Pedro e Paulo representam dois caminhos diferentes, mas complementares de edificação da Igreja.
Crer e conhecer a Jesus é aceitá-lo e confessá-lo como o Salvador enviado por Deus para redimir a humanidade da sua escravidão ao pecado e da descrença, colocando-a no caminho da vida verdadeira pela fé no perdão de Cristo. Pedro e Paulo tinham esta convicção e não se negavam a confessá-la.
O Senhor confia-se a pecadores como nós
Celebramos a solenidade dos dois santos fundadores da Igreja, S. Pedro e S. Paulo, dois santos que antes de o serem foram dois grandes pecadores, como a maioria de nós.
Pedro e Paulo, os dois pilares da Igreja, como costumamos dizer; dois fundadores, mas sem que a iniciativa tenha sido sua, pois ambos foram chamados. A massa de que eram feitos era a mesma – eram grandes pecadores; as origens, bem diferentes, um do grupo dos doze, conterrâneo, judeu, o outro, um pagão, perseguidor de Cristo em terras longínquas. A Cristo, o pecado, a diferença de temperamentos e de origens, não importa. É sobre esta dupla, que à luz dos nossos critérios dificilmente aconteceria, que a Igreja se constrói.
Estes princípios que nos revelam da comunidade que é a Igreja? Desde o princípio, a Igreja é esta comunidade aberta à diferença, onde todos são chamados e têm lugar; ou seja, há diferentes maneiras de ser cristão, são muitos os caminhos e as possibilidades de seguir Cristo e O levar aos homens e mulheres do nosso tempo. A Igreja é querida por Cristo como sacramento de salvação, e a sua missão é bem maior do que os seus membros, pois é através de homens e mulheres fracos que a Igreja anuncia Cristo vencedor do mal e da morte. O Senhor confia-Se, não a puros e perfeitos, mas a pecadores como nós.
Uma alegria e um dom que se tornam também uma grande missão porque nos torna¸ ainda que pecadores, corresponsáveis na missão da igreja e da construção do reino de Deus entre nós.
Uma pergunta que exige uma resposta comprometedora
“E vós, quem dizeis que eu sou?”
E eu? E tu? Quem é Jesus Cristo para mim… para ti?
É uma pergunta incontornável. Pedro e Paulo não lhe resistiram, deixaram-se seduzir por Alguém mais forte que eles com quem conformaram toda a sua vida.
Face a face comigo mesma, face a face com o Senhor que no silêncio do encontro ou na azáfama da vida me fala, no mais íntimo de mim, onde ninguém pode entrar, ouvir ou espreitar, onde eu não me posso trair – que resposta Lhe dou? Quem é Cristo para mim? Contar com Ele na minha vida, onde me leva?
A Pedro, que na docilidade ao Espírito respondeu, rendido ao Messias esperado mas sempre inesperado, Cristo declarou “Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.
A identidade de Pedro é confirmada pela resposta dada. Sabendo quem é Cristo, fica a saber quem é ele e para que serve a sua vida. Aí está o seu princípio, o seu fundamento, o sentido para o qual deve convergir a sua existência.
Hoje, se à luz do dia, das nossas relações, sob os ruídos da vida, um amigo, um colega, um vizinho, um desconhecido me perguntar “Quem é Cristo para ti, que lugar Lhe dás na tua vida?”
Da resposta encontrada e do que a nossa vida falar, virá a resposta para os outros. Do que realmente for a presença de Cristo em nossas vidas, dependerá continuarmos a ser, nós, pecadores, no século XXI, fundadores como Pedro e Paulo, construtores da Igreja onde não há uma só forma de ser, de estar, de celebrar, de rezar, mas onde o que conta é sabermo-nos filhos do mesmo Pai, chamados pelo mesmo Senhor, convidados a anunciar uma Boa Notícia que não é invenção nem de inspiração humana.
Que São Pedro e São Paulo, tão diferentes um do outro, mas ambos chamados e seduzidos pelo amor do mesmo Deus, nos ajudem a sermos capazes de incluir, de entrar e nos mantermos em diálogo com os que são e pensam diferente de nós.