O Natal de Cristo, no tempo, foi o epílogo do Antigo Testamento, mas foi, ao mesmo tempo, a inauguração do Novo Testamento, aquele em que se realiza a nossa existência atual. Celebrar o Natal é comemorar as duas vindas de Jesus: a do presépio de Belém já passada, mas a projetar a sua luz nos séculos que a seguiram; e a futura, quando Cristo Glorioso voltar duma forma difícil de imaginarmos a fim de julgar a humanidade inteira, «os vivos e os mortos».
Já no Antigo Testamento como lemos no profeta Isaías, havia uma promessa de Salvação. Eram palavras de esperança e consolação, porque falavam do perdão e sobretudo, do Messias que havia de vir. Com Ele há-de acabar a escravidão, Ele há-de ser Pastor que guarda as suas ovelhas, as alimenta e as guia. Mas, para receber o Messias Salvador, é necessário preparar o caminho como lembra a voz que clama no deserto: limpar, aplanar, endireitar… Esta voz aparece também no Novo Testamento – é João Baptista que vem para preparar «de perto» o ambiente para a pregação que Jesus vai começar. As palavras do Precursor são quase as mesmas mas anunciam Quem virá depois dele – o Messias.
Este mesmo apelo continua a chegar hoje, até nós, através da liturgia e da palavra da Igreja. O Senhor exprime, assim, os mesmos sentimentos e os mesmos cuidados em relação a nós, que somos o Povo de Deus peregrino. Sabemos que o Senhor já veio e temos a certeza que há-de vir. E entre estas duuas vindas sabemos que Ele nos acompanha, está connosco até ao fim dos tempos. Como andamos absorvidos pelas preocupações materiais, nem sempre nos apercebemos dessa presença – há «montes» obstáculos que temos que arredar para aplanar os caminhos que entre nós, permitem a chegada do Senhor. Também há «vales», vazios, falhas a preencher nas nossas vidas – são os pecados por omissão, o bem que devíamos fazer e não fazemos, o tempo que desperdiçamos e que não preenchemos com a oração.
Sendo o Advento o tempo litúrgico em que esperamos e desejamos a vinda de Jesus, é um tempo de conversão, isto é, de mudança de mentalidade e de atitudes na nossa relação com Deus e na relação com o próximo, preparando-nos para descobrirmos a Sua voz. E temos, aqui, uma dupla tarefa: prepararmos os caminhos para o Senhor pela conversão interior, sincera e efetiva, que seja notada nas nossas vidas; e também ser precursores, pelo exemplo e pela palavra, quando necessária e apropriada, levando aos outros esta nossa esperança. Na medida em que cada um de nós é percursor tem que aprender a lição, o estilo de João Baptista – sabemos que temos que nos interessar pelas realidades terrenas, que devemos trabalhar e lutar neste mundo. Sem ir para o deserto, sem chegar à autoridade extrema a que ele chegou, podemos cultivar o espírito de desapego das facilidades supérfluas, falar de Jesus e mostrá-Lo nas nossas vidas. Pensemos quais os «vales» e os «montes» a aplanar, nas nossas vidas, para preparar o caminho entre nós e Cristo, para o Natal que se aproxima.
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