Celebrámos ontem a festa do Céu, a vitória final de tantos irmãos nossos que gozam já da visão de Deus.
Hoje celebramos os que vivem a alegria da salvação já assegurada mas ainda não possuída, por terem ainda de purificar-se. Queremos ajudá-los com os nossos sufrágios a atingir mais depressa a meta desejada.
Na minha carne verei a Deus
Celebrámos ontem a Festa de Todos os Santos – a festa do Céu. Hoje lembramos os nossos familiares e amigos que morreram e se encontram no Purgatório, com a certeza já de irem para o Céu.
Ali não entrará nada manchado – diz a Bíblia (Cfr Ap.21, 26). Se alguém fosse a um jantar de cerimónia com manchas na roupa estaria incomodado todo o tempo do banquete. E procuraria, quanto antes, tirar essas nódoas mesmo pequenas.
No Céu não podemos estar incomodados mas totalmente felizes. Por isso as próprias almas que morrem em graça e dão conta de alguma falta por limpar vão tratar de o fazer nesse lugar de purificação a que chamamos Purgatório.
Em Fátima na primeira aparição, Lúcia perguntava a Nossa Senhora por duas das suas amigas que haviam morrido há pouco tempo:
– «A Ana das Neves já está no Céu?
Ela respondeu-lhe:
– Sim está.
– E a Amélia?
– Estará no Purgatório até ao fim do mundo» (Memórias I, Fátima 1987, p.158).
Estes dias são para nós ocasião de avivar a nossa fé nas verdades eternas, que Jesus nos revelou e que a Santa Igreja continua a recordar-nos e que hão-de dar sentido à nossa vida. Estariam perdidos os ciclistas da Volta a Portugal se não pensassem na meta.
Parecem incómodas para muitos, nestes tempos, porque são cobardes e não querem corrigir o que está mal em suas vidas. Preferem viver de olhos fechados e enganarem-se a si próprios. Para nós que temos fé são motivo de esperança e de alegria, mesmo nas contrariedades da vida ou no luto pela partida dos nossos entes queridos.
Vinde a Mim todos os que andais sobrecarregados
Devemos preparar a nossa própria morte, vivendo sempre na graça de Deus. O Senhor diz-nos no Evangelho: «Vinde a Mim vós todos que andais cansados e aflitos e Eu vos aliviarei». Ele é o nosso amigo que nos acompanha pelos caminhos da vida, que nos ilumina com a Sua doutrina, que nos aponta o caminho seguro e que nos dá a Sua graça e a Sua amizade em todo o momento. Ele disse: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida: Ninguém vai ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 6 ).
Temos obrigação de ajudar a todos, por razões de caridade, a encontrar este caminho e a chegarem um dia ao céu.Com os pais e familiares temos uma obrigação mais forte, que é, muitas vezes, um dever de justiça.
E não podemos ser descuidados e cobardes. Há pessoas que morrem sem alguém que lhes lembre os sacramentos, que avise o sacerdote para ir visitá-lo. Alguns têm a ideia tola e antiquada que podem assustar o doente e fazer-lhe mal. Passa-se o contrário. A confissão e a comunhão são conforto para a alma e também para o corpo. Jesus deixou a Santa Unção para ajudar também no corpo.
- Tiago diz na Bíblia: «Está entre vós algum enfermo? Chame os presbíteros da Igreja e estes façam orações sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor: a oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o aliviará; se estiver com pecados ser-lhe-ão perdoados» (Tg 5, 14-15).
Temos de falar aos doentes dos sacramentos, da ajuda maravilhosa que Jesus lhes dá. Devemos falar-lhes do Céu com clareza e carinho, animando-os a aceitar os sofrimentos com alegria e a oferecer a Deus a própria vida.
Devemos além disso ajudar os pais e familiares a deixarem as coisas bem ordenadas, para o caso de o Senhor os chamar: testamentos, dívidas por pagar, promessas por cumprir, obras de caridade a acautelar.
Os filhos e herdeiros têm o dever de justiça de ajudar os idosos e doentes. Na alma e no corpo. Sabendo sacrificar-se generosamente por eles. Além do dever cumprido, estão a fazer a Jesus essas obras de amor. «Tive fome e deste-Me de comer, tive sede e deste-Me de beber… – Quando Te vimos com fome ou com sede…e Te fizemos isso? – Quando o fizestes ao mais pequeno dos meus irmãos a Mim o fizestes» (Mt 25,34-41)
Uma ação muito digna e nobre
Depois da morte temos outros deveres a cumprir para com os nossos entes queridos. Em primeiro lugar rezar por eles. Numa das leituras deste dia fala-se de Judas Macabeu, um grande general que procurou sufragar as almas dos seus soldados mortos em combate, em defesa da religião. E diz esse livro da Bíblia que era um santo e piedoso pensamento. Este ajudar as almas dos que morreram proclama não só a fé na vida eterna e na ressurreição, mas também na existência dum lugar de purificação para além da morte e na possibilidade de ajudar os que ali se encontram.
A Igreja reafirmou em muitas ocasiões estas verdades e a história fala–nos do costume dos primeiros cristãos de sufragarem os seus defuntos. No Vaticano II lembrou: «Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo Místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam, cultivou com muita piedade desde os primeiros tempos do Cristianismo a memória dos defuntos e, ‘porque é coisa santa e salutar rezar pelos mortos, para que sejam absolvidos de seus pecados’ (2 Mac.12, 46), por eles ofereceu também sufrágios» (LG 50).
Santo Agostinho conta no livro das Confissões que a mãe, Santa Mónica lhes pedia a ele e seu irmão para não estarem a fazer grandes despesas com o seu funeral, mas para a lembrarem junto do altar de Deus. É uma lição bem actual. Hoje gasta-se muito dinheiro em flores. Nada podem ajudar os defuntos. Esquecem que poderiam ajudar mais mandando celebrar missas, dando esmolas pelos seus mortos e rezando mais por eles.
Orar pelos mortos é uma das obras de misericórdia. E além da caridade que cultivamos, avivamos também a nossa esperança, que é certeza de chegar ao Céu e de nos encontrarmos de novo com aqueles que amamos.
Que a Virgem nos ajude a crescer na esperança, que vem da fé e na caridade para com os que já partiram.