14 de novembro de 2021 – 33º Domingo do Tempo Comum – Ano B

1) Mistério e realidade constituem a perspectiva dos últimos tempos, que normalmente são representados na Sagrada Escritura segundo a linguagem apocalíptica, carregada intensamente de “tintas foscas”, cuja finalidade é de despertar a atenção sobre as realidades últimas, os “Novíssimos”, morte juízo, inferno e paraíso, aos quais não podemos fugir porque marcam o limite extremo da nossa condição humana.

Dos “Novíssimos” temos já uma citação no Antigo Testamento: “In omnibus operibus tuis, memorare novissima tua, et in aeternum non peccabis” – “Em todas as tuas obras lembra-te do teu fim e jamais cairás no pecado” (Eclo 7,40).

A vida humana deve ser uma continua tensão escatológica, como peregrinação para a Jerusalém celeste de tal maneira que toda a pessoa no agir é voltada ao futuro, aos Novissimos – “Memorare novissima tua – e a eternidade se torna parte essencial da vida terrena.

Jesus – nesta linha – no Evangelho segundo S. Marcos (13,24-32) nos dirige uma mensagem “forte” e quanto mais compreensível sobre o fim do mundo e da história.

O que teve início com a Criação (cfr. Gn 1) terá um fim: “O sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas” (Mc 13,24.25), não será – como poderíamos pensar – um voltar para o abismo, mas para a realidade salvadora dada por Cristo na sua glória: “Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória” (Mc 13,26).

É de consolação, entre as leituras de ordem apocalíptica, meditar hoje o Salmo 15[16]

 

2) que nos coloca na dimensão salvífica própria de todo o contexto, infundindo esperança sobre a nossa condição futura: “Pois não haveis de me deixar entregue a morte, nem vosso amigo conhecer a corrupção” (v. 10).

Deste Salmo é relevante a exegese do biblista Card. Gianfranco Ravasi que coloca uma profunda reflexão sobre o mistério cristão, o mistério da vida, o mistério da comunhão e o mistério da história presentes nele.

Sublinha também, confirmando outros exegetas, que a antítese na qual se baseia o Salmo não é entre vida terrena e vida eterna, mas entre vida sem Deus e vida com Deus.

Outra consolação nos é dada na Carta aos Hebreus por saber que Cristo “sentado à direita de Deus. Não lhe resta mais senão esperar até que seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés” (Hb 10,12.13).

É pela vitória de Cristo, conseguida pelo sacerdócio eterno manifestado na Cruz, que nós temos a certeza na salvação: “Levou à perfeição definitiva os que Ele santifica” (Hb 10,14).

É a glória de Deus e a salvação a razão última dos últimos tempos: o Filho do Homem “reunirá os eleitos de Deus” (Mc 13,27) da diáspora neste vale de lágrimas.

Jesus nos ensina a saber discernir sobre o ponto final da História reconhecendo os sinais dos tempos que Ele nos indica.

Se esta é a realidade mais certa à qual prestamos fé pelas palavras de Jesus e também pelo senso comum, permanece mistério o momento no qual acontecerá: “Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (Mc 13,32): mais uma razão para preparar-se e para a vigilância.

O que importa não é a aleatoriedade do tempo, o “quando”, mas a certeza da salvação que nos é prometida: “Nesse tempo teu povo será salvo” (Dn 12,1).

Pela esperança confiamos na salvação porque Cristo “levou à perfeição definitiva os que ele santifica” (Hb 10,14) e porque nosso “destino está seguro em vossas mãos” (Sl 15[16],5).

A serenidade com a qual nos encaminhamos para os últimos tempos é dada pela força das palavras de Jesus: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13,32).

 

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