11 de dezembro de 2022 – 3º Domingo do Advento – Ano A

Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida, cubra-se de flores como o narciso, exulte com brados de alegria. Ser-lhe-á dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e do Sáron. Verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus.

1.       A Palavra de Deus que hoje escutámos fala-nos de salvação. Mas que salvação? Existirá ainda na cultura dominante que nos rodeia alguma consciência da necessidade de salvação? De facto, o progresso tecnológico e material dos nossos tempos tem ofuscado progressivamente esta consciência da necessidade de sermos salvos, criando em muitos homens e mulheres a ilusão de auto-suficiência e de felicidade, que dispensa qualquer outra busca de realização pessoal para lá da dimensão material. No entanto, cresce, de forma avassaladora, o consumo de anti-depressivos e ansiolíticos, reflectindo o aumento já estudado de problemas de saúde mental em grandes camadas da população. Afinal, como explicar esta contradição: num momento histórico em que tantos preconizam ter-se encontrado a felicidade na terra, batem-se recordes na quantidade de depressões e de outros problemas de saúde mental? Afinal a felicidade não nos deveria trazer maior tranquilidade e saúde mental? 

2.       O grande problema, de facto, foi ter-se promovido a ilusão de que a plenitude da felicidade se poderia alcançar aqui na terra, ignorando-se, ingénua ou deliberadamente, que o ser humano está destinado para ser feliz no Céu! O ser humano tem um destino grandioso, de eternidade. Mas há uma realidade que não o deixa vislumbrar essa verdade e da qual precisa de ser salvo: essa realidade é o pecado, o egoísmo, o orgulho, a injustiça. Só o pecado pode impedir o ser humano de alcançar esse destino de amor a que está chamado por Deus, em Quem encontrará a verdadeira e plena felicidade. Jesus veio precisamente curar-nos e libertar-nos do pecado, para nos oferecer generosamente a sua vida nova de amor! «Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam». Com estas palavras, Jesus remete-nos não só para os milagres visíveis que realiza com o seu poder, mas sobretudo para a transformação que Ele realiza nos corações que se abrem ao seu amor. Ele veio para que todo o ser humano saia da cegueira do seu pecado e se deixe iluminar pela vida nova que Deus lhe quer oferecer; para que robusteça os joelhos vacilantes e se levante para caminhar ligeiro pela senda da salvação; para que seja curado da propagação da lepra do pecado; para que abra os seus ouvidos à Palavra da Verdade; para que ressuscite da morte em que o pecado o encerrou! 

3.       Por isso, Jesus apresenta João Baptista como sinal profético deste caminho de salvação: ««Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então que fostes ver? Um homem vestido com roupas delicadas?». João Baptista, de facto, não era uma cana agitada pelo vento. Não se deixava dobrar diante dos interesses mesquinhos da política, da sociedade ou da cultura dominantes. Aliás, pagou com o seu sangue a sua firmeza na verdade! Sabemos também que não usava roupas delicadas, mas vestia-se com simplicidade e pobreza. Estas duas virtudes de João Baptista apresentadas por Jesus podem servir-nos de referência para trilharmos também nós, neste advento, a senda da salvação: a firmeza na fé e nos costumes e a simplicidade e pobreza de uma vida desprendida de tudo o que possa ser um peso e dificultar a nossa subida ao «esplendor do Carmelo e do Sáron». Estas montanhas aqui nomeadas são símbolo do Céu, da nossa felicidade com Deus. Deixemo-nos converter, façamos a experiência do deserto, do despojamento, da penitência feita com simplicidade, para podermos contemplar o esplendor do amor de Deus, para podermos saborear o grande banquete que o Senhor nos tem reservado!

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