«Raça de Víboras! Quem vos ensinou a fugir da cólera que está para chegar? O machado já se encontra à raiz das árvores; por isso, toda a árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo». É com estas palavras severas que João acolhe todos os que vão ter com ele para serem batizados. Poderá até ter razão, mas certamente as suas ameaças não parecem ser uma «boa notícia» e nem sequer se harmonizam com o tema da alegria que carateriza as leituras deste domingo.
«Produzi frutos de sincero arrependimento!» – repete às multidões. Muito bem, mas quais são esses frutos? A gente simples, à qual ele se dirige, espera propostas claras, não discursos abstratos e genéricos.
Na primeira parte do Evangelho de hoje aparecem três grupos de pessoas – o povo, os publicanos, os soldados – que vão ter com o Batista para obterem indicações concretas. Trata-se de um esquema ternário de perguntas e respostas qe serve para apresentar situações exemplares. É um artifício literário que convida a aplicar o prncípio ascético indicado pelo Batista a outros casos semelhantes.
A pergunta – «Que devemos fazer?» – é retomada várias vezes na obra de Lucas. Indica a completa disponibilidade a acolher a vontade de Deus por parte de quem se dá conta de ter descarrilado, está decidido a mudar de vida e pede uma indicação acerca do caminho a empreender.
Imaginemos que algum de nós, desejoso de se preparar bem para o Natal, dirige esta mesma pergunta àqueles que consideramos «especialistas» em matéria religiosa (catequistas, animador da comunidade, religiosa, o padre). O que responderiam?
Alguém iria sugerir que ajudássemos um irmão que atravessa um momento de dificuldade ou que visitássemos um doente, mas teríamos também outras respostas: «Recita todos os dias o terço»; «Diz três “Salvé rainha” antes de adormeceres»; «Vai confessar-te … São bons conselhos – que fique claro – todavia o Batista não escolhe este caminho. Não sugere nada de especificamente «religioso», não recomenda práticas devocionais, cerimónias penitenciais (imposição das cinzas, jejuns, orações, ritos espirituais no deserto). Exige algo de muito concreto: uma revisão radical da própria vida a partir do princípio ético do amor ao irmão.
Na segunda parte do Evangelho o Batista retoma a sua linguagem aparentemente dura, rigorosa, quase intolerante. Fala da separação entre o trigo e a palha e ameaça com a destruição desta no fogo que não se apaga. Parece não deixar aos pecadores nenhuma margem para exultação: espera-os – garante ele – e está iminente, um terrível juízo de Deus.
E, no entanto, o severo discurso de João é concluído pelo evangelista com uma frase surpreendente: «Assim, com estas e muitas outras exortações, João anunciava ao povo a Boa Nova.
Para Lucas a mensagem do Batista é boa nova, é uma notícia alegre, é a promessa de um acontecimento feliz.
O modo de João se exprimir talvez não esteja de acordo com a nossa sensibilidade atual, não é nem doce nem terno, e, no entanto, aquilo que ele quer comunicar é alegria e esperança. Se considerarmos com atenção o texto, verificamos que ele não promete nenhum castigo de Deus, fala apenas da vinda do Espírito Santo e do fogo que aniquilará a palha.
Portanto, não são os pecadores que devem temer a vinda de Cristo, mas o pecado do qual é anunciada a libertação. Os pecadores devem apenas alegrar-se porque para eles chegou a libertação do mal que os mantém escravos.