1º Domingo do Advento – Ano A

Iniciamos hoje a caminhada do advento. Ao longo dos próximos dias, passo a passo, iremos preparar o caminho para que Jesus possa vir ao nosso encontro e nós possamos reconhecê-l’O e acolhê-l’O quando Ele chegar. A Palavra de Deus que escutaremos nestes dias vai ajudar-nos a balizar esse caminho. A liturgia deste primeiro domingo do advento diz-nos: “vigiai”, “estai atentos”, “não vos deixeis adormecer”. Seria dramático se, por comodismo, por desleixo, por indiferença, por distração, perdêssemos a oportunidade de acolher Aquele que vem libertar o mundo e imprimir um dinamismo novo à história dos homens.

1ª Leitura 

Na visão do profeta, o “monte do Senhor” (o monte sobre o qual está construído o Templo de Jerusalém, o lugar onde Deus reside no meio do Seu povo) eleva-se e transforma-se no centro do mundo, sobressaindo entre todos os montes, não por ser o mais alto, mas por ser a morada de Javé (vers. 2a.b). De todo o lado chegam caravanas de povos e de nações que confluem para a cidade santa e sobem montanha acima, ao encontro do Senhor (vers. 2c-3a)… Quem foi que convocou todas essas pessoas, que força as atrai?

A resposta está no próprio cântico que acompanha a caminhada de toda esta gente: “vinde, subamos ao monte do Senhor, ao templo do Deus de Jacob. Ele nos ensinará os seus caminhos e nós andaremos pelas suas veredas. De Sião há de vir a lei e de Jerusalém a palavra do Senhor” (vers. 3b.c.d.e). Todos esses que chegam vêm atraídos por Javé e pela força irresistível da Sua Palavra; querem conhecer o ensinamento (a Tora, a Lei de Deus) e ser instruídos nos caminhos de Deus. A Palavra salvadora e libertadora de Javé atrai e agarra todos os povos, lança-os num movimento único e universal, reúne-os à volta do mesmo Deus, o soberano universal.

À medida que todos se juntam à volta de Deus, escutam a sua Palavra e aprendem os seus caminhos, as divisões, as hostilidades, os conflitos que dividem os povos vão-se desvanecendo. Primeiro, todos aceitam a arbitragem justa e pacífica de Deus (vers. 4a); depois, compreendem que não são necessárias armas: as máquinas de guerra transformam-se em instrumentos pacíficos de trabalho e passam a servir para cultivar a terra (vers. 4b.c.d). Do encontro com Deus e com a sua Palavra, resulta a harmonia, o progresso, o entendimento entre os povos, a vida em abundância, a paz universal.

Este quadro é o reverso de Babel… Na história da torre de Babel (cf. Gn 11,1-9), os homens escolheram o confronto com Deus, o orgulho e a autossuficiência; e isso conduziu à divisão, ao conflito, à confusão, à falta de entendimento, à dispersão… Agora, os homens escolheram escutar Deus e seguir os caminhos indicados por Ele; o resultado é a reunião de todos os povos, o entendimento, a harmonia, o progresso, a paz universal.

Quando se concretizará, finalmente, esta magnífica utopia da paz universal e da comunhão fraterna de todos os povos e nações?

 

2ª Leitura

Quando Jesus deixou o mundo e reentrou na glória do Pai, começou a última fase da história da salvação. É o “tempo da Igreja”, o tempo em que os discípulos de Jesus, conduzidos pelo Espírito, caminham na história e dão testemunho no mundo da salvação de Deus. Esta fase chegará ao seu termo quando Cristo vier novamente, no final dos tempos. Entretanto, como é que os discípulos de Jesus devem viver até lá? Qual a atitude que eles devem ter enquanto esperam a vinda do Senhor?

Paulo lembra aos cristãos de Roma – e aos cristãos de todos os tempos e lugares – que o tempo está a passar e que, em cada dia, estão a aproximar-se do encontro definitivo com Deus (vers. 11). Diz mesmo: “a noite vai adiantada e o dia está próximo” (vers. 12). Paulo pensava, provavelmente, na vinda mais ou menos iminente de Jesus Cristo, a fim de concluir a história da salvação; no entanto, a ausência de especulações apocalípticas mostra claramente que o interesse de Paulo não é no “quando” e no “como”, mas no significado e nas consequências dessa vinda.

Na perspetiva de Paulo, o fundamental é que os discípulos de Jesus não se deixem adormecer. “Adormecer”, no entendimento de Paulo, é instalar-se numa vida que esteja em contradição com os valores do Evangelho; é acomodar-se à mediocridade, ancorar a existência em valores que não dão sentido pleno à vida. O apóstolo fala, concretamente, em “comezainas e excessos de bebida”, “devassidões, libertinagens, discórdias e ciúmes” (vers. 13). Isso é, para Paulo, “viver nas trevas”.

O cristão, no entanto, quando fez a opção por Jesus, abandonou as obras das trevas. O seu horizonte passou a ser outro; nasceu para uma nova realidade, para uma vida nova, liberta do egoísmo e do pecado. Revestiu-se de Cristo e, iluminado por Cristo, vive na fé, no amor, no serviço, no perdão, dando testemunho da vida de Deus no meio dos seus irmãos (vers. 14). Agora identifica-se com Cristo e é um homem novo. Vive na luz. Mantém-se acordado, atento, vigilante, para não mergulhar outra vez nas trevas. Caminha ao encontro de Cristo, de olhos postos na vida que há de vir. Sabe para onde vai e não se deixa tentar por caminhos que não conduzem a lado nenhum. É dessa forma que os crentes esperam o Senhor que vem.

 

Evangelho

Há uma verdade que deve estar sempre no horizonte dos discípulos de Jesus: a segunda vinda do Senhor é certa. Essa convicção deve condicionar a forma como os discípulos se situam perante a vida.

Será possível saber o dia e a hora em que isso acontecerá? Jesus recusa-se a alinhar em previsões desse tipo (“quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe: nem os anjos do céu, nem o filho; só o Pai” – Mt 24,36). De resto, mais bem importante do que saber o dia certo e a hora exata é estar preparado para o encontro com o Senhor que vem. Nesse sentido, Jesus recomenda aos discípulos que se mantenham vigilantes e vivam com sentido de responsabilidade. Para que os discípulos tenham plena consciência do que está em jogo, Jesus recorre a três exemplos bem expressivos.

O primeiro (vers. 37-39) traz-nos o quadro da humanidade na época de Noé (cf. Gn 6-8). Nessa altura, os homens viviam numa alegre inconsciência, preocupados unicamente em aproveitar o momento e em gozar a vida o melhor possível (“nos dias que precederam o dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam em casamento” – vers. 38). Quando o dilúvio chegou, de improviso, apanhou-os de surpresa (vers. 39). Só Noé e a sua família estavam preparados: entraram na “arca” que tinham construído, salvaram as suas vidas, tornaram-se a semente de uma nova humanidade. Se o “gozar” a vida ao máximo for para o homem a prioridade fundamental, ele arrisca-se a passar ao lado daquilo que é importante e a não cumprir o seu papel no mundo. Não estará preparado quando o Senhor vier ao seu encontro.

O segundo (vers. 40-41) coloca-nos diante de duas situações da vida quotidiana: o trabalho nos campos e a moagem do trigo para fazer o pão. Uma e outra pertencem ao quadro banal da vida de todos os dias. Será aí – na “faina” habitual de todos os dias – que Jesus nos encontrará quando vier ao nosso encontro. Estaremos preparados para Ele e para os desafios que Ele nos traz? Embalados pelo ritmo trivial dos nossos afazeres e compromissos diários, podemos correr o risco de estreitar os nossos horizontes e de perder de vista aquilo que dá pleno sentido à nossa existência. Apesar da monotonia, da fadiga, da acomodação, temos de manter-nos vigilantes e atentos para reconhecermos o Senhor que, de repente, se apresenta na nossa vida.

O terceiro (vers. 43-44) refere o caso de um homem que, em lugar de permanecer vigilante, adormece e deixa a sua casa desprotegida. Se um ladrão aparecer, a meio da noite, o dono da casa não conseguirá impedi-lo de se apossar dos bens ali guardados. “Adormecer”, descuidar a vigilância, pode significar perder coisas verdadeiramente importantes, até mesmo falhar a vida.

Como devemos viver, nós que caminhamos pela história e que nos defrontamos todos os dias com as vicissitudes, as contrariedades, as alegrias e as tristezas que a vida nos vai trazendo? Jesus responde: “deveis viver atentos, vigilantes, preparados”. Jesus não entra em pormenores e não explica em que consiste essa vigilância e essa preparação; mas os discípulos que O escutam sabem bem do que Ele fala: têm de viver cumprindo a cada instante, com empenho e responsabilidade, o papel que Deus lhes confiou; têm de olhar permanentemente à volta para detetar, escutar e abraçar os desafios sempre novos que Deus lhes vai colocando no caminho.

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