24 de novembro de 2019 – Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

1. Jesus Cristo, Rei de Paz

a) Reino de liberdade. «Naqueles dias, todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe: “Nós somos dos teus ossos e da tua carne.”»
Quando sobe ao trono, David tem de se encarar com muitos adeptos da família de Saul que não o quiseram aceitar como seu rei.
David não pegou em armas para os obrigar a aceitar a sua autoridade, mas esperou que eles o fizessem passados alguns anos, como liberdade plena.
Deus não força ninguém a pertencer à Sua Igreja e a ir para o Céu. Aposta na nossa liberdade porque, sem ela, não há merecimento. Que prémio poderíamos merecer por uma acção que nos obrigaram a fazer contra a nossa vontade?
Mas a verdadeira liberdade só a possuímos quando nos libertamos de todas as amarras exteriores e interiores para amar a Deus sobre todas as coisas. Não há ninguém mais livre do que o santo e o mártir.
O pecado é a pior das escravidões, porque nos torna prisioneiros do demónio, que é o maior tirano de todos os tempos e nos odeia, não apenas do corpo — como no caso de possessão — mas também da alma.
Quando não defendemos a nossa liberdade, cumprindo os dez Mandamentos, caímos na escravidão das nossas paixões: da sensualidade, da barriga, do dinheiro e da soberba que nos leva a prestar culto ao nosso eu.
Viver no Reino de Cristo é ser livre e feliz.
A liberdade é a capacidade de escolher entre várias coisas. Como seres inteligentes, entre várias opções, devemos escolher a melhor, para agora e para o futuro, para o tempo e para a eternidade. Digamos ao Senhor que Lhe queremos pertencer inteiramente, com plena liberdade.
À medida que nos entregamos à vontade de Deus, a nossa liberdade interior vai aumentando cada vez mais.
O martírio em qualquer das suas formas, a perseguição por amor do reino de Cristo é a maior afirmação de liberdade.
Renovemos hoje com plena liberdade a nossa Aliança Baptismal que nos fez entrar no Reino de Jesus Cristo.

b) Reino dos filhos de Deus. «E o Senhor disse-te: “Tu apascentarás o meu povo de Israel, tu serás rei de Israel”». Todos os anciãos de Israel foram à presença do rei, a Hebron.»
Os anciãos de Israel reconheceram que David era da sua raça e família e, por isso, aceitaram-no como Rei.
Também nós podemos dizer a Jesus Cristo: “Tu és da nossa família humana.”
Na verdade, para pagar por nós, a dívida contraída por Adão e Eva no pecado original e por nós com os pecados que cometemos, Ele assumiu a nossa condição humana, em tudo menos nas inclinações pecaminosas que todos sentimos.
«Ele nos libertou do poder das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados.» (2.ª Leitura).
Mas, ao mesmo tempo que desceu até à nossa pequenez, elevou-nos às alturas de filhos de Deus.
Jesus Cristo fez-Se irmão de todos nós, pelo mistério da Incarnação, para nos elevar à Sua altura e saldar a dívida contraída por Adão e Eva com o pecado original e pelos nossos pecados pessoais.
Não somos filhos naturais de Deus, deuses, mas também não somos apenas filhos adoptivos.
A filiação adoptiva é uma grande expressão de amor para quem a faz e a colhe, mas não passa de uma ficção de direito, um “faz-de-conta”.
Os pais adoptivos não podem fazer correr nas veias dos filhos adoptados o próprio sangue. Mas nós, pela graça santificante, temos em nós a vida divina. Fomos elevados por Deus a uma altura infinita de filhos de Deus.
S. Pedro diz que, pela graça santificante, somos «participantes da natureza divina.»
Esta filiação dá-nos audácia para tratarmos a Deus por nosso Pai e sonharmos com a felicidade eterna que nos espera no Céu, a nossa casa para sempre.

2. Reinado de Amor

a) Amor infinito. «Naquele tempo, os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: “Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito”.»
Na Paixão de Jesus, Maria, João Evangelista, Nicodemos e José de Arimateia, com as santas mulheres, choravam em silêncio por causa dos sofrimentos de Jesus e pela injustiça clamorosa da Sua condenação. Eram as únicas vozes discordantes, mas nada podiam fazer para O libertar.
Todas as outras pessoas que ali se encontram, umas por inveja e odeiam o Divino Mestre, outras, por cobardia, escarnecem de Jesus e insultam-n’O.
No entanto, Ele está ali coberto de chagas e de sangue, com as mãos e os pés trespassados, porque nos amou e resolveu dar a vida para nos salvar.
Dar dinheiro, prestar algum serviço, mesmo sacrificado, ainda acontece. Dar a vida, ser crucificado por Amor, só Jesus Cristo é capaz de o fazer.
Ele podia, e facto, salvar-Se a Si mesmo, porque tem o poder infinito de Deus, mas ofereceu-Se por nós, porque nos ama com Amor infinito.
O Reinado de Jesus Cristo é de Amor infinito com que Ele nos ama e espera pacientemente que Lhe correspondamos com o nosso.
Também nós podemos dizer que a nossa vocação é o amor, na medida em que a santidade consiste apenas nisto: fazer tudo por amor.
Podemos alcançar este ideal se procurarmos fazer sempre e em tudo a vontade do Pai. Para mais, isto não nos impede de sermos já felizes na terra, porque os Mandamentos da Lei de Deus são o caminho da felicidade.
Tudo na vida nos fala este amor divino, embora o não vejamos.

Check Also

Nota Pastoral na comemoração dos cinquenta anos do “25 de Abril”

1. Na comemoração do cinquentenário da Revolução de 25 de Abril de 1974 cabe aos …

Sahifa Theme License is not validated, Go to the theme options page to validate the license, You need a single license for each domain name.