Chamados por Deus, tornados «filhos da luz» pela graça do Santo Batismo, procuremos «permanecer no esplendor da Verdade» (Coleta) e ser verdadeiramente uma Comunidade de fiéis… A fidelidade à própria vocação é fruto da graça de Deus e da correspondência generosa e constante de cada um.
- A vocação é uma ato eterno e gratuito de Deus: «Chamou a Si os que Ele mesmo quis» (Mc 3, 13).
A passagem de Jesus pela terra está marcada por um imenso carinho a toda a gente; ao longo dos três anos de vida pública, Ele foi preparando o prolongamento e a continuação da sua missão redentora ao longo da história humana. Logo no início da sua pregação, podemos notar-Lhe um propósito bem concreto e preciso: escolher os homens que hão-de ser os seus continuadores. E começa por chamá-los: «Chamei-te pelo teu nome: tu és meu» (Is 42, 1).
A vocação é um ato eterno e gratuito de Deus pelo qual se desvela ao homem concreto o porquê e o para quê da sua vida inteira:
«Se me perguntais como se nota a chamada divina, como nos damos conta dela, dir-vos-ei que é uma visão nova da vida. É como se se acendesse uma luz dentro de nós: é um impulso misterioso que move o homem a dedicar as suas mais nobres energias a uma atividade que, na prática, chega a tomar corpo de ofício. Essa força vital, que tem algo de irresistível, é o que outros chamam vocação. A vocação leva-nos, sem darmos por isso, a tomar uma posição na vida que manteremos com vibração e alegria, cheios de esperança, até ao mesmo momento da morte. É um fenómeno que comunica ao trabalho um sentido de missão, que enobrece e dá valor à nossa existência. Jesus mete-se com um ato de autoridade na alma, na tua e na minha: essa é a chamada» (S. Josemaria).
- «Quem olha para trás não serve para o Reino de Deus» (Evangelho).
O profeta Eliseu quer ir primeiro abraçar seu pai e sua mãe…O Evangelho de hoje fala-nos de um outro a quem Jesus dirige o chamamento: «Segue-me». E ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai». E um outro: «Deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família». O Senhor, quando chama, exige um verdadeiro empenhamento, um compromisso vigoroso, uma dedicação sem limites nem condições: «Quem olha para trás, não serve para o Reino de Deus»; «O Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça»; «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos» (Ev.).
Para entender bem o que significa uma resposta pronta, decidida e vigorosa à vocação divina, há que pensar na sabedoria de Estêvão, primeiro mártir do Cristianismo, na palavra de Pedro, primeiro Vigário de Cristo na terra, no ímpeto de S. Paulo, o Apóstolo da gentes: nada podia conter ou diminuir a sua força; nem a cólera do povo, nem a violência dos tiranos, nem o ataque dos demónios, nem os perigos constantes. Como rio impetuoso passaram sobre tudo o que lhes apareceu por diante. A certeza da chamada, a consciência da missão, a fé heróica em Cristo ressuscitado despertava neles um arrojo sem limites: «Sei em Quem acreditei…Quem me separará do amor de Cristo?» (Rom 8).
Conduzidos pelo Espírito Santo, tornados servos uns dos outros pela caridade, amando o próximo por amor de Deus, mortificando as obras da carne, eles permaneceram firme no Senhor, perseverantes na sua vocação, com um zelo heróico que lhes comia as entranhas…(Cfr. 2ª leitura).
- Fidelidade à vocação.
Temos que ser fiéis à nossa vocação. A nossa fidelidade tem que ser inquebrantável, sem vacilações. Temos que pedir ao Senhor o dom da perseverança. A vocação não se discute. Ser fiéis significa estar muito perto de Deus e mais alegria que essa não existe: «A Seu lado viverei na plenitude da alegria» (Salmo de Meditação).
Ser fiéis significa ser felizes e contagiar os demais com esse contentamento e esse gozo. Ser fiéis significa ter «uma determinada determinação de seguir em frente, ainda que haja escuridão, ainda que se afunde o mundo, aconteça o que acontecer» (Santa Teresa de Ávila).
A perseverança vai unida à fé e à confiança em Deus, que não falta com as suas graças: «Com o Senhor a meu lado não vacilarei» (Salmo de Meditação).
Nossa Senhora, a Virgem fiel, de pé, junto da Cruz de Seu Filho, com a maior dor humana, é modelo de perseverança heróica, de fidelidade total a tudo o que Deus lhe pediu. «Quem é fiel no pouco também é fiel no muito». Que Ela nos consiga de Deus a graça da fidelidade à nossa vocação: «O Senhor é parte da minha herança, nas Suas mãos está o meu destino» (Salmo de Meditação).