23 de julho de 2017 – 16º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Basta olharmos um pouco para a realidade que nos cerca: injustiças, violência, miséria, fome, doença, desemprego e morte, para sentirmos logo os desafios que a vida apresenta. E mesmo que nos lancemos com toda a generosidade no trabalho pastoral, verificamos que os nossos esforços muitas vezes trazem poucos frutos e muitas desilusões. E perguntamo-nos: Porquê? Vale a pena? Porque é que Deus não Se manifesta de forma mais incisiva? A Palavra de Deus deste domingo poderá ajudar-nos a ver, julgar e agir melhor, fortalecendo as nossas opções em favor da vida e da liberdade. O Espírito vem socorrer a nossa fraqueza, tornando-se a súplica de quantos lutam por um mundo melhor.

O projeto de Deus voltado para a vida
A primeira leitura desta liturgia dominical foi extraída do último livro do Antigo Testamento a ser escrito. Embora redigida há cerca de dois mil anos (o seu autor provavelmente ainda viveria quando Jesus nasceu!) continua a ser, para nós, muito atual.
Não nos sentiremos, tal como os judeus de Alexandria do Egipto, um grupo de «justos», obrigados a viver num mundo completamente perverso? Nunca nos terá ocorrido a tentação de ver um dia a força de Deus destruir todos os profanos? Não teremos interpretado as calamidades, certas doenças e catástrofes naturais como um castigo de Deus?
O texto que nos é proposto responde a estas perguntas: a força de Deus é sempre grande, mas o seu projecto não é utilizado para castigar ou causar o mal ao homem; não inclui castigos ou desventuras, mas mansidão e indulgência. O seu domínio estende-se a todo o universo, mas destina-se a justos e ímpios. Deus não ama somente os bons, ama a todos, também os maus, porque todos são suas criaturas.
Com este modo de agir Deus quer ensinar-nos que devemos amar todos os homens, e não apenas os bons; depois, com toda a paciência, Deus possibilita o arrependimento a todos os pecadores, com o único desejo de que mudem de comportamento, a fim darem vida à própria felicidade.

A impaciência humana
Isto mesmo nos anuncia Jesus na parábola do trigo que cresce junto com o joio, isto é os bons com os maus, os justos com os pecadores. Efetivamente, no plano de Deus, é nesta perspectiva que se deve desenrolar a vida do homem.
Os servos da parábola deixam-se levar pela impaciência e pela preocupação de acabar depressa com o joio. Gostariam de resolver logo tudo, sem hesitações. O patrão não pensa como eles. Mantém a calma, não estranha, não se perturba nem se inquieta. O bem e o mal, diz o Senhor, não podem ser separados, devem crescer juntos, e assim será até ao fim, porque este não é o tempo nem o lugar para fazer a separação. Tal acontecerá, mas não agora, nem imediatamente.
O Senhor respeita a liberdade humana, torna possíveis as nossas opções, dá tempo a que nos arrependamos e convertamos. A presença do joio, tanto em nós como nos outros, provoca um grande desgosto. Gostaríamos de nos sentirmos acalentados pela imagem perfeita que fazemos de nós próprios. Quando somos obrigados a admitir que também em nós existe o mal, perdemos a calma e ficamos intolerantes, tornamo-nos duros, cruéis, inicialmente com os outros, depois connosco mesmos: examinamo-nos, interrogamo-nos, auto-castigamo-nos.
Somos, então, levados a compreender as eventualidades da História, a vida contrastada da Igreja, a nossa própria história pessoal, feita de trigo e de joio. Em cada um de nós existe um pouco de bem e um pouco de mal. Esta prova deve ensinar-nos a ser pacientes e tolerantes com as fraquezas e desequilíbrios dos irmãos. Uns e outros, até ao momento da ceifa, podem ser justos e pecadores. Por isso, necessitamos de rezar muito!

O clamor do Espírito
Mas, como se deve orar?
Paulo, na segunda leitura confessa: «Nós não sabemos como rezar», não sabemos o que pedir a Deus; por isso, diz-nos, o Espírito vem em nossa ajuda e sugere-nos o que devemos dizer ao Pai. Quando nos deixamos guiar pelo Espírito somos sempre atendidos. Ele aproxima-nos cada vez mais de Deus e abre-nos o coração aos irmãos.
Confiados na presença e atuação do Espírito, devemos abrir-nos à Sua acção decididos a corresponder-Lhe, isto é, precisamos de estar atentos, ser dóceis e ter vontade de responder.

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