A solenidade do Pentecostes coloca diante de nós uma série de verdades que enchem a nossa alma de alegria e paz. O Espírito Santo renasça em cada ambiente, em cada Família, em cada pessoa.
1. No Evangelho de São João 14, 1-26 fala-se da vinda do Espírito Santo.
Entre as recomendações de Jesus salientamos: «Não vos deixarei órfãos… Eu voltarei a vós… Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse».
Perante isto, não admira que a Primeira Leitura desta Eucaristia, Actos dos Apóstolos 2, 1-11, comece desta forma: «Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar». Porquê? Porque viviam da espera! Esta espera gerou entre eles uma grande união.
Ao mesmo tempo em Jerusalém, devido às festas, encontravam-se pessoas das mais diversas Nações e falando línguas diferentes.
A vinda do Espírito Santo foi precedida de: «Um rumor semelhante a forte rajada de vento» e «viram aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles». Após isto: «Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas». Mais: «Cada qual os ouvia falar na sua própria língua».
Perante este fascinante cenário, palpa-se que a Igreja, Povo de Deus, nasce pela força do Espírito Santo, não por vontade humana. No Pentecostes vê-se que à Igreja pertencem, desde o começo, múltiplas línguas e diferentes culturas. A Igreja torna-se «católica», universal, desde o princípio, desde o nascimento.
2. A unidade da Igreja aparece vincada na Primeira Epístola aos Coríntios no versículo 13: «Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos baptizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito».
Diz o Papa Emérito Bento XVI: «A Igreja deve abrir as fronteiras entre os povos e romper as barreiras entre classes e raças. Nela não pode haver esquecidos e desprezados. Na Igreja existem unicamente irmãos e irmãs livres em Jesus Cristo. Vento e fogo do Espírito Santo devem abater as barreiras que nós homens continuamos a erguer entre nós. Por isso, devemos continuamente pedir que o Espírito Santo nos abra, nos conceda a graça da compreensão, de modo que nos possamos tornar o povo de Deus proveniente de todos os povos.
Em Cristo, que como único pão a todos alimenta na Eucaristia e nos atrai para si no seu corpo martirizado na cruz, nós devemos tornar-nos um só corpo e um só espírito».
3. Na abordagem do Santo Evangelho destacámos três frases de Jesus:
«A PAZ ESTEJA CONVOSCO» (João 20,19)
Retomamos a homilia de Bento XVI: «Esta saudação do Senhor ‘Shalom’ não é uma simples saudação mas sim o dom da paz prometida. Esta paz não é aquela que o mundo oferece mas a paz que só Deus pode dar. Esta paz foi conquistada por Jesus ao preço do Seu sangue.
Esta saudação do Senhor é uma ponte que Ele lança entre o céu e a terra. O Senhor desce por esta ponte até nós e nós podemos subir, por esta ponte de paz até Ele. Nesta ponte, sempre juntamente com Ele, também nós devemos alcançar aqueles que precisam de nós».
«ASSIM COMO O PAI ME ENVIOU TAMBÉM EU VOS ENVIO A VÓS» (João, 20, 21)
Jesus, com este envio, deseja que a sua missão continue através dos Apóstolos e seus sucessores. É a Igreja «Apostólica» que aqui se perfila.
Cito, de novo, Bento XVI: «Cristo diz isto também aos sacerdotes. Com a ordenação sacerdotal vós inseristes-vos na missão dos Apóstolos.
O Espírito Santo manifesta-se precisamente ordenando a missão no sacramento do sacerdócio, com o qual continua o ministério dos Apóstolos. Através deste ministério, vós sois inseridos na grande multidão dos que, a partir do Pentecostes, receberam a missão apostólica.
Vós sois inseridos na comunhão do presbitério, na comunhão com o Bispo e com o Sucessor de Pedro, que aqui em Roma é também o vosso Bispo.
Todos nós somos inseridos na rede da obediência à palavra de Cristo, à palavra d’Aquele que nos dá a verdadeira liberdade, porque nos conduz nos espaços livres e nos horizontes amplos da verdade.
Precisamente neste vínculo comum com o Senhor nós podemos e devemos viver o dinamismo do Espírito.
Como o Senhor saiu do Pai e nos doou luz, vida e amor, assim a missão deve continuamente pôr-nos em movimento, tornar-nos inquietos, para levar a quem sofre, a quem está em dúvida, e também a quem hesita, a alegria de Cristo».
«SOPROU SOBRE ELES E DISSE-LHES: «RECEBEI O ESPÍRITO SANTO: ÀQUELES A QUEM PERDOARDES OS PECADOS SER-LHE-ÃO PERDOADOS; ÀQUELES A QUEM OS RETIVERDES SERÃO RETIDOS». (São João 20, 23)
Encerrámos com palavras de Bento XVI:
«O Senhor sopra sobre os discípulos, e assim dá-lhes o Espírito Santo. O sopro de Jesus é o Espírito Santo. Reconhecemos aqui, antes de mais, uma alusão à narração da criação do homem no Génesis, onde está escrito: ‘O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida’» (Gn 2, 7). O homem é esta criatura misteriosa, que provém totalmente da terra, mas no qual foi posto o sopro de Deus. Jesus sopra sobre os Apóstolos e dá-lhes de maneira renovada, maior, o sopro de Deus. Nos homens, não obstante todas as suas limitações, existe agora algo absolutamente novo o sopro de Deus. A vida de Deus habita em nós. O sopro do seu amor, da sua verdade e da sua bondade.
O texto do Evangelho convida-nos a isto: a viver sempre no espaço do sopro de Jesus Cristo, a receber a vida d’Ele, de modo que Ele inspire em nós a vida autêntica a vida da qual morte alguma nos pode privar.
Com o seu sopro, com o dom do Espírito Santo, o Senhor relaciona o poder de perdoar. Ouvimos anteriormente que o Espírito Santo une, abate as fronteiras, guia uns para os outros. A força, que abre e faz superar Babel, é a força do perdão. Jesus pode conceder o perdão e o poder de perdoar, porque Ele mesmo sofreu as consequências da culpa e dissolveu-as na chama do seu amor. O perdão vem da cruz; ele transformou o mundo com o amor que nos doa. O seu coração aberto na cruz é a porta pela qual entra no mundo a graça do perdão. E unicamente esta graça pode transformar o mundo e edificar a paz.
Por fim, há o poder do perdão. O Sacramento da Penitência é um dos tesouros preciosos da Igreja, porque só no perdão se realiza o verdadeiro renovamento do mundo.
Nada pode melhorar no mundo, se o mal não for vencido. E o mal pode ser vencido unicamente com o perdão. Sem dúvida, deve ser um perdão eficaz. Mas este perdão, só o Senhor o pode dar. Um perdão que não afaste o mal só com palavras, mas realmente o destrói! Isto pode verificar-se unicamente com o sofrimento e aconteceu realmente com o amor sofredor de Cristo, do qual nós haurimos o poder do perdão».