Revivemos hoje, através da palavra que ouvimos, os últimos momentos que Jesus passou com os Seus discípulos.
Na véspera da Paixão, o Senhor quis preparar aqueles que O tinham acompanhado e seguido nos caminhos da Palestina, para uma separação que iria parecer-lhes definitiva nos momentos dramáticos do Calvário e da Cruz. Promete-lhes que não os abandonará, mas viverá para sempre no coração de cada um daqueles que O amam.
Ao dirigir-Se aos discípulos, Jesus anuncia aos homens de todos os tempos e de todos os lugares, que continuará presente no mundo e na Igreja, através do Espírito Santo. E porque o Seu amor – o amor do Pai – é infinito, Ele não quer ser apenas o Amigo que vive entre nós, mas quer viver connosco e em nós, em união total e comunhão de vida, a vida do Espírito que recebemos no Batismo.
Deus criou o homem para o fazer participar da Sua felicidade, se nos dispusermos a acolher em nós o dom gratuito do Pai, que é a presença do Espírito em nós. Acolher o Espírito é abrir o coração ao Deus-Amor que habita em nós; é deixar que Ele «invada» o que consideramos por vezes ser «o nosso terreno» – o nosso dia-a-dia, o nosso pensar, o nosso sentir – para que a nossa vida se transforme cada vez mais na Sua vida; é querermos identificar a nossa vontade com a Sua vontade expressa nos mandamentos que nos deixou.
É isto mesmo que Jesus hoje nos diz: «aquele que guarda os Mandamentos, esse é que me ama, e aquele que Me ama será amado pelo Pai e Eu amá-lo-ei».
Que importância e que lugar temos dado, até hoje, na nossa vida, a esta boa-nova de Jesus?
Se tomarmos verdadeiramente consciência dela, se abrirmos de facto os ouvidos e o coração para a escutar, compreenderemos que a vida de cada homem por mais humilde e apagada que pareça, exteriormente, tem em si mesma uma grandeza infinita: Deus habita nele e fá-lo comungar a Sua vida divina.
Esta certeza não pode deixar-nos indiferentes. Ela nos levará a respeitar cada homem, cada irmão, na sua vida, nas suas atitudes e opções, mesmo que sejam diferentes das nossas. E dar-nos-á de nós mesmos uma imagem diferente, uma imagem que veremos sempre através da «sombra» das nossas limitações e fraquezas, e que é essa «semente» de vida divina, queremos guardar e fazer crescer.