«Responde-me Senhor, porque eu sou pobre» – assim reza o salmista. É surpreendente a razão com o qual ele pensa convencer Deus a intervir em seu favor: eu sou pobre.
Para ter acesso aos palácios dos soberanos, dos dominadores deste mundo, são necessárias sólidas cartas de recomendação, é necessário exibir títulos de mérito, são necessárias credenciais e benemerência. Com Deus não é assim: o único certificado pedido para se ser recebido em audiência é um estado de pobreza.
As suas simpatias vão para os pequenos, os indefesos, os abandonados. Ele, «Pai dos órfãos e defensor das viúvas», prefere quem não conta para nada, quem é desprezível aos olhos dos homens. «Não foi por serdes mais numerosos que outros povos que o Senhor se agradou de vós e vos escolheu – diz Moisés aos Israelitas – vós até éreis o mais pequeno de todos os povos. Foi porque o Senhor vos ama».
«Os meus planos não são os vossos planos, os vossos caminhos não são os meus caminhos – diz o Senhor», e por esse motivo os planos e os caminhos de Deus são difíceis de entender.
Gedeão, chamado a levar a cabo uma árdua tarefa, questiona estupefacto: «Por favor, meu Senhor, como salvarei eu Israel? A minha família é a mais pobre de Manassés, e eu sou o mais jovem da casa de meu pai!»
As leituras de hoje apresentam-nos uma série de situações e de personagens insignificantes em quem Deus fez maravilhas. São um convite a reconhecer – como fez Maria – a nossa pobreza e a dispormo-nos a acolher a obra da salvação que o Senhor vem realizar.
Acolher o Senhor que vem não significa renunciar à alegria, mas abrir de par em par as portas à verdadeira alegria.
Maria é proclamada bem-aventurada porque acreditou que «no cumprimento de quanto lhe foi dito da parte do Senhor». Quantas promessas fez Deus pela boca dos profetas! Mas quando estas demoraram a realizar-se, os homens começaram a duvidar da fidelidade do Senhor. Pensaram ter entendido mal ou terem sido enganados. Começaram a repor a confiança nas suas próprias conclusões, nos seus projetos, nas suas escolhas e acabaram por fracassar. Maria, pelo contrário, é bem-aventurada porque acreditou em Deus, cultivou a certeza de que, não obstante todas as aparências contrárias, a palavra do Senhor cumprir-se-ia.
«Bem aventurada aquela que acreditou.» esta é a primeira bem-aventurança que se encontra no Evangelho de Lucas e – note-se -é formulada na terceira pessoa (não: Bem aventurada tu…) Isto indica que a bem-aventurança não está reservada a Maria, mas estende-se a todos aqueles que confiam na palavra do Senhor. No Evangelho de João esta mesma bem-aventurança encontra-se no final. O Ressuscitado dirige-se a Tomé: «Felizes os que crêem sem terem visto». A fé autêntica – aquela de que dá prova Maria – não precisa de visões, de demonstrações, de constatações. Funda-se no ouvir a Palavra e manifesta-se na adesão incondicional a essa Palavra.
Não é fácil acreditar, principalmente quando nos é pedido para ir contra o «bom senso». Há que ter muita coragem para acreditar que se realizarão as promessas feitas por Deus aos construtores de paz, aos não-violentos, àqueles que dão a outra face, àqueles que não se vingam, àqueles que dão a vida por amor. Maria mostra que vale a pena confiar nas palavras do Senhor, sempre. «Felizes, antes, os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática».