24 de dezembro de 2016 – Solenidade do Natal do Senhor – Celebração da meia-noite

Que alegria podermos celebrar mais este Natal do Senhor! E podermos celebrá-lo ao vivo com Jesus aqui no meio de nós.

Nasceu-vos, hoje, um Salvador!»

Celebramos hoje o nascimento do nosso Redentor. Deus faz-se hoje homem: vem hoje a nós, em forma humana. É isto o Natal – a Encarnação de Deus: Deus entra hoje na nossa história, se hoje escutarmos a sua Palavra, como entrou há dois mil anos na história daqueles e daquelas que, nessa altura, escutaram a sua voz. Se é certo que, historicamente, Jesus Cristo entrou em Israel e no Mundo, há dois mil anos, na prática só entra na história da nossa vida, quando o acolhemos na fé. A fé só se entende encarnada: vivida no tempo e no espaço. É o que faz a liturgia, que celebra hoje o que aconteceu outrora; é o que faz com a morte e a ressurreição de Cristo, na Eucaristia: «Isto é – hoje – o meu corpo entregue por vós; este é – hoje – o cálice do meu sangue derramado por vós»; é o que faz com o Natal: «Nasceu-vos, hoje, na cidade de David (Belém) um Salvador, que é o Messias, Senhor». Se assim não for, a liturgia será mera ‘lembrança’ intelectual, em vez de ser ‘memorial’ – celebração vivida – do que aconteceu.

Se hoje, descessem Anjos à nossa assembleia, dir-nos-iam o mesmo que disseram, há 2000 anos, aos Pastores de Belém: «Anuncio-vos uma grande alegria: nasceu-vos, hoje, um Salvador»: o mesmo Salvador que os Pastores encontraram, no hoje deles, em Belém é o mesmo que todos os homens e mulheres, que a Ele se foram convertendo, encontraram, no hoje deles, nas terras deles, ao longo dos 2000 anos de Cristianismo.

«Nasceu-vos, hoje, um Salvador!» Hoje, para nós… E, se não nasce para nós, hoje, de que nos serve que nasça ou tenha nascido há 2000 anos, para outros? E, se não nasce para nós, aqui – na nossa comunidade – de que nos serve que nasça ou tenha nascido, noutro lugar, para outros?

Um Deus presente no tempo e no espaço

Habituámo-nos a olhar para Deus, fora do tempo e fora do espaço. Quando muito, procuramo-lo em determinados momentos ou dias de festa, numa Missa; ou em determinado lugar, quando vamos a uma igreja ou a um santuário. E Ele procura-nos e espera-nos em todo o tempo e em todo o lugar e sempre dentro de nós e nunca fora: de dia e de noite, como aconteceu aos Pastores, que «viviam nos campos, onde guardavam o rebanho, de noite».

Desde que Deus se fez Homem, desde que Ele entrou no tempo e no Mundo, não O podemos procurar fora do tempo e do espaço. Por isso Se manifesta Ele em ‘sinais’, que podem ser vistos, em ‘palavras’, que podem ser ouvidas e em acontecimentos, que podem ser admirados ou guardados no coração: «e os Pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora anunciado»; «Isto vos servirá de sinal: achareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoira»…

Desde que Ele Se fez Homem, é nos homens que O devemos procurar, porque só neles e através deles O podemos encontrar: a esposa, no marido; o marido, na esposa; os pais, nos filhos; os filhos nos pais; e todos, nos mais pobres e mais fracos: nas crianças, nos doentes, nos idosos, nos deficientes.

O nascimento deste Menino não pode deixar o mundo como está: transforma as pessoas pela Sua Palavra – «se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações» – para que elas o transformem com a sua acção. Era o que o Profeta Isaías dizia e nós ouvimos na 1.ª leitura: «Pois o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha aos ombros e o bastão do seu opressor foram quebrados por Vós, como no dia de Madiã. E todo o calçado ruidoso da guerra, toda a veste manchada de sangue serão lançados ao fogo, tornar-se-ão pasto das chamas…»

E porquê? «É que um Menino nasceu para nós!…» Um Menino a quem Ele dá os nomes de «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz». Uma paz que, como o Menino há-de dizer, o mundo não pode dar… Paz que é vida em abundância, porque plenitude da Graça e do Bem, que só Deus pode oferecer, porque só Ele é bom: «Manifestou-se a Graça de Deus, que traz a Salvação para todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos e a viver com ponderação, justiça e piedade, no mundo presente…» (Tito 2, 11-12). Quem é tocado por esta Graça, não pode ficar como dantes, nem pode deixar o mundo como está.

Se o Natal é isto, porque é que nós o celebramos, como se fora o contrário de tudo isto? Onde está o encanto e a alegria, que irradiam dos textos da Liturgia?

Por isso, hoje é noite para nos deixarmos inundar desta alegria de nos sentirmos filhos amados de um Deus que se fez igual a nós para, connosco, fazer história e nos tornar herdeiros de uma eterna, abundante, plena e feliz.

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