As trevas recobriram o abismo quando Deus disse: «Faça-se a Luz!»
Luz é a primeira palavra de Deus pronunciada na Bíblia, palavra essa que assinala o início da criação. E desde o momento em que «Deus viu que a luz era boa», o homem nunca deixou de a amar, de a procurar, ao mesmo tempo que tem medo e foge da escuridão. As trevas evocam a morte e delas quer-se sair.
Quem nasce vem para a luz, quem morre encaminha-se para a terra das trevas. «Deus afirma Job – descobre os segredos das trevas e traz à luz o que é mais recôndito». Na concepção bíblica as trevas são apenas um estado provisório da luz, estão destinadas a tornar-se luz.
Deus é a luz e impregna de luz cada uma das suas criaturas: o orvalho torna-se na imagem poética de Isaías, orvalho de luz; também as nuvens, mesmo que escuras e ameaçadoras, estão carregadas de luz que resplandece, de improviso, quando se acende o relâmpago. Desde o seu início, a história da humanidade – diz-nos a Bíblia – foi uma sucessão de pecados. Já no capítulo 6 do livro do Génesis o autor sagrado, com um antropomorfismo audaz, afirma: «O Senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra, que todos os seus pensamentos e desejos tendiam sempre e unicamente para o mal. O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra, e o seu coração sofreu amargamente».
Na plenitude dos tempos, Deus interveio para fazer justiça ou, como diz o Salmo responsorial que nos é proposto hoje pela liturgia, para revelar aos olhos das nações a sua justiça.
Nós conhecemos uma só justiça, a forense, aquela justiça retributiva administrada pelos juízes nos tribunais onde se cominam castigos proporcionais às culpas cometidas. Não é esta a justiça de Deus. «Ele é Deus e não um homem». Não responde ao pecado com retorsões e vinganças, mas dando a maior prova do seu amor, doando ao mundo o seu Filho.
No Natal, Deus manifesta a imensidão do seu amor incondicional. Isso é a sua justiça. Todos os povos são convidados a contemplá-la com admiração e a deixar-se libertar do medo porque «No amor não há temor; pelo contrário, o perfeito amor lança fora o temor; de facto, o temor pressupõe castigo, e quem teme não é perfeito no amor».