29 de setembro de 2024 – 26º Domingo do Tempo Comum – Ano B [É-nos dado o Espírito, mas não temos o exclusivo]

O evangelista Marcos junta, no mesmo capítulo e de forma propositadamente provocatória, dois episódios. No primeiro põe em cena um homem que se apresenta a Jesus e lhe diz: «Mestre, trouxe-te o meu filho que tem um espírito mudo. Quando se apodera dele, atira-o ao chão, e ele põe-se a espumar, a ranger os dentes e fica rígido. Pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não conseguiram. No segundo, aquele que nos é proposto no Evangelho de hoje, apresenta-nos um exorcista anónimo que, servindo-se do nome de Jesus, obtém ótimos resultados contra as forças do mal.

É previsível e imediata a reação dos discípulos que correm a manifestar a Jesus a sua surpresa, desapontamento e irritação. Como pode – perguntam-se eles – alguém que não nos segue, que não pertence ao nosso grupo, fazer as mesmas maravilhas ou coisas ainda maiores?

Esta pergunta levanta logo outras, que são as que também nós nos colocamos: se alguém ocupa, com sucesso, o campo em que somos chamados a desempenhar a nossa missão, isso é motivo de alegria ou de preocupação? Quem está autorizado a usar o nome de Jesus? A quem deixou em herança o seu Espírito, a força que cura qualquer doença?

O episódio narrado no trecho de hoje responde a estas perguntas. Na primeira parte é exposto o facto.

Os curandeiros da antiguidade costumavam, durante a prática dos exorcismos, pronunciar nomes de anjos, de demónios e de alguma pessoa conhecida pelas suas faculdades terapêutica. Consideravam que isso contribuía para tornar mais eficazes as suas intervenções e permitia-lhe obter resultados mais prodigiosos. O nome mais invocado era o de Salomão, considerado o precursor e o protetor de todos os interessados nos mistérios do saber; mas também o nome de Jesus, que se tornara famoso em toda a Galileia, começava a ser utilizado nos exorcismos, juntamente com outros.

A segunda parte do trecho contém uma série de frases do Senhor.

A primeira refere-se à oferta de um copo de água. Trata-se do gesto mais simples e espontâneo que possa haver, mas que não deve ser esquecido, porque pode marcar o início de uma relação de amizade. Já um sábio do Antigo Testamento tinha compreendido o seu valor: «Se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer, se tem sede, dá-lhe de beber». Tinha intuído que este pequeno sinal de acolhimento podia constituir a premissa para uma reconciliação.

Também jesus refere este gesto e – é preciso nota-lo  – não o atribui a um dos seus discípulos, mas a um estranho. É um desconhecido aquele que encontra, talvez pela primeira vez, os mensageiros do Evangelho e lhe oferece «um copo de água». Este ato de amor, mesmo se aparentemente de pouca importância, não deixará de dar fruto; instaurará uma relação de confiança e marcará o início de um diálogo. Qualquer gesto que favoreça o encontro e a comunicação entre as pessoas é precioso e deve ser encorajado.

Os conflitos, as divisões, os cismas na Igreja foram sempre devidos ao orgulho, à ambição do poder e à vontade de dominar os outros. O escândalo que ainda hoje mantém afastados da Igreja os «pequenos» continua a ser o mesmo: o espetáculo pouco edificante das competições e intrigas para ocupar os primeiros lugares e obter privilégios.

 

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