O que é a oração? O que significa orar? Quando se deve orar? Como e porquê orar?
A liturgia deste Domingo põe diante de nós o tema da oração, sobretudo na leitura do Antigo Testamento e no Evangelho.
Iluminados pela Palavra de Deus, procuremos compreender a natureza da oração e reflitamos sobre o modo como rezamos.
Entremos no interior do nosso coração, procuremos bem no seu íntimo as motivações que nos levam a rezar.
A oração, valor a cultivar
Ao escutarmos a primeira leitura verificámos como Abraão intercede não só pelos justos e inocentes, mas também pelos habitantes da cidade pecadora cujas iniquidades haviam gerado a própria ruína. O Senhor na Sua bondade está disposto a atender a intercessão de Abraão e a perdoar. Porém, a grande tragédia reside no facto de não existirem dez justos naquela cidade.
Este diálogo leva-nos a refletir sobre o valor da oração de petição confiada e humilde, e leva-nos a descobrir a misericórdia de Deus, mais disposto ao perdão que ao castigo.
O ensinamento de Jesus
São, portanto, pertinentes as interrogações que colocamos no início desta celebração: O que é a oração? O que significa orar? Quando se deve orar? Como e porquê orar?
A Sagrada Escritura exorta-nos sempre a orar como agradecimento a Deus, em todas as situações por nós vividas. A primeira leitura e o Evangelho respondem a estas perguntas. A oração que Jesus propõe aos seus discípulos, quando estes Lhe pedem que os ensine a rezar, constitui uma síntese de toda a mensagem cristã. Nela se reflete o conteúdo da própria fé e o rosto de Deus em Quem se acredita.
O cristão fala diretamente com Deus, porque sabe que Ele é o Paizinho com Quem pode dialogar.
O Seu nome é santificado quando a sua salvação chega ao homem e este explode num grito de alegria e reconhecimento; quando um coração é liberto do ódio; um doente recupera a saúde; ou alguém restabelece a harmonia e a paz.
A nossa súplica muda o nosso coração e não a atitude de Deus, uma vez que o torna disponível para acolher o Seu Reino, porque está transformado e disposto a colaborar com a Sua vontade no projeto de salvação da humanidade.
Alimentação, vestuário, casa, saúde… são necessidades básicas de todos os homens. Ao pedirmos o «pão», colocamo-nos num constante estado de interrogação interior que nos recorda que essas necessidades básicas não são apenas para nós, mas para todos, sem qualquer sombra de egoísmo de nossa parte.
No cristão que reza, os sentimentos de amor para com o próximo devem fazer esquecer as ofensas recebidas e frutificar a reconciliação, pois só será atendido por Deus na medida em que prestar atenção aos demais.
Os problemas, as dificuldades, as provações podem levar-nos em entrar em crise e sufocar em nós a semente da Palavra de Deus. Daí o pedirmos para não nos deixar cair na tentação de abandonar a lógica do Evangelho, a fim de seguirmos o raciocínio das seduções mundanas.
A oração abre-nos a Deus e aos irmãos
Às vezes não nos sentimos ouvidos por uma razão muito simples: não sabemos rezar. Rezar significa sair de nós mesmos e abrirmo-nos ao diálogo íntimo de amor com o Pai, tal qual somos: cheios de desejos e boa vontade, mas também limitados e pobres.
Ao estabelecermos esse diálogo, saímos de nós mesmos e abrimo-nos a Deus, tornando-nos sensíveis às necessidades dos irmãos. Embora tudo pareça continuar igual, a nossa mente e o nosso coração mudaram radicalmente… a nossa oração foi escutada.
Mortos por causa do egoísmo, voltamos à vida porque nos unimos a Cristo pelo batismo, como nos diz S. Paulo na segunda leitura de hoje.
A graça batismal, que nos fez morrer para o pecado, é um apelo constante a renunciarmos à imperfeição, para nos unirmos ao Senhor participando da vida nova de Cristo ressuscitado. Assim, tornamo-nos ativos colaboradores com o dom de Deus nos caminhos da humanidade, que nem sempre são fáceis e agradáveis, mas exigem esforço, renúncia e sacrifício.
Só rezando durante muito tempo, e deste modo, conseguiremos ver com os olhos de Deus os acontecimentos deste mundo.