Começa hoje um novo ano litúrgico. Este ritmo de anos que se sucedem lembra-nos que a vida é um caminho e que o tempo de preparação para uma eternidade feliz no Céu se esgota, passa e não volta mais.
A Igreja anima-nos a que permaneçamos vigilantes, isto é, atentos aos acontecimentos e chamadas de atenção, acordados e com capacidade de resposta às solicitações.
1. O Senhor virá
O Senhor virá ao nosso encontro. «Sucederá, nos dias que hão-de vir, que o monte do templo do Senhor se há-de erguer no cimo das montanhas e se elevará no alto das colinas.»
Com o primeiro Domingo do Advento, renova-se a promessa da vinda do Senhor e é-nos oferecido tempo de preparação para o Natal de Jesus, começando um novo ano litúrgico. Nele vamos celebrar os principais acontecimentos do mistério de Cristo.
Na verdade, a vida neste mundo é um caminhar ao encontro de Cristo que, por Sua vez, vem ao nosso encontro na Palavra e na Eucaristia.
Quando nos pomos a caminho, em viagem, somos movidos pela esperança; desejamos alcançar a meta que nos propomos.
Desejamos, nesta caminhada do Advento, preparar a vinda de Jesus Cristo, nosso único Redentor.
• Vinda histórica. Queremos celebrar o nascimento histórico de Jesus. Pela celebração litúrgica, tornamos presente, actual este acontecimento da vida de Jesus Cristo e tomamos parte nele.
A celebração do Natal entrou em todas as culturas e religiões. Não podendo acabar com ela, algumas pessoas e grupos procuram desvirtuar-lhe o significado.
– Criaram a figura do Pai Natal, para substituir o Menino Jesus. A figura que nos apresentam é a de S. Nicolau, Bispo de Bari, que se tornou célebre pela sua caridade para com os mais necessitados.
– Preparar o Natal, a celebração deste acontecimento histórico, é, para alguns, consumismo e culto da boa mesa.
– Outros ainda reduzem-no a dar e a receber prendas e gratificações. Estas podem ser expressões da comunhão e amor que Ele veio trazer ao mundo dos homens.
• Vinda escatológica. Esta acontecerá no fim dos tempos, quando Jesus vier sobre as nuvens do Céu para nos julgar.
Depois deste tempo de prova na terra, Deus examinará a nossa vida para ver se somos merecedores de prémio ou – o que Ele não permita – de castigo eterno.
Jesus falou algumas vezes desta vinda no fim dos tempos e do julgamento a que seremos submetidos.
• Vinda espiritual ou mística. Entre estas duas vindas – uma que aconteceu há dois mil anos e outra que não sabemos quando será – situa-se o nascimento de Deus em nós, pela conversão pessoal.
É sobretudo nesta que devemos centrar a nossa melhor atenção e fazer planos para facilitar a sua realização, entregando-nos à acção do Espírito Santo.
Durante o Advento, a Liturgia da Palavra chama a nossa atenção para aspectos concretos da nossa vida de relação com Deus, para nos ajudar. O Advento estabelece 4 pontos de referência: O Senhor virá; virá de Jerusalém; Filho virginal de Maria; o Senhor está perto.
2. Vivamos atentos
Entremos na arca da salvação. «Como aconteceu nos dias de Noé, assim sucederá na vinda do Filho do homem. Nos dias que precederam o dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca; e não deram por nada, até que veio o dilúvio, que a todos levou.»
• O mundo antes do dilúvio e o nosso. Jesus, ao falar da iminência do Dia do Senhor, compara as pessoas do dilúvio aos contemporâneos de Noé. Enquanto este santo Patriarca do Antigo testamento construía, por ordem de Deus, a Arca, preparando-se para sobreviver ao dilúvio com a sua família, os seus conterrâneos riam-se dele, porque lhe parecia sem sentido o que estava a fazer. Para quê cometer a “loucura” de construir uma grande barca numa planície enxuta? «Nos dias que precederam o dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca; e não deram por nada, até que veio o dilúvio, que a todos levou.»
Hoje fazem-nos a mesma pergunta e olham-nos com os mesmos olhos: Para quê ser casto, justo e verdadeiro, se ninguém nos vai pedir contas do que fazemos agora?
Esta mentalidade que o Inimigo promove explica tudo o que vemos hoje: divórcio e “recasamento”, com a hábil desculpa de que têm direito a ser felizes; união de facto, com a desculpa de que assim se podem separar quando quiserem; não acolhimento ao dom da vida, sob pretexto de que são um obstáculo a que os pais “gozem a vida”. Troca-se de par no matrimónio como quem muda de roupa; imitam-se os animais, no acasalamento ocasional; em vez de filhos vemos cães e… porcos, a acompanhar as pessoas na rua.
Não acreditaram na recomendação de Deus – não tinham fé – e acordaram quando já não havia remédio, porque tinha começado a chover e prolongou-se a chuva por quarenta dias, até que deixaram de ter pé e ficaram afogados.
• A Igreja, arca de salvação. Fazemos parte da Igreja desde o Baptismo. Às vezes somos tentados a deixar a cabeça e as pernas de fora. Estamos dentro, mas não aceitamos a sua vida e as suas regras.
O Concílio Vaticano II definiu a Igreja de Cristo – só esta! – como sinal e instrumento universal de salvação. Ela é uma barca que flutua, mas tem de vencer distancias com o esforço de todos os remadores que somos nós.
• A atenção aos que ainda não entraram. A Igreja não pode ser um refúgio de “bem-aventurados” onde nos refugiamos do contágio do mundo.
Enquanto estamos neste mundo, temos sempre tempo de entrar na arca, mas não sabemos quando começará o nosso dilúvio, isto é, quando terminará o tempo de prova e acabará a nossa vida… e é indispensável que estejamos dentro da arca quando ele começar.