Ser refugiado é não só ter a sensação de estar sozinho no mundo, mas fazer essa experiência todos os dias.
Morreram 14 pessoas por dia no Mediterrâneo a caminho da Europa durante o ano de 2016. Foi o ano mais trágico para mulheres, homens e crianças que deixaram as suas terras de origem por causa da perseguição ou da guerra: mais de 5000 mortes por afogamento no mar, na travessia para a desejada vida digna e em paz. O ano anterior, segundo Agência da ONU para os Refugiados, tinha feito 3771 vítimas.
Apesar das tensões que o tema gera, as ameaças de insegurança que está a provocar e a aparente falta de soluções administrativas para acolher o fluxo crescente de refugiados que chegam à Europa, uma certeza nunca pode ser esquecida: são pessoas! E o primeiro dever de todos os humanos é garantir as condições mínimas de humanidade aos seus semelhantes, ajudando-os antes de tudo a ser pessoas!
Em cada dia, é essa a determinação de um projeto escondido, nas margens de uma das principais ruas da capital, o Refeitório Rosália Rendu. A dedicação de uma religiosa vicentina e a colaboração de alguns voluntários tira a fome a migrantes e sobretudo refugiados, dos cinco continentes, escondidos em Portugal por diferentes motivos. Em cada refeição, no acompanhamento psicológico e social que lhes e prestado, transparece o realismo frio e rude da condição de “ser refugiado”, onde a fome é muitas vezes um mal menor. Pior que tudo é olhar permanentemente um muro cada vez mais intransponível, que impede qualquer tentativa de pensar um projeto de vida, procurar um trabalho, ter amigos, habitar qualquer recanto do planeta com um outro.
São essas as fonteiras de quem é irregular, permanece indocumentado, está obrigado a viver no anonimato e, um dia, viu a cidadania a distanciar-se no horizonte.
Ser refugiado é não só ter a sensação de estar sozinho no mundo, mas fazer essa experiência todos os dias.
No dia 15 de janeiro, assinala-se o Dia Mundial do Migrante e Refugiado. Uma iniciativa da Igreja Católica com o objetivo de incluir esse tema na celebração da fé das comunidades crentes, não apenas no ambiente dos altares, mas na missão, na ajuda a quem procura acolhimento e na denúncia de políticas e economias que estão na origem da fuga de muitas pessoas das suas terras. Um desafio que exige o compromisso de todos, em pequenos ou grandes projetos. O acolhimento local, na paróquia, é uma resposta necessária para um problema bem mais global.
Paulo Rocha, Agência ECCLESIA