S. António de Lisboa, Presbítero e Doutor da Igreja

1ª Leitura

Segundo o Ben Sirá, o sábio adquire a sabedoria não apenas pelo estudo, pela tradição e pela experiência pessoal, mas sobretudo pelas súplicas e pela oração. Se o Altíssimo o quiser, o sábio ver-se-á gratuita e copiosamente cheio do dom da inteligência, de maneira que ele mesmo se possa converter em fonte de sabedoria para os outros. Isto levá-lo-á a dar graças a Deus. Graças à sabedoria recebida de Deus, o sábio saberá conduzir-se retamente e poderá aprofundar, na oração, os mistérios divinos. Ver-se-á capacitado para instruir os outros e a sua glória será a aliança do Senhor. Como recompensa do seu ministério, o sábio receberá o elogio dos seus contemporâneos, e das gerações sucessivas, incluindo os pagãos: nunca esquecerão a sua inteligência e a sua fama transmitir-se-á de geração em geração.

Evangelho

Dois provérbios, em forma de parábolas definem, no nosso texto, a missão dos discípulos de Cristo: sal e luz. Temperamos os alimentos com o sal: os discípulos hão de ser, no mundo, como o sal que dá sabor, que preserva da corrução. No mundo judaico, a metáfora do sal significava também a sabedoria. Os discípulos possuem a sabedoria do Evangelho. Se, quimicamente falando, o sal não pode perder o sabor, à força de se usado, pode deixar de salgar. Se a Palavra de Deus perdeu a sua força no antigo Israel, tem de conservá-la no novo Israel, a Igreja.
A metáfora da luz também se refere à Palavra. Jesus, que é a luz, tem a Palavra (Jo 8, 12.31s.; 14, 9-10). O mesmo se pode dizer dos discípulos de Cristo: são a luz do mundo (Fl 2, 15); são a cidade edificada sobre o monte (v. 14); têm a luz, a palavra de Deus (Mc4, 21; Lc 8, 16; 11, 33).

Ao fazer memória dos mártires e dos outros santos, a Igreja proclama o mistério pascal realizado naqueles homens e mulheres que sofreram com Cristo e com Ele foram glorificados, propondo aos fiéis os seus exemplos, que a todos atraem ao Pai por Cristo, e implora, pelos seus méritos, os benefícios de Deus (cf CIC, 1173).
S. António de Lisboa, que hoje celebramos, foi dotado de extraordinária preparação intelectual e de grandes capacidades de comunicação. Com a sua sabedoria evangélica provocou admiração, confundiu os hereges, converteu os pecadores. Com as suas virtudes e milagres, fascinou o povo. Pregador itinerante, S. António incarnou o Evangelho de Cristo, levando de cidade em cidade a sua paz, no estilo de uma vida obediente à vontade de Deus, disponível para os incómodos e canseiras da missão, e compassivo para todas as realidades humanas provados pelo sofrimento em qualquer das suas muitas formas. Atribuía tudo ao poder da oração. O testemunho de vida de S. António reflete a envolvente beleza de quem vive permanentemente em íntima comunhão com Deus, unicamente impelido pelo desejo de cumprir a sua vontade e de manifestar o seu imenso amor por todas as criaturas. S. António, humilde e pobre, e, por isso mesmo, digno filho do Pobrezinho de Assis, deixa transparecer os grandes prodígios de Deus: os milagres físicos e espirituais que o Altíssimo realiza naqueles que confiam n´Ele, apoiados numa fé quotidiana, autêntica e inabalável.
A luz e a criatividade da Palavra escutada, meditada e rezada, produzem em S. António os frutos de uma caridade incansável, paciente, sem preconceitos e tenaz diante das dificuldades. O que mais anseia é anunciar a ternura de Deus, a sua bondade e a infinita misericórdia com que nos revela o seu coração de Pai. S. António alerta-nos para o essencial, para a amizade com Deus, fonte de todo o bem, da paz e da alegria, que nada nem ninguém nos pode jamais tirar. Meditando na sua vida, descobrimos as maravilhas da fidelidade de Deus, que segue com amor o caminho de quem procura o seu rosto, tornando-o participante dos seus dons e colaborador do seu projeto de vida sobre a humanidade.

Santo António foi um apóstolo do Coração de Jesus. A Providência não quis que chegasse a Marrocos, foi lançado sobre as costas da Sicília. Vai aquecer ainda o seu coração junto do de S. Francisco de Assis. O seu talento revela-se, fazem-no professor, depois missionário. Ganha almas inumeráveis ao amor de Nosso Senhor. Foi, no séc. XIII, diz o P. Marie-Antoine, o doutor e o escritor do Coração de Jesus. Conduz sempre os seus ouvintes ao pensamento do amor, como objetivo final da vida cristã, e é no Coração do Salvador que mostra a fonte e o trono deste amor. Diz: «Sim, a ferida do lado de Jesus é um sol que ilumina todo o homem. Pela abertura do Sagrado Coração foi aberta a porta do paraíso donde nos vem toda a luz. É lá que está o asilo assegurado da arca da paz e da salvação. O Salvador abriu o seu lado e o seu Coração à pomba, isto é, à alma religiosa, a fim de que pudesse encontrar um lugar de refúgio. Sede como a pomba que estabelece o seu ninho no mais profundo da pedra. Se Jesus Cristo é a pedra, a cavidade da pedra é a chaga do lado de Jesus, que leva ao seu Coração. Havia na antiga lei dois altares, o altar de bronze ou dos holocaustos, que estava fora do santuário, e o altar de ouro do santuário mesmo. O altar de bronze da lei nova é o corpo sangrento de Cristo imolado em presença do povo; o altar de ouro é o seu Coração ardente de amor, e lá está o incenso que sobe para o céu». Os seus sucessos eram maravilhosos. Se queremos ganhar almas para Nosso Senhor, é preciso primeiro excitar-nos ao seu amor. O fervor do nosso coração comunicar-se-á facilmente àqueles que estiverem em relação connosco. (Leão Dehon, OSP 3, p. 649s.).

 

 

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