Obra do Espírito
A festa de hoje, com a qual se conclui o tempo do Natal, dá-nos a oportunidade de ir, como peregrinos em espírito, às margens do Jordão, para participar num acontecimento misterioso: o baptismo de Jesus por João Baptista. Ao anunciar o Messias, João Baptista disse: “Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo”. Essas palavras contêm uma mensagem válida para toda a história dos homens. O fogo é o símbolo bíblico do amor de Deus, que queima e purifica de todo pecado; o Espírito Santo indica a vida divina, que Jesus trouxe por meio da “graça”. Quando Jesus foi baptizado no Jordão, desceu o Espírito Santo, em forma de pomba, sobre ele. Este sinal não só evoca a figura do Espírito que pairava sobre as águas primordiais da criação, mas significa também que Jesus é como que o “ninho”, o lugar do Espírito.
No meio do povo que caminha para as margens do Jordão, Jesus também vai e quando recebeu o baptismo – escreve São Lucas – “estava em oração”. Este é um detalhe exclusivo de Lucas, que o repete ao narrar a Transfiguração do Senhor. É no contexto de oração no qual os factos se sucedem. Jesus fala com o Pai. E, deste modo, temos a certeza de que ele não só falou por si, mas também falou de nós e por nós.
“Tu és o meu Filho muito amado”
Com estas palavras, que ressoaram na liturgia de hoje, o Pai revela a identidade e missão de Jesus. No Jordão, além da manifestação de Jesus, há a manifestação da natureza trinitária de Deus: Jesus, a quem o Pai designa como seu Filho “muito amado” e o Espírito Santo que desce e permanece sobre ele.
No baptismo cristão, o Pai celestial também repete essas palavras referindo-se a cada baptizado. Ele diz-nos: “Tu és o meu Filho”. No baptismo somos adoptados e incorporados à família de Deus, em comunhão com a Santíssima Trindade, em comunhão com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo. É precisamente por isso que o baptismo deve ser administrado em nome da Santíssima Trindade. Estas palavras não são apenas uma fórmula; elas são uma realidade. Elas marcam o momento daqueles que são baptizados e renascem como filhos de Deus. Biologicamente aqueles que são apresentados no baptismo são filhos de pais humanos, mas, pelo baptismo, eles tornam-se filhos de Deus. Neste sacramento recebemos o Espírito que nos permite invocar a Deus como pai. É o novo nascimento da graça.
Incorporação à Igreja
A adopção como filhos de Deus, do Deus trinitário, é ao mesmo tempo incorporação na família da Igreja, inserção como irmãos na grande família dos cristãos. O baptismo iniciou-nos na vida cristã, integrados numa grande família que é a Igreja, povo de baptizados.
Na Igreja ninguém é cristão isolado. A partir do nosso baptismo, o cristão passa a fazer parte de um povo, e a Igreja apresenta-se como a verdadeira família dos filhos de Deus. Ora, o baptismo é a porta por onde se entra na Igreja. Pertencentes à Igreja, precisamente pelo baptismo, somos todos chamados à santidade, cada um no seu próprio estado e condição. O chamamento à santidade e a consequente exigência de santificação pessoal são universais: todos, sacerdotes e leigos, estamos chamados à santidade e todos recebemos, com o baptismo, as primícias dessa vida espiritual que, por sua própria natureza, tende à plenitude.
Outra verdade intimamente unida a esta, a da condição de membros da Igreja, é a do carácter sacramental do baptismo, impresso na alma. É como um selo que exprime o domínio de Cristo sobre a alma do baptizado. Cristo tomou posse da nossa alma no momento em que fomos baptizados, resgatando-nos do pecado e da morte.