6 de agosto de 2019 – Festa da Transfiguração do Senhor

Celebramos hoje a festa da Transfiguração do Senhor.

Que esta solenidade ajude à nossa própria transfiguração na realidade quotidiana da vida, a fim de nos apresentarmos perante os homens, nossos irmãos, como sinal de uma Igreja vocacionada para ser sacramento vivo do Reino de Deus, esperança da humanidade.

O domínio dos mais fortes

Daniel, no princípio do capítulo sétimo da sua Profecia (versículos 2 a 8), e cuja continuação nós hoje ouvimos ler, evoca uma dramática visão nocturna que tivera.

Nela vê saírem do mar (o mar, na Bíblia, é o símbolo da desordem e do caos) quatro enormes bestas que, conforme explica, são os reinos fortes mas tirânicos, bárbaros, sanguinários e desumanos que se sucederam no mundo e que dominaram os mais fracos, violaram os direitos dos povos e se lhes impuseram com prepotente violência.

Ao olharmos ao nosso redor e observando os acontecimentos que se têm sucedido nestes nossos dias, parece que estamos a reviver a Profecia de Daniel. Constatamos que neste mundo se sucedem novos dominadores prepotentes, violentos e ameaçadores. Tal se verifica no desejo do domínio territorial, no âmbito político, mas também em todos os contextos da vida: no campo económico e profissional, na escola, no desporto, nos (des)valores e até nas convicções religiosas que querem impor.

Então, interrogamo-nos: nunca se concluirá esta ocorrência? O mundo estará sempre sujeito incessantemente a estas forças de morte? A leitura de hoje responde que não. O reino do mal não será eterno, pois que, como refere o trecho, das nuvens do céu saiu, “alguém semelhante a um filho do homem e a quem Deus (referido como o Ancião) lhe entrega o poder, a honra e a realeza, que nunca passará, e o seu reino jamais será destruído.” Esse filho do homem é Jesus que deu início ao reino no qual os débeis e os pobres já não serão atormentados, mas servidos. Só este reino não terá fim e, apesar das contestações, crescerá sempre mais.

Como ouvimos no Evangelho, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte para orar.

A oração de Jesus e a alteração do seu rosto

Talvez nos surpreenda na leitura do Evangelho deste dia que Jesus tenha chamado apenas três dos seus discípulos para serem testemunhas da cena que se iria passar. Os três escolhidos são, precisamente, aqueles que uns dias mais tarde também vão ser testemunhas da Sua hora mais negra, no Horto da Oliveiras. É compreensível que Jesus se interrogue acerca do caminho que o Pai quer que Ele percorra. Por isso vai ao monte para rezar.

Enquanto orava, “alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente”. Este esplendor é o sinal da glória que envolve quem está unido a Deus.

Cada autêntico encontro com Deus deixa alguma marca visível no rosto do homem.

“Moisés e Elias, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém.” A luz sobre o rosto de Jesus indica que, durante a oração, Ele compreendeu e fez seu o projecto do Pai; entendeu que o seu sacrifício não se iria consumar com a derrota, mas com a ressurreição.

Mesmo depois de todas as instruções e explicações do Mestre, os três discípulos ainda não tinham compreendido o projecto de Deus. Notemos uma particularidade curiosa: quando se trata de problemas relacionados com a paixão e morte de Jesus, estes discípulos são sempre apanhados a dormir.

O sono dos discípulos e a lâmpada que brilha

Esta situação tem um significado simbólico: indica que eles não estavam a entender aquilo que estava a acontecer a Jesus. Só estavam bem acordados quando Jesus realizava prodígios ou quando as multidões o aclamavam. Quando Jesus começa a falar do dom da vida, da ocupação do último lugar, do serviço aos mais pobres, eles não querem entender, lentamente fecham os olhos e começam a dormir… assim podem continuar a sonhar com aplausos e triunfos.

Não é fácil acreditar na revelação de Jesus e aceitar a sua proposta de vida. Confiar n’Ele é muito arriscado porque embora sendo verdade que Ele promete uma glória futura, apenas experimentam aqui e agora a renúncia, o dom gratuito de si.

Com esta transfiguração de Jesus uma nova luz brilhou dentro das suas mentes e começam a apreender por antecipação o mistério pascal que só pela experiência do Ressuscitado lhes é dado perceber completamente. É esse instante que Pedro recorda uns anos mais tarde, quando testemunha comovido, como ouvimos na segunda leitura: «Não foi por fábulas ilusórias […] mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. Porque Ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da grande glória divina, Lhe foi dirigida esta voz: “Este é o Meu Filho muito amado, em quem pus toda a minha complacência».

Na espera da aurora os nossos rostos, os nossos passos, as nossas acções são guiadas por uma “lâmpada que brilha em lugar escuro”: a palavra de Deus que se encontra nas Sagradas Escrituras.

Para nós, hoje, a transfiguração de Jesus conserva o mesmo significado que tinha para os primeiros cristãos: é anúncio da manifestação última do Senhor que, como “estrela da manhã” um dia brilhará nos nossos corações.

Hoje, saindo das nossas igrejas, podemos anunciar a todos aquilo que a fé nos levou a descobrir: quem dá a própria vida por amor entra na glória de Deus.

Que sejam estas, algumas das muitas lições que poderemos tirar da celebração desta festividade e que as saibamos pôr em prática quotidianamente.

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