O núcleo litúrgico desta quadra será a Páscoa; é um ciclo com preparativos e um tempo de felicidade consequente pela chegada do nosso Redentor que após a Paixão e Morte ressuscita.
A cinza é o símbolo do luto, da dor, da penitência; é a imagem da fragilidade humana.
No Antigo Testamento lê-se que os judeus, para expiar os seus pecados ou apartar de si as tribulações da doença, fome e guerra, recobriam de cinza, ou comiam o pão misturado com cinza.
A cinza dos holocaustos era tida como sagrada.
- O arrependimento interior não pode expressar-se apenas em palavras, sons vazios, significantes sem significado.
As catástrofes exteriores deixam-nos marcas económicas, contrariedades familiares, amigos perdidos, inimizades conquistadas; sabemos que «a natureza não perdoa, os homens perdoam algumas vezes, Deus perdoa sempre».
O choro exterior não leva à emenda, mas as lágrimas do coração sim, tocam a misericórdia do Senhor, inclinam-nos a atender-nos.
Cada profeta tem o seu cariz.
Isaías ensina: – não cruzemos os braços, não nos abandonemos à frouxidão e desânimo, não prejudiquemos o nosso vestuário exterior;
– o que interessa é a alma; quando esta abandona o corpo, que foi sua veste, possuída de contrição, de mágoa de haver ofendido a Deus, livre das peias do pecado,
– encarará, em definitivo, a riqueza da bondade d’Aquele que ela serviu, que escolheu e que a acolhe com clemência, compaixão e misericórdia.
- S. Paulo afirma-nos, hoje:
«Reconciliai-vos com Deus». Queremos ser amigos ou inimigos, queremos trabalhar espiritualmente ou ser vencidos pela preguiça, o sétimo pecado capital?
Confiar no Senhor, singularmente, é importante; convidar todas as idades, todas as profissões, todos os grupos sociais bondosos do Senhor.
Este é o ar da respiração espiritual, a concentração em Deus, uns momentos de pausa nos trabalhos físicos, o silêncio exterior que deixe existir diálogo da alma com o Senhor.
Trabalhar o campo das virtudes, no tempo, é preparar a vitória e o prémio do céu.
Cada um exerça o seu sacerdócio, batismal ou ministerial, como «embaixador» de Deus; estão reconciliados com Ele, aptos a não recebermos em vão a sua graça ficamos seguros.
- Paulo diz-nos que a nossa época é a ocasião mais oportuna para a misericórdia divina operar a nossa salvação.
Digamos uma vez mais ao Senhor que nos livre das tentações maldosas e de todo o mal.
- Importante é sabermos qual é a vontade do Senhor – Os Mandamentos.
Para o seu cumprimento praticam-se as boas obras; quando a transgredimos pecamos.
Pela repetição das obras boas adquirimos virtudes e pela repetição dos pecados aparecem os vícios.
As boas obras e os pecados são atos transitórios mas as virtudes e os vícios são hábitos permanentes.
O Evangelho de hoje apresenta-nos esses factos:
- a) A esmola, oração e jejum.
O arcanjo S. Rafael disse a Tobias: a oração com o jejum e a esmola, é melhor que amontoar porções de ouro.
São três obras, três tesouros que a ferrugem não consome nem a traça, nem os ladrões podem desenterrar e roubar (S. Mt.)
Jesus Cristo recomendou-as no Sermão da Montanha e por elas foi o centurião Cornélio levado pelo anjo.
- b) Por oração entende-se todo o ato de culto divino como recepção de sacramentos, assistência à missa, a ouvir a palavra de Deus.
Por jejum entende-se não só a abstinência de certos alimentos e a redução das refeições, mas todas a mortificação de sensualidade, da curiosidade, da loquacidade, dos deleites ilícitos.
Esmola é todo o serviço que fazemos ao próximo, especialmente as obras de misericórdia, espiritual e corporal.
Assim as obras boas são ações humanas conformes com a vontade de Deus, feitas livremente, com intenção de lhe agradar e que por Ele são recompensadas.