11 de novembro de 2018 – 32º Domingo do Tempo Comum – Ano B

A mensagem cristã traz-nos um convite estimulante: ver as pessoas e as coisas, a partir da situação em que se encontram e dar-lhes o justo valor. É o gesto da viúva pobre que Jesus aprecia e a censura dirigida aos escribas pela presunção. É a partilha abnegada e confiante da viúva de Sarepta com Elias. É a entrega de Cristo pela felicidade de todos.

1. «O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males» (1 Tm 6, 10).
A Palavra de Deus, neste Domingo, leva-nos a abordar um tema delicado, a questão do dinheiro. Sei que é assunto muito delicado e que muitos preferem ser evasivos sobre tal matéria. Todavia, sabemos que a fé implica com toda a nossa vida e, por isso, é oportuno ter uma perspectiva evangélica acerca do uso dos bens materiais.
Ter fé não é como ir comprar um detergente ao supermercado e usá-lo só quando se precisa. A fé quando é verdadeira, quando é autêntica, mexe com todos os aspectos da vida: costumes, hábitos, maneiras de encarar o mundo e a vida, e também deve ser uma luz a orientar a dimensão material da nossa vida. Um cristão sério deve estar bem formado sobre a maneira como adquire e gasta os seus bens. É que nem todas as maneiras de ganhar e gastar o dinheiro correspondem à vontade de Deus. E muitas vezes a abundância de bens tem o seu preço. Quando não é acompanhada de uma fé bem formada, leva as pessoas a instalarem-se na vida e torna-as insensíveis para as necessidades dos outros.
S. Paulo dizia: «O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males» (1 Tm 6, 10). E Jesus contou aquele episódio de um homem rico que dizia para si mesmo: «‘Possuis um bom depósito para muitos anos; descansa, come e bebe, alegra-te!’ Mas Deus disse-lhe: ‘Louco! Nesta mesma noite vais ter que devolver a tua vida. E as coisas que amontoaste, para quem vão ficar?» (Lc 12, 19-20). Jesus comentava: «Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo mas não é rico diante de Deus» (Lc 12, 21).
Nós mesmos somos testemunhas de como, por vezes, a solidariedade vai desaparecendo à medida que melhora o nível de vida das pessoas. Isto significa que temos de dominar o progresso e o nosso próprio dinheiro, e não nos deixarmos dominar por ele. Tal só acontecerá quando nos deixarmos conquistar por Deus.
2. «Desde esse dia, nem a panela da farinha se esgotou» (1 Re 17, 16)
As leituras da Missa falam-nos precisamente de duas pessoas que se deixaram conquistar por Deus e por isso não eram escravas do seu dinheiro. Na primeira leitura, ouvimos o profeta Elias a pedir alimento a uma viúva. Esta viúva era pobre e tinha apenas um pouco de farinha e azeite para preparar a sua última refeição. Depois só lhe restava aguardar a morte pois já não tinha esperança de sobreviver. Contudo, confiante nas palavras do profeta, ofereceu as últimas provisões que lhe restavam. E Deus gostou do gesto desta mulher. Diz-nos a primeira leitura que «desde esse dia, nem a panela da farinha se esgotou, nem se esvaziou a almotolia do azeite» (1 Reis 17, 16).
Não custa nada apregoar que temos fé, que nos fiamos em Deus quando tudo nos corre bem e nada nos falta. Viver da fé há-de ser um contínuo arriscar-se, não por insensatez, mas por amor confiante, sabendo de que Deus é o melhor dos pais e não desampara nunca os Seus filhos.
3. «Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros» (Mc 12, 42)
Também o Evangelho nos fala de uma viúva que se aproxima da caixa das esmolas e lança a única moeda que tinha. É tão insignificante o seu valor, que ela cora ao pensar que alguém pode ver a quantia que ofertou. Que diriam os outros, se vissem o gesto desta mulher?
Se os homens olham às aparências, Deus vê os corações. Na verdade, Jesus estava atento e viu aquela viúva dar a sua oferta. Mas descobriu nessa quantia, humanamente insignificante, um verdadeiro tesouro. Perante Deus, as coisas não valem pela sua grandeza física, pelo seu valor material, mas pelo amor com que as fazemos, e esta mulher pôs na sua dádiva todo o amor porque deu a última moeda que possuía e que, por certo, lhe terá feito tanta falta.
A generosidade da viúva mereceu um elogio da parte de Jesus: «Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver» (Mc 12, 42-44).
4. «Deus ama quem dá com alegria» (2 Cor 9, 7)
Caros irmãos, Jesus deseja que os seus discípulos, todos nós, sejamos assim generosos. Contudo, a generosidade não é fruto de cálculos humanos, mas da docilidade ao Espírito Santo. Só na medida em que escutarmos a voz do Espírito é que saberemos como agir para agradar ao Senhor. Que a nossa vida cristã seja pautada pela generosidade da viúva do Evangelho que, embora dando pouco, deu mais que os ricos, porque deu o que tinha e lhe fazia falta, e mais… deu com amor.
A esta gratuidade, como expressão da fé na generosidade divina, que retribui na medida do dom do coração (1 Rs 17,14-16; Mc 12,43; cf. 2 Cor 9, 6-13), acrescente-se o exemplo do próprio Jesus que pagava o tributo, embora fosse o Filho do Senhor do templo (Mt 17,24-27).
Aos que fazem da sua vida um acto contínuo de misericórdia e generosidade, Jesus disse: «Dai e ser-vos-á dado» (Lc 6,38) e S. Paulo acrescenta: «Cada um dê como dispôs no seu coração, sem pena nem constrangimento, pois ‘Deus ama quem dá com alegria’» (2 Cor 9,6-7).
Contemplemos, por fim, a Virgem Santíssima, Ela que nos deu tudo, nos ofertou o melhor de todos os tesouros: o seu Filho, Jesus Cristo, em cujo nome professamos a nossa fé.

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