O segredo para a verdadeira felicidade
O texto da primeira leitura de hoje, tirado do capítulo 9º do Livro dos Provérbios, descreve-nos, numa espécie de parábola, dois banquetes preparados, um pela Sabedoria, outro pela Insensatez.
Esta dona de casa, personifica a Sabedoria divina que pensa no bem-estar dos homens, e tem gosto de os sentar à sua mesa para os tornar felizes. Convida todos, mesmo os “inexperientes” ou ignorantes, isto é, aqueles que não compreendem a sabedoria divina; e os insensatos que imprudentemente arruínam a sua existência e se comportam de maneira estúpida e, por isso, se sentem infelizes: «Vinde comer do Meu pão e beber do vinho que preparei. Deixai a insensatez e vivereis; segui o caminho da prudência».
Ora, é preciso ter «fome», isto é, sentir-se pobre e com necessidade de se instruir no caminho da verdadeira felicidade.
É, para todos nós, um convite a escutarmos a Palavra de Deus, a alimentarmo-nos e guiarmo-nos por ela na vida, pois que a Palavra prepara a refeição eucarística que o Senhor deixou para alimentar os seus filhos.
Na realidade equivale a um convite ao acolhimento e adesão à proposta de Jesus Cristo, que se nos dá em alimento na Sagrada Eucaristia.
Está no acolhimento e adesão à proposta de Cristo
Nestes quatro últimos domingos temos vindo a ouvir a leitura do Evangelho de S. João no seu capítulo 6º em que Jesus ainda não havia falado na Eucaristia. Apenas no evangelho de hoje, que se inicia no versículo 51, é que Jesus se apresenta como o «pão vivo descido do céu», e acrescenta que esse pão é a «sua própria carne».
Ora, esta afirmação escandaliza os judeus, pois para eles a «carne» não são apenas os músculos, mas «a pessoa toda». E mais escandalizados ficam quando Jesus acrescenta uma determinação mais provocatória dizendo que é também necessário beber o seu sangue, porque segundo o texto bíblico do Levítico «a vida da carne está no sangue» (Lev 17, 10-11).
Jesus não pede para fazer muitas comunhões, mas para «comer a sua carne e beber o seu sangue». O gesto de se aproximar da Eucaristia significa acolher a Cristo e assimilar a sua Palavra de modo que ela, dentro de nós, anime toda a nossa vida e se torne parte de nós próprios, como acontece com o pão.
A sua carne e o seu sangue não se podem comer ou beber materialmente, mas toda a sua pessoa é que deve ser retida em nós através do sacramento, através do sinal.
Exemplifiquemos: Um rapaz namora e ama imenso uma determinada rapariga, mas no dia do aniversário dela, ele está ausente num país distante. Então, envia-lhe uma flor, que o torna presente no aniversário. A flor não é a pessoa, mas o “sinal” que o torna presente, que o identifica perante a sua amada. Por meio deste gesto simbólico, deste sinal, manifesta-lhe a alegria da sua presença nesse momento tão significativo da sua existência, o dia em que ela celebra o seu nascimento.
Ora, o objetivo que o discípulo de Cristo é chamado a alcançar é a sua identificação com o Mestre, é a união com Ele. Isto não pode acontecer materialmente porque Jesus morreu e ressuscitou há muito tempo atrás. Porém, o seu gesto de amor total, o dom da sua vida, é representado todos os dias através de um sinal.
Durante a Última Ceia, Ele deixou-Se a Si mesmo, no sinal do pão, que se deve comer, e no sinal do vinho que se deve beber. Ele está realmente presente e quem O recebe une-se a Ele, torna-se uma única pessoa com Ele. Esse é o verdadeiro e único caminho para a felicidade em todos os tempos, mesmo nestes em que muitos dizem ser maus.
Mesmo nestes tempos que ouvimos dizer serem maus
Sempre ouvimos os mais idosos queixar-se de que os tempos atuais são piores do que aqueles em que viveram a sua juventude. Também São Paulo, na segunda leitura de hoje, escreve que «os dias que correm são maus» e acrescenta que devemos compreender qual a vontade do Senhor, não nos comportando como insensatos, mas como pessoas sábias.
Estes conselhos são válidos para nós, hoje. Não sejamos irrefletidos, não percamos tempo com queixas inúteis sobre a situação em que vivemos; não lancemos um anátema sobre esta sociedade, acusando-a de estar corrompida e de ser a origem de todos os males. Desta forma, acabamos por pretender justificar-nos das nossas próprias fraquezas correndo o risco de sermos tentados a procurar fazer apenas o indispensável. Inventamos desculpas para nos livrarmos da culpa: «não vale a pena dizer, porque ninguém quer ouvir»; «já propus várias vezes e não aceitaram»; «tentei, mas não obtive resposta»!…
Como S. Paulo recomenda, devemos ser «sábios» reconhecendo que o mal existe e que tem um poder enorme no mundo e nos causa muitas dificuldades. Todavia, «devemos saber aproveitar o tempo presente». É aqui e agora, nas circunstâncias concretas e pequenas da vida, que realizamos na comunidade civil e eclesial a que pertencemos, com as pessoas que temos a nosso lado, que devemos fazer as nossas escolhas e lançar as pequenas sementes que o Senhor coloca nas nossas mãos.
Não desanimemos quando as dificuldades nos parecem intransponíveis, quando não conseguimos dar um sentido ao que acontece, recordemo-nos que aquele «Pão» que comungamos nos chama a todo o momento a unirmo-nos a Jesus Cristo, onde receberemos em dom, a luz e a força divinas. Saibamos unir-nos aos membros da comunidade cristã na oração comum, cantando, refletindo e comungando o Pão vivo descido do Céu, para recebermos a Sabedoria de Deus que nos guia para a vida que não tem fim.