1 de novembro de 2020 – Solenidade de Todos os Santos

Celebramos a festa de Todos os Santos. A Santa Missa é como que uma antecipação do Céu. Estamos diante do trono de Deus. Connosco estão os santos do Céu, as almas do Purgatório e toda a Igreja espalhada pela terra. Porque unidos a Cristo Sacerdote na unidade do Seu Corpo Místico. Apesar de não podermos contemplá-los alegremo-nos e avivamos a nossa fé..

Multidão que ninguém podia contar

O último livro da Bíblia fala das tribulações que temos de passar neste mundo para ser fiéis a Cristo. Mas fala também do Céu, da meta onde havemos de chegar.

Dele é tirada a primeira leitura que ouvimos. Nessa visão o Apóstolo mostra-nos a multidão imensa que ninguém pode contar dos que alcançaram a vitória com Cristo. E não são apenas cento e quarenta e quatro mil, como pretendem algumas seitas, que lêem a Bíblia com olhos torcidos.

Olhamos, hoje, para esses irmãos que já venceram. Animamo-nos com eles a ganhar o prémio. É preciso trabalhar e sofrer. É preciso passar pela grande tribulação. É preciso lutar por ser fiel, apesar da guerra que nos move o demónio e os que trabalham para ele. É preciso lutar contra as paixões desordenadas, que estão em nós até ao fim da nossa vida.

Com a graça de Deus, alcançaremos a vitória. Se somos humildes e se empregamos os meios que o Senhor pôs à nossa disposição. Ele lava-nos uma e outra vez no Seu Sangue divino, no Sacramento do Perdão. E alimenta-nos com o Pão da Vida eterna.

Os santos animam-nos a correr para a meta com mais entusiasmo. São a nossa claque, que puxa por nós. Entre eles estão, neste momento, muitos familiares e amigos que viveram connosco na terra.

Os santos do Céu são nossos irmãos, filhos de Deus como nós, pelo Baptismo. Formamos uma família maravilhosa muito mais real e unida que a família de sangue.

Eles são também para nós modelos para imitar. Lutaram e venceram. Copiaram nas suas vidas a Jesus, o Primogénito entre muitos irmãos, verdadeiro Deus e verdadeiro homem e modelo da nova Humanidade.

E foi dEle que receberam a graça. Lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro. Com Ele alcançaram a palma da vitória.

Os santos do céu dizem-nos, hoje, que vale a pena amar e sofrer por Jesus e trabalhar para que todos O conheçam e amem..

Veremos a Deus tal como Ele é

Todos desejam o Céu, porque todos anseiam por ser felizes. Muitos não descobrem o caminho. Por ignorância, ou por não quererem seguir as indicações de Jesus. Outros já desanimaram de lá chegar.

Vale a pena pensar no Céu. Como os ciclistas sonham com a meta e com o prémio. E este não é nada comparado com o que nos espera um dia. S.Paulo lembra: ”Nem os olhos viram nem os ouvidos ouviram, nem pela imaginação do homem passou o que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (1 Cor 2,9 ).

Que é afinal o Céu? Como podemos imaginá-lo ? Numa das cantigas de Afonso, o sábio, conta-se a história dum monge que no seu convento pedia a Nossa Senhora lhe deixasse saborear um pouquinho do Paraíso. A Virgem acolheu o seu pedido.

Quando regressou, ficou surpreendido. O mosteiro tinha mudado de aspecto. Os frades já não eram os mesmos. Ninguém o conhecia nem ele reconhecia ninguém. E bem explicava que tinha saído há uns instantes…O Abade pegou na história da casa. Ali constava que, havia trezentos anos, tinha desaparecido um monge com o nome do que estava à porta.

Trezentos anos pareciam uns instantes, para quem saboreava uma amostra do paraíso. Leo Treese num dos seus livros lembra que, ao chegarmos ao céu, se perguntarmos aos que ali se encontram se já chegaram há muito olharão para nós admirados: – mas nós chegámos mesmo agora!

Que é o Céu?

É a contemplação de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. ”Veremos a Deus tal como Ele é “(2º leitura). Vê-Lo-emos “face a face” (1 Cor 13,12), a Ele que é a beleza infinita e fonte da bondade e do amor. Se há coisas maravilhosas cá na terra, elas não passam de sombras de Quem as criou. E a sombra pouco é perante a realidade.

Essa visão amorosa de Deus não cansa. E sacia o coração do homem até o fazer transbordar. Por isso S.João, no Apocalipse, fala do céu como uma festa, com aclamações e cânticos de júbilo. Será um festim de felicidade, de harmonia, de amor, que não satura. Mergulharemos no mar de amor infinito que é Deus, inebriar-nos-emos desse amor, que O levou a tornar-nos Seus filhos, membros da Sua família, irmãos de todos os santos.

Com a visão e o amor de Deus teremos todos os bens que se possam sonhar. Como num banquete de iguarias maravilhosas.

Ali “não há nem luto, nem dor, nem pena. Tudo isso passou” (Apoc,21,4).

Vale a pena pensar no céu, sonhar com os olhos abertos, imaginar tudo o que há de melhor e de mais belo. E depois disso tudo ficaremos ainda infinitamente longe da realidade.

Vale a pena lutar e sofrer para amar a Deus. E para ajudar os outros a chegar ao Céu, a alcançar a salvação, a que todos são chamados. ” Os sofrimentos deste mundo –diz S.Paulo –não têm comparação com a glória que se manifestará em nós” (Rom 8,18 )

S.Tomás Moro, Primeiro Ministro de Inglaterra, condenado à morte por Henrique VIII, porque não aprovava o divórcio do rei, deu uma moeda de ouro ao carrasco que lhe ia cortar a cabeça, como gorjeta, porque lhe abria as portas do céu.

Alegrai-vos e exultai

O céu pode ser muito bonito -pensam alguns – mas vem muito tarde. E vale mais um pássaro na mão do que dois a voar. Vamos comer e beber e divertir-nos, gozar a vida neste mundo, pois o resto não passará dum sonho…

Esta mentalidade está metida em muitas cabeças. Até de muitos cristãos.

Jesus diz no Evangelho que isso é um disparate. O céu começa já neste mundo para os que amam a Deus. As bem-aventuranças são o código da felicidade já na terra.

Não são os ricos deste mundo que são felizes. Não são os poderosos. Não são os que têm o estômago cheio. Não são os que chafurdam no lamaçal de todos os vícios que são felizes. Vemos isso, aliás, com frequência, no mundo que nos rodeia.

Meditemos nas bem-aventuranças. Não são as coisas terrenas que podem dar a felicidade. Esta vem de Deus, fonte de todo o bem. Se nos dão um pouquito de prazer é por serem uma sombra do Seu Criador. Temos de ter o coração desprendido delas se queremos ser felizes. Não podemos permitir que nos afastem de Deus.

Se amamos a Deus, se temos fome e sede de justiça, se temos desejos de santidade, seremos felizes já na terra, mesmo que tenhamos de sofrer por Jesus. ”Bem-aventurados sereis quando por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, pois será grande no céu a vossa recompensa “ (Ev.).

O papa S.João Paulo II dizia aos jovens em Toronto: “O homem é feito para a felicidade. A vossa sede de felicidade é portanto legítima. Cristo tem resposta para as vossas expectativas. Pede porém que confieis nEle. A alegria verdadeira é uma conquista que não se alcança sem uma luta longa e difícil. Cristo possui o segredo da vitória”.

O cristão tem Deus no íntimo da sua alma. E o céu é Deus. Só não pode vê-Lo ainda. Mas sabe que tudo está nas mãos do seu Pai e que “tudo concorre para o bem daqueles que O amam” (Rom 8,28).

E tem a certeza que o espera a felicidade plena no céu. Se vive a sério a esperança que vem da fé, se luta por ser fiel ao Senhor nas coisas grandes e pequenas de cada dia, vive feliz já neste mundo.

 

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