Cada Ano Litúrgico é um símbolo do nosso arco de vida na terra. Começamos no Advento a celebrar a longa espera da humanidade a implorar a vinda do Redentor e acabamos por celebrar o mistério da Incarnação do Verbo na solenidade do Natal.
Na Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, celebrámos o mistério da Redenção operada por Jesus Cristo, de mãos dadas com a nossa generosidade.
Entramos no Tempo Comum, de vez em quando solenizado com alguma festa, símbolo do nosso caminho diário para o Céu.
Hoje, solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, celebramos o Seu triunfo sobre o pecado, pela recondução de todo o universo criado aos desígnios amorosos do Pai.
1. Jesus Cristo, único Rei
Quando proclamamos e aclamamos Jesus Cristo Rei do Universo, não queremos aludir a nenhum sistema político, mas aclamar a Sua ação redentora.
Pelo pecado dos nossos primeiros pais e pelos pecados de cada um de nós, toda a criação se foi afastando dos planos amorosos do Criador.
A ecologia é também um problema da redenção e respeitá-la é tratá-la como deve ser tratada a maravilha que o Pai nos legou, por Seu Filho.
O homem não conspira contra a natureza somente quando polui as águas, enche tudo de plásticos ou envenena a atmosfera com a emissão de gases tóxicos. Qualquer pecado que comete, qualquer desvio da vontade de Deus é um atentado contra toda a criação.
É um contra-senso proclamar com toda a solenidade e espalhafato o cuidado da ecologia e depois, por meio das leis e da conduta, destruir a família, a vida antes do nascimento, arrebatar o que não nos pertence e destruir a consciência das pessoas.
• Reconheçamos o reinado de Cristo. Depois da morte de Saúl, David reinou sete anos no Hebron, porque várias tribos não o queriam reconhecer como tal, apesar de ungido pelo profeta Samuel, cumprindo as ordens do Senhor.
Certo dia, porém, foram procurá-lo ao Hebron para lhe comunicarem que o aceitavam como rei de todo o Israel.
«Nós somos dos teus ossos e da tua carne. Já antes, quando Saul era o nosso rei, eras tu quem dirigia as entradas e saídas de Israel. E o Senhor disse-te: “Tu apascentarás o meu povo de Israel, tu serás rei de Israel”».
A Liturgia da Solenidade de Cristo Rei vê nesta passagem uma alusão velada à realeza de Cristo Rei do Universo, e convida-nos a imitar os israelitas que foram procurar o rei David. Convida-nos a fazer isto mesmo: a dizer a Jesus, com o coração enamorado, que O aclamamos como nosso Rei, nosso Senhor e único Salvador.
• Reinado de Cristo e conversão pessoal. Reconhecer e acolher a realeza de Cristo em nossas vidas significa dar mais um passo em frente na conversão pessoal.
Perguntemos, pois, com sinceridade ao Senhor: Cristo reina em mim pela vida na graça santificante e pela fidelidade à aliança do Batismo? Reina no meu trabalho, feito com amor, perfeição e a construir a unidade entre todos? Faço da minha vida um construtor de pontes entre as pessoas, ou alguém que passa a vida a levantar muros de separação?
Acolher o reinado de Cristo na nossa vida não pode ficar só em palavras, em atitudes triunfalistas, mas exige a conversão do nosso coração ao amor de Deus e à Sua Lei.
Somente depois de fazermos um propósito e um esforço sincero para acertarmos a nossa vida por este caminho poderemos dizer como os israelitas.
Então, Jesus Cristo rei renovará com cada um de nós, no íntimo do coração, a aliança batismal. «O rei David concluiu com eles uma aliança diante do Senhor e eles ungiram David como rei de Israel.»
• Vamos com alegria para casa do Senhor. Com esta disposição de aceitar sobre nós o reinado de Cristo, participaremos com alegria na celebração dominical; tomaremos nas mãos cansadas o nosso terço em cada dia para o rezarmos com devoção e os deveres de família e o trabalho, como expressões de amor a Deus, encher-nos-ão de alegria.
O que torna incómodo para nós o Domingo, a oração e todas as demonstrações de religiosidade, é que vivemos num mundo oposto ao de Cristo, um mundo dissipado, cheio de estímulos para o mal; e quando chega a hora de nos encontrarmos com Deus, em vez de nos enchermos de alegria, sentimo-nos fartos de tédio.
Voltemo-nos generosamente para o Senhor, e poderemos cantar cheios de felicidade: Vamos com alegria para a casa do Senhor.
2. Cristo reina pela Cruz
O Evangelho transporta-nos ao Calvário, na tarde de Sexta Feira Santa, quando Jesus está mesmo a terminar a Sua vida mortal.
• Na Cruz, com o Mestre. O sofrimento em que está mergulhado, em vez de despertar a compaixão, como seria normal e humano, leva os Seus inimigos a escarnecerem d’Ele, como se tivesse passado a vida pública a enganar as pessoas, com falsos poderes: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Ou então: «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo».
Não podemos ficar à espera dos aplausos dos homens e fazer as coisas para os conquistar. Deus pede-nos também o desprendimento do gosto de se ver aplaudido e de encontrar o reconhecimento daqueles a quem fazemos bem.
• Vitoriosos com Jesus Cristo Rei. Jesus referia-Se frequentemente à Paixão, Morte e Ressurreição como a glorificação dada pelo Pai.
Como se pode considerar glorificação esta derrota completa? Foi esmagado por causa dos nossos crimes, ninguém levanta a voz para defender a Sua inocência e bondade infinitas. Uns calam-se por cobardia; outros, porque se deixaram convencer por esta onda de mentira.
Sem saber que exprimia uma realidade, Pilatos mandou afixar sobre a cabeça de Jesus uma grande verdade: «Este é o Rei dos judeus». Ele é o Rei do Povo de Deus prometido aos Patriarcas, e o novo Povo de Deus é a Igreja.
A Paixão e Morte de Jesus é a maior prova de Amor infinito de Deus por nós. «Ninguém tem maior amor ao seu amigo do que aquele que dá a vida por ele.»
Bastava uma só lágrima, uma minúscula gota de sangue ou um simples ato de amor de Jesus ao Pai, para resgatar todas as pessoas de todos os tempos e lugares e de todos os seus pecados. Mas Jesus age com divina liberalidade e acumula em Si mesmo tanto sofrimento físico e moral que nenhum de nós seria capa de o abraçar.
A Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus são a manifestação do Amor infinito de Deus para connosco na única linguagem que somos capazes de entender.
O demónio fez tudo o que pôde para derrotar Jesus na Sua Paixão e não o conseguiu. A derrota seria afastá-l’O da comunhão com o Pai. Mas é precisamente ao Pai que Jesus entrega a Sua vida, no derradeiro momento. «Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito».
• Reina pela misericórdia. Os chefes deste mundo reinam pelo medo que infundem nas pessoas, pelo poder nem sempre usado como deve ser e pela esperança que alimentam de conceder benefícios. Isto quer dizer que reinam sem amor, sem conquistar as pessoas para a sua amizade.
Cristo reina pela misericórdia e começa a reinar ainda na cruz. Enquanto um dos malfeitores que tinha sido crucificado com Ele se une ao coro dos que O insultam, o outro reconhece a realeza de Jesus e implora a Sua misericórdia. «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza».
Imediatamente Lhe abre o Seu Coração misericordioso e, por ele, as portas do Paraíso. «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
• Triunfa por Amor. Vem depois o triunfo sobre a morte e o pecado, pela Sua Ressurreição gloriosa. Nós não seguimos apenas na vida cristã umas ideias belas, mas uma Pessoa viva que faz exclamar S. Paulo: «Vivo animado pela fé no Filho de Deus que me amou e Se entregou por mim.» (Gal 2, 29).
Já Lhe entregamos o nosso coração com toda a confiança? Façamo-lo neste momento, ou renovemos o nosso oferecimento.
• Aclamemos o Rei do Universo. Fora do amor a Jesus Cristo não há salvação. É uma sugestão perigosa do Inimigo a convicção de muitos contemporâneos de que Ele não faz falta na nossa vida e teremos uma vida menos complicada deixando-O de lado, pelo afastamento da oração, dos Sacramentos e desprezo dos Seus Mandamentos.
O afastamento prático do amor a Jesus Cristo leva rapidamente à pior das escravidões.
«Cristo é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; Porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, […] Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar»
• Instaurar tudo em Cristo. S. Paulo, pela vida e pelo exemplo, convida-nos a trabalhar generosamente pela instauração do reinado de Jesus Cristo.
Cada pessoa que ajudarmos a aproximar-se d’Ele com toda a confiança e tronar-se Seu amigo de verdade, acrescenta mais um pouco ao Seu Reino. Ele não quer os bens temporais, nem um triunfo oco de manifestações externas, mas o amor de cada pessoa.
Com Maria, Rainha do Universo, aclamemos a Jesus Cristo nosso Deus e nosso Rei.
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