiza-se durante a noite e caracteriza-se por ser um momento de oração, de súplica, de louvor, de adoração. “De noite, nascestes, Verbo eterno, e os Anjos e uma estrela anunciaram a tua presença. Na noite da nossa vida, com a luz da fé acesa, esperamos alegres a Tua última vinda.”

O povo da antiga Aliança esperava a vinda do Salvador prometido por Deus aos nossos primeiros pais. Ao longo dos séculos, os profetas alimentaram a esperança da chegada do Messias Libertador. Quantos suspiros dos santos patriarcas, quantas orações fervorosas e ardentes dos justos: “Desça o orvalho do alto dos Céus. Abra-se a terra e germine o Salvador. Oh se descêsseis do alto dos céus! E Vós descestes.” Foi uma longa espera, um longo Advento, uma longa vigília. Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus cumpriu a sua promessa e enviou o Seu Filho ao mundo. Jesus desceu do Céu e veio acampar entre nós. Prometeu-nos que viria de novo. O Advento celebra também a vinda gloriosa de Jesus Cristo que se há­‑de verificar no fim dos tempos, como Ele próprio nos prometeu: “Então, vereis o Filho do Homem vir numa nuvem com grande poder e glória!”[6]

A Igreja, povo da Nova Aliança, continua ao longo dos séculos a suplicar como os primeiros cristãos: “Marana ta. Ámen, vinde Senhor Jesus.” (Apocalipse 22,17.20) “Vinde, Senhor a Igreja Vos espera, sol de justiça, eterna Primavera. Vinde, Senhor: a Igreja é vossa Esposa, mostrai-lhe a vossa face gloriosa. Vinde, Senhor, falai, Verbo de Deus, criai a nova terra e os novos céus.” (Liturgia das Horas, Advento)

 

Acautelai-vos. Vigiai

Jesus diz-nos qual deve ser a nossa atitude espiritual, enquanto suspiramos pela sua vinda gloriosa: “O que vos digo a vós, digo a todos: vigiai.” Noutra passagem ouvimos: “Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que esperam o seu senhor, para lhe abrirem a porta, quando ele chegar e bater. Felizes esses servos, que o senhor, ao chegar, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo: cingir-se-á e mandará que se sentem à mesa e os servirá. Se vier à meia-noite ou de madrugada, felizes serão se assim os encontrar.”[7] Jesus pede-nos: «Acautelai-vos e vigiai, porque não sabeis quando chegará o momento.” Acolhamos o convite de Jesus e adoptemos uma atitude de silêncio interior para vivermos em união com Deus, evitando a dispersão provocada pelos ruídos e pelas sensações transitórias que a sociedade nos oferece.

Na Bíblia dos Capuchinhos em vez da tradução litúrgica “acautelai-vos” encontramos outra: “Tomai cuidado.” E na Bíblia de Jerusalém: “prenez guarde.” Esta tradução faz-nos pensar que a vida é um combate. No Livro de Job o Autor sagrado diz que a nossa vida é como a de um soldado.[8] Assim compreendemos a razão pela qual Jesus nos exorta: “Acautelai-vos”, estai alerta, sede como sentinelas que não dormem, mas que estão vigilantes no seu posto. “A vida é uma luta”, por isso temos que estar atentos para nos defendermos dos perigos. Estar alerta significa estar de olhos abertos, esperando o amanhecer. Quem vigia descobre “a luz terna e suave no meio da noite.” Olhemos para Jesus: “De noite agonizaste no Jardim das Oliveiras.” Escutemos a Sua oração “A minha alma está numa angústia de morte. Pai, se é possível, afasta de mim este cálice. Pai faça-se a Tua vontade” Foi um momento de luta, que Jesus venceu pela total adesão à vontade do Pai celeste. A vigilância é um dever próprio dos pastores, pois estão encarregados de confirmar a fé dos seus irmãos. Mas é, também, uma característica própria de toda a vida cristã. Guardemos e meditemos no nosso coração as palavras de Jesus: “O que vos digo a vós, digo a todos: Vigiai e orai.” [9]

 

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