2 de novembro de 2016 – Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos

Celebramos neste dia aqueles membros da Igreja que, terminado o tempo de merecimento na terra, se purificam e embelezam, para tomarem parte na festa em comunhão com a Santíssima Trindade que se prolongará para sempre.

Estes nossos familiares, amigos e conhecidos venceram o combate da fidelidade ao Senhor e estão confirmados em graça, de tal modo que estão seguros da sua salvação eterna. Necessitam apenas de cuidar da sua apresentação no Céu; e nós podemos e devemos ajudá-los.

Há, pois, na Liturgia desta Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos uma chamada para nós a uma pureza crescente de vida; e um fraterno apelo à solidariedade.

  1. Creio da Vida Eterna

A vida na terra é um tempo de provação na qual preparamos uma eternidade feliz. Certa manhã, S. Teresa de Ávila, ainda pequenina desafiou o seu irmão Rodrigo a caminhar para o norte de África, ao encontro dos mouros, para que os martirizasse. Pelo caminho encorajava o irmão, repetindo-lhe constantemente: «Para sempre, Rodrigo!» Ao que ele respondia: «Para sempre, Teresa!» O encontro com um tio pôs fim a esta aventura ingénua de duas crianças.

  1. a) Deus aguarda-nos de braços abertos. «Eu sei que o meu Redentor está vivo e no último dia Se levantará sobre a terra

Não somos pessoas iludidas que apenas seguem uns ideais belos, nesta caminhada terrena. Acreditamos num Deus vivo e procuramos amá-l’O com todas as nossas forças.

Vivemos na esperança de que Ele tem guardada para nós uma felicidade eterna, em comunhão de Verdade e Amor com o Pai, o Filho e o Espírito Santo e com toda a Igreja, no Paraíso.

Trabalhamos animados pela esperança. Vencida na terra esta prova de Amor, Deus abre-nos os braços e acolhe-nos para sempre no Céu.

O Amor de deus com que realizamos as mais diversas tarefas da vida é a marca de autenticidade, para o prémio que nos espera.

Participamos já na vida presente na comunhão com Deus e com toda a Igreja, embora de modo embrionário, pela vida em graça. Viveremos esta comunhão na Verdade e no Amor para sempre, na Vida Eterna.

  1. b) Ressuscitaremos. «Revestido da minha pele, estarei de pé; na minha carne verei o meu Deus.» Incorporados em Cristo pelo Batismo, ressuscitaremos à Sua imagem e semelhança.

O nosso corpo desfazer-se-á no seio da terra, voltando ao pó de que foi feito. No fim do mundo há-de reestruturar-se – substancialmente o mesmo corpo – para viver revestido dos dotes do corpo glorioso para sempre com Deus e com os irmãos.

A Igreja, na Liturgia das Exéquias, honra o corpo humano já sem vida, porque foi templo do Espírito santo, desde o Batismo até morte; e celebra naquele irmão a vitória de Cristo ressuscitado, proclamada pela sua vida de fé. É este o sentido da última homenagem da Igreja a alguém que parte ao encontro de Deus.

  1. c) O Purgatório, espaço de purificação. Entre a morte corporal e o fim do mundo, seguido da ressurreição dos mortos, há um espaço de purificação, diverso para cada pessoa, segundo a medida de Deus.

Seremos purificados dos nossos desvios da vontade de Deus no decurso da nossa caminhada na terra, quer quando nos abandonamos ao pecado, quer ainda quando nos recusamos a caminhar ao ritmo de Deus.

Há uma dívida contraída pelos nossos pecados. Quando estes são graves, mortais, devem ser absolvidos no sacramento da Reconciliação e Penitência ou, em caso de urgência, pelo acto de contrição perfeita. Mesmo depois de perdoados os pecados graves ou leves, resta ainda uma pena para expiar.

Estas manchas serão apagadas pela oração, pela penitência e boas obras – nesta vida – ou pela purificação antes de entrarmos na glória eterna.

Terminada a vida terrena, acaba o nosso tempo de merecer. Mas as pessoas que vivem ainda na terra podem socorrer com sufrágios as almas que ainda estão a ser purificadas.

O purgatório aparece como o lugar de embelezamento antes do festim eterno e é mais um gesto do carinho de deus para connosco. Os pais desejam contemplar os filhos com a maior beleza possível.

  1. A fé no Purgatório.

Deus revela as verdades maravilhosas da fé aos pequeninos, aos humildes. Aos autosuficientes, aqueles que confiam mais na capacidade do seu raciocino do que no Magistério da Igreja, deixa-os às escuras.

É uma verdade comprovada na história da Igreja. Os santos são os precursores das grandes descobertas dos teólogos.

Muitas afirmações do Concílio Vaticano II que passaram a ser património da fé já tinham sido escritas e pregadas por pessoas que hoje estão nos altares e que em vida sofreram porque as suas afirmações foram apodadas de heréticas.

As afirmações do Magistério da Igreja sobre o Purgatório são lineares e simples. De resto, querer compreender tudo, antes de o aceitar, é tornar inviável a entrega da inteligência que a fé nos pede.

  1. a) O purgatório, sinal do amor de Deus. O nosso Pai do Céu ama-nos tanto que nos deseja contemplar com a maior perfeição e formosura possíveis eternamente no Céu. Não são assim todos os pais e mães do mundo? É o amor que os leva a realizar muitos sacrifícios, para que os filhos tenham qualidade de vida e se apresentem com a maior dignidade possível.

Alem disso, o Céu é uma festa que perdurará por toda a eternidade. Vale a pena preparar-se bem para tomar parte nela.

É convicção de muitos que se o Senhor facultasse a cada alma tomar parte na felicidade do Céu com as manchas que levam da terra, possivelmente, elas recusariam, porque desejam estar lá o mais formosas possível.

É verdade que toda esta linguagem é analógica, porque se torna impossível exprimir com perfeição verdades que só conhecemos pela luz da fé.

  1. b) As penas que nos purificam. Nada está revelado sobre as penas do Purgatório. Ficamos apenas com a afirmação de Jesus: «Há pecados que não são perdoados nesta vida nem na outra.» Não se trata, com certeza, de pecados mortais. Para esses acabou o tempo de mudar de opção.

A saudade, tão portuguesa e tão lembrada pelos nossos escritores e poetas, pode ajudar-nos a vislumbrar algo desta verdade. Uma pessoa sente saudade de outra que é amiga, mesmo sabendo que ela está bem e que vai encontrá-la em breve.

As almas do Purgatório estão confirmadas em graça, e sabem com certeza que já não podem perder a amizade de Deus – a graça santificante – e tomarão parte na glória de Deus para sempre.

Mas, agora que estão livres de tudo o que as distraía do principal, na vida terrena, vêem agora mais claramente que Deus é o Sumo Bem, a sua única felicidade. Alem disso, têm consciência de que a culpa deste adiamento do encontro com o Senhor se deve exclusivamente à sua culpa.

  1. c) Como podemos ajudar as almas. É uma fé constante da Igreja, desde os primeiros passos, que podemos sufragar as almas do Purgatório.

Já no Antigo Testamento Judas Macabeu mandou fazer uma colecta pelos soldados que tinham morrido em combate contra os soldados de Antíoco, em defesa da fé. (cf. 2 Mac 12, 43-46).

A Igreja ensinou e praticou sempre esta verdade, na pregação dos Homens da Igreja, na Liturgia e nos monumentos funerários.

De resto, os sufrágios são uma vivência excelente de comunhão na Igreja: «os que podem aos que precisam.»

Como meios de sufrágio são apontados: a oração, o jejum, a esmola, as indulgências aplicadas por elas* e, principalmente, a Celebração da Eucaristia.

Os sufrágios estão em sintonia com a devoção a Nossa Senhora. Recorda-se aqui o Privilégio Sabatino atribuído ao Escapulário de Nossa Senhora do Carmo. Trata-se de uma pia crença, avalada por muitos Sumos Pontífices.

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