7 de outubro de 2018 – 27º Domingo do Tempo Comum Ano B

1. A santidade do matrimónio
A Liturgia da Palavra convida-nos a uma reflexão profunda sobre o sacramento do Matrimónio.
Embriagado pelos seus progressos no mundo da técnica, pelo domínio da natureza, o homem quer também dispor, segundo a medida dos seus caprichos, de algo que não lhe pertence: as exigências da lei natural. Hoje estão particularmente ameaçadas por esta ambição desorbitada as que se referem ao matrimónio.

a) Homem e mulher: igualdade de direitos e deveres. O texto do Génesis reporta-nos à formação do primeiro par humano. Deus interveio diretamente para o formar. É doutrina de fé divina e católica (cfr. Vaticano I). Aqui se afirma também claramente que os dois têm a mesma natureza humana e são, como consequência, iguais em dignidade, embora cada um possua capacidades diferentes, de harmonia com a missão a que se destina.
«Uma vez que todos os homens, dotados de alma racional e criados à imagem de Deus, têm a mesma natureza e a mesma origem, e porque, redimidos por Cristo, gozam da mesma vocação e destino divinos, deve reconhecer-se cada vez mais, a sua igualdade fundamental… Toda a forma de descriminação que atinge os direitos fundamentais da pessoa, quer se funde no sexo, na raça, na cor, na condição social, na língua ou na religião, deve ser ultrapassada e eliminada como contrária aos desígnios de Deus» (II Concílio do Vaticano, Guadium et Spes, n. 29).
O facto de o homem ser o titular da autoridade no matrimónio não prova a sua superioridade sobre a mulher. Com efeito, onde duas ou mais pessoas se reúnem de modo estável, uma delas tem de assumir a chefia. O mando não significa uma superioridade, mas o chamamento a um serviço. E Deus quis dotar especialmente o homem para esta missão de serviço dentro da família.

b) União sagrada. A união entre o marido e a mulher não se pode comparar a qualquer outra na terra. É sagrada, porque foi instituída por Deus, para tornar os dois Seus cooperadores na formação de novos seres humanos.
Nesta missão única, eles estão – falando humanamente – de mãos dadas com Deus. «Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa só carne» (Gen 2,24).
São administradores – não senhores absolutos – da capacidade de gerar e educar, e deverão um dia prestar contas a Deus da sua generosidade ou mesquinhez. Isto quer dizer, portanto, que não devem perguntar-se um ao outro quantos filhos hão-de ter, mas têm de se apresentar os dois lealmente perante o Senhor para ouvir d’Ele a resposta no mais íntimo da consciência.
Só quando o homem e a mulher se esquecem de que são criaturas de Deus e Seus cooperadores no poder maravilhoso de transmitir a vida, caem na tentação de se escudarem atrás de «direitos», de «realização pessoal», de «liberdade», para fazerem vingar o egoísmo ditador.

c) Como Sacramento, o matrimónio é sinal da união de Cristo com a Igreja. Elevando-se à dignidade de sacramento, a união do homem e da mulher no matrimónio tornou-se sinal sensível da união de Cristo com a Igreja (cfr. Ef 5, 21 e ss).

2. Serão os dois numa só carne
Os contemporâneos de Jesus sentiam-se confundidos entre o rigorismo que os «puros» sustentavam e o laxismo que se infiltrava subtilmente, por influência dos povos vizinhos. E assim, a praga do divórcio começou a aparecer como mal menor. Permitia-se o repúdio, por parte do homem, em certas condições.
Não se tratava do divórcio no sentido actual, em que se atribui aos dois, em igualdade, um falso direito a contrair novo matrimónio. A mulher era simplesmente repudiada. É a tentação de sempre: oprimir os mais fracos – neste caso, a mulher – defendendo com leis os mais fortes. Infelizmente, esta situação não chocava muito, num ambiente em que a mulher era negociada para casamento.
O cancro do divórcio que hoje volta a aparecer na nossa sociedade, embora camuflado com as palavras mentirosas de «direito a recomeçar a vida», obrigados de novo a meditar nesta verdade fundamentai: o matrimónio consumado é indissolúvel.
O Senhor formou o homem e a mulher e uniu-os em matrimónio, para que estivessem na origem de novos seres humanos. A finalidade do matrimónio são os filhos. «Por sua própria natureza, a instituição matrimonial e o amor conjugal estão ordenados para a procriação e educação da prole que constituem a sua coroa» (II Concílio do Vaticano, Gaudium et Spes, n. 48).
Uma reflexão elementar sobre a realidade do matrimónio ajuda-nos a descobrir algumas das razões da indissolubilidade.

a) Exigência dos filhos. A indissolubilidade compreende-se melhor quando se pensa no fim para o qual ele foi instituído. Esta exigência não se encontra no acasalamento dos animais porque neles apenas se desenvolve a vida animal. O crescimento normal do homem, porém, até ao seu desenvolvimento completo, exige uma família unida, estável. O clima de amor entre os pais é indispensável para um desenvolvimento psíquico sadio da criança. Mais uma vez, como não podia deixar de ser, os dados da ciência estão a bater certos com os da fé.

b) Exigência do amor. Quando o amor é verdadeiro, não pode ter fronteiras de tempo nem de generosidade. Deus quer no lar um amor autêntico.
Os contratempos e pequenos choques que possam surgir são um condicionamento normal da vida. Como são duas pessoas em crescimento que se propõem caminhar juntas ao encontro de Deus, é natural que haja desajustamentos passageiros. De resto, quando estas dificuldades, normais no crescimento da amizade, encontram a condicioná-las um vínculo indissolúvel, valorizam as pessoas; os dois acabam por superá-las e regressar um ao outro mais amigos. Pelo contrário: quando o espantalho da separação se agita constantemente, a energia perde-se e o amor estraga-se, como vinho bom em vasilha rota.

c) Divórcio ou poligamia? Sejamos sinceros, e tiremos as consequências da realidade que o cancro do divórcio nos apresenta: não será ele, afinal, uma poligamia sucessiva, em vez de ser simultânea – por enquanto! – como acontece entre diversos povos bárbaros?

Por isso, Jesus defende intrepidamente a indissolubilidade da instituição matrimonial, e continua a levantar a Sua voz divina, pelos ensinamentos do Magistério, apesar da incomodidade que a aceitação desta verdade possa comportar. «Não separe o homem o que Deus uniu» (Mc 10, 9).
E para nos ajudar a resistir à tentação de soberba, que nos leva a não aceitar as exigências da Fé que ainda não compreendemos (e quando elas contrariam as nossas paixões desordenadas, temos tanta dificuldade em compreender!), Jesus apresenta-nos como modelo da docilidade aos Seus ensinamentos uma criança: «Todo o que não receber o reino de Deus como um menino, não entrará nele» (Mc 10, 25).

3. O sofrimento, prova e condição de amor
É para Jesus crucificado que se hão-de voltar os casados nas horas mais difíceis, em que é preciso superar grandes ou pequenas divergências, humilhar-se, reconhecer os próprios erros, perdoar generosamente e recomeçar o caminho que parecia ter chegado a um beco sem saída.
O amor no matrimónio não pode ser uma procura de satisfação do próprio egoísmo, como, de resto, em qualquer outra situação. Amar é dar-se. Daí que ele reveste-se especialmente aqui de algumas características peculiares.

a) Fidelidade. Antes de procurarem ser fiéis, leais um ao outro – no sentido mais comum da palavra – têm de procurar ser fiéis a Jesus Cristo, na generosidade, no respeito sagrado pelas exigências da Lei de Deus. Quantas vezes a cruz se torna insuportável e a fidelidade e lealdade sumamente difíceis, porque os dois se puseram antes de acordo para serem desleais a Deus!

b) Espírito de serviço. Se cada um dos dois procurar amar e servir a Jesus Cristo misteriosamente presente no outro, a alegria não parará de crescer. Amar é isto mesmo: lutar contra o egoísmo.
É preciso vencer os complexos de superioridade (e a preguiça!) que levam as pessoas a sentirem-se sempre com o direito a ser servidas e nunca com o dever de servir, a pronunciar a última palavra na discussão, a dizer coisas que ofendem a sensibilidade. Jesus dá-nos o exemplo: «aquele Jesus que por um pouco foi feito inferior aos anjos, nós O vemos pela paixão e morte, coroado de honra» (Hebr 2, 9).

c) Generosidade. É preciso que a capacidade de amar não cesse de crescer. Amar é também perdoar, esquecer. Quem ama, dá-se, perde o direito de si próprio. Porque hão-de, então, os dois, estar sempre à espera de agitar títulos de dívida (em tal dia tive esta atenção para contigo e tu não correspondeste!), a tomar uma atitude permanente de desconfiança, como se tivesse sido enganado no «negócio» que «realizou» no dia do casamento?
Algum de nós terá perdoado tanto – ofensas tão graves e tão numerosas – a outro, como as que nos perdoou Jesus Cristo, a preço do Seu Sangue?
O Senhor reúne-nos para nos ensinar estas verdades e oferecer (quem sabe?) a algum dos presentes a chave da felicidade conjugal há tempos perdida. Ele bem sabe que esta caminhada de amor em crescimento constante é difícil, porque esbarra muitas vezes contra o nosso egoísmo. E, por isso, oferece-nos generosamente este Alimento Divino que é o Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, ao mesmo tempo que, com este gesto, nos ensina como nos havemos de dar aos nossos irmãos.
Deus pede-nos a todos que sejamos, neste mundo desorientado, sal, fermento e luz, ajudando a todos que andam desorientados a encontrar o verdadeiro caminho.
Maria Santíssima, presente em. Cana da Galileia, a garantir a felicidade imperturbável de dois recém-casados, intercederá junto de Jesus para que transforme a água do amor humano no vinho espirituoso de boa obras que jorra para a vida eterna.

1. A solidão. Só o homem pode comunicar. O homem tem necessidade de comunicar. O egoísmo, mesmo quando tem as aparências de amor (infidelidade conjugal, divórcio) fecha o homem numa solidão tremenda porque, fundamentalmente, o afasta de Deus.

2. Dignidade da mulher. a) A descoberta da dignidade da mulher feita por ela própria; para que não se deixe banalizar, ser tratada como uma coisa, levando-a a desviar os seus valores reais para atitudes que a diminuem (v.g. a sua capacidade para fazer andar à roda a cabeça do homem), b) A descoberta da dignidade da mulher pelo homem: reconhecer nela uma irmã com dignidade humana e, quando esposa, com igualdade de direitos e deveres. A lei entre os homens não pode ser a .mesma que entre os animais ,onde vence aquele que tem mais força física. Entre os homens prevalece o direito. Entre os cristãos prevalece o Amor.

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