23 de abril de 2023 – 3º Domingo da Páscoa – Ano A

Lentos de espírito para acreditar 

Podemos parecer-nos com aqueles dois discípulos que regressavam de Jerusalém tristes e desanimados naquele dia de Páscoa. A Paixão vergonhosa de Jesus tinha sido uma derrota terrível. Além disso custava-lhes a acreditar no que as mulheres vieram anunciar depois de irem ao sepulcro: que tinham visto uns anjos que afirmavam que Ele tinha ressuscitado.

Jesus reprende-os pela sua falta de fé. A Paixão de Jesus é um mistério que custa a aceitar. Também os nossos sofrimentos podem ser difíceis de entender. Só à luz da Paixão de Jesus perceberemos alguma coisa desse mistério.

Cristo é – dizia S.Pedro na 2ª leitura – o Cordeiro sem mancha que se ofereceu por nós em sacrifício: ”Não foi por coisas corruptíveis como prata e oiro que fostes resgatados da vã maneira de viver herdada dos vossos pais mas pelo sangue precioso de Cristo, Cordeiro sem defeito e sem mancha”. “Fomos comprados por grande preço” – lembra também S.Paulo (1 Cor 6, 20).

Jesus não regateou sacrifícios para nos libertar do pecado e das garras do demónio e nos abrir as portas do Céu. Temos de meditar muitas vezes no Seu amor e na maldade do pecado, dos nossos pecados que O obrigaram a tantos sofrimentos.

O mistério da Redenção é a manifestação do amor infinito de Deus por cada um de nós e do abismo da malícia das ofensas a Deus. Celebrámo-lo neste tempo da quaresma e da Páscoa e temos de meditá-lo muitas vezes.

 

Explicou-lhes em todas as Escrituras

 

Jesus pelo caminho vai-lhes explicando as passagens da Sagrada Escritura em que Deus tinha anunciada a Paixão e Morte do Messias para salvar a humanidade. Pelos profetas Deus tinha falado muitas vezes dos sofrimentos do Salvador prometido. Foi sobretudo Isaías que anunciou os tormentos do Servo de Yavé para pagar pelos pecados dos homens. Seria esmagado pelos sofrimentos, seria como um bicho da terra de que se desvia a cara, coberto pela imundície dos pecados da humanidade. Assim havia de salvar os homens e revesti-los da graça de Deus. Alguns relatos são quase uma descrição ao vivo dos acontecimentos da Paixão de Jesus.

 Agora aqueles dois ficam surpreendidos e contentes pelo que Jesus lhes ia mostrando. O coração deles ardia no seu peito enquanto lhes explicava as Escrituras.

Também nós devemos meditar uma vez e outra a Sagrada Escritura e especialmente a Paixão e a Morte de Jesus e não só na quaresma. S.Paulo dizia aos coríntios: ”nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gentios mas para os que são chamados por Deus, quer dos judeus quer dos gregos, é Cristo força de Deus e sabedoria de Deus, porque o que é loucura em Deus é mais sábio que os homens”(1 Cor 1,23-25)

 

Ficai connosco porque vem caindo a noite

 

Pedem a Jesus que fique com eles. E Ele, ao sentar-se à mesa, repete o que fizera na Última Ceia, três dias antes. É então que eles O reconhecem. Nesse momento Jesus desaparece.

Quis mostrar-lhes que continua connosco na Santa Missa. Nela nos fala e explica as Escrituras. Nela se dá a nós como alimento de vida eterna. Nela fica connosco até ao fim dos séculos.

Na Eucaristia é Jesus ressuscitado que continua a ensinar-nos através dos sacerdotes. Através deles continua a repetir o gesto da Última Ceia. Temos de abrir os olhos para O reconhecer. Temos de agradecer-Lhe por ter querido ficar connosco para nos fazer companhia, para nos animar, para nos encher de esperança e alegria.

Há anos em Espanha estava um homem à beira da estrada a pedir boleia. Parou um camionista e ao subir com a sua mala perguntou ao motorista se ia sozinho. Este respondeu meio a duvidar. Depois de sentado perguntou ao camionista porque tinha respondido daquela forma e ele disse: -Sabe, eu nunca vou só. Procuro falar com Deus durante a viagem e, ao passar por uma localidade e ao divisar as torres duma igreja, saúdo o Senhor que ali se encontra.

Aquele homem ficou muito agitado e disse ao camionista: -Pare por favor para eu descer. E explicou: eu sou o pároco destas terras e ia-me embora desanimado pela pouca correspondência desta gente. O senhor deu-me uma lição. Às vezes tenho-me esquecido que tenho Jesus perto de mim no sacrário.

Pode-nos acontecer o mesmo. Jesus ressuscitado está vivo em nossas igrejas, espera-nos para que desafoguemos com Ele os nossos problemas e para que saibamos olhá-los com os olhos de Deus. Temos de pedir-Lhe que nos dê uma fé grande e que nos encha da Sua alegria e da certeza da vitória.

Que saibamos, como os discípulos de Emaús, partilhar com os nossos amigos a novidade da presença de Cristo ressuscitado. Os dois voltaram a Jerusalém, apesar da hora tardia, para contarem aos Apóstolos a aparição de Jesus.

Nossa Senhora foi quem mais sofreu com a morte de Jesus mas também A que acreditou com mais firmeza no anúncio da Ressurreição. Muitos pintores representam a aparição de Jesus ressuscitado a Sua Mãe na manhã de Páscoa. E com certeza têm razão.

 

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